Além das limitações devido ao isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, a ansiedade e o medo que as pessoas sentem ao testar positivo para a doença pode ser um fator a mais de preocupação para a família, amigos e até para os médicos. Apesar das ferramentas de enfrentamento emocional que todos dispõem diante de situações difíceis, há quem evolua para um quadro de estresse emocional, que tem repercussões em todo o corpo, como possível comprometimento da imunidade e outros desequilíbrios hormonais.
Segundo a professora do curso de Psicologia da universidade Pitágoras Unopar, Liziane Leite, a saúde mental da população tem sido afetada pelo medo, pela angústia, pelo isolamento, pela divergência de informações e pela ansiedade de não saber como a doença se desenvolverá.
Por mais que as pessoas tentem, a especialista diz que é inevitável sentir raiva, medo, se entristecer e perder as esperanças, porque são condições emocionais esperadas diante do luto e de tantas notícias ruins e casos de mortes. Ela afirma que é fundamental diferenciar reações emocionais esperadas das que podem indicar um comprometimento mais grave que necessite de acompanhamento profissional.
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Entre os sintomas de alerta estão: dificuldade para dormir que não passa, mesmo com a superação da doença, tristeza, sensação de falta de ar, tremores, cansaço, coração acelerado, suor excessivo, mãos frias e suadas, boca seca, tontura e até náuseas, que comprometam a qualidade de vida e as funções da pessoa no dia a dia.
Segundo uma pesquisa recente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), os casos de ansiedade e estresse neste período de quarentena tiveram um aumento de 80%. Outro levantamento feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e Unicamp, chegou a conclusões semelhantes. Foram entrevistadas cerca de 45 mil pessoas. Grande parte desse grupo, 40%, disse ter sentido tristeza ou depressão, e 54% se declararam ansiosos/nervosos com frequência.
A professora explica que uma das causas da ansiedade pode vir da perda do corpo saudável e das dúvidas sobre quando o recuperará e se o recuperará da mesma forma que antes. Liziane lembra que a Covid-19 trouxe um novo desafio que é o adoecer de forma solitária.
"Com o isolamento social que é imprescindível para quem positivou para doença, o sofrimento psíquico acaba vindo, pois o paciente fica exposto aos piores pensamentos, que são agravados pela solidão e a preocupação de contaminar outros membros da família.”, comenta a especialista.
Além disso, uma das únicas distrações durante o período de isolamento, em geral 14 dias, é a televisão, em que a maioria das notícias é ruim. A angústia de ter ou não vacina suficiente para todos também se soma aos itens de preocupação, afinal ser infectado em um momento em que já há vacina costuma deixar as pessoas apreensivas.
A psicóloga explica que a ansiedade é um transtorno misto com sintomas físicos e emocionais produzidos também pela presença excessiva e invasiva de pensamentos negativos quanto ao futuro, que causa o medo e faz as pessoas sofrerem por antecipação. Para amenizar, ela sugere valorizar e viver o presente, deixar de pensar demais no futuro, no que irá ou não acontecer.
"É difícil amenizar estes sentimentos, mas podemos fazer algumas coisas como seguir a orientação médica e focar nas questões positivas, coisas simples do dia a dia mesmo e não ter qualquer medo de pedir ajuda. Ao perceber que o tempo passou e não conseguiu se sentir bem, talvez seja o momento de uma avaliação profissional”, diz.
Liziane ressalta que é importante manter uma rotina saudável, com hábitos de higiene pessoal, prática de exercícios físicos e alimentação regrada, mas se ainda assim houver crises de ansiedade como dificuldade para dormir, trabalhar e/ou estudar vale procurar ajuda especializada, mesmo à distância. Ela explica que com a pandemia os conselhos autorizaram terapia de forma remota e o efeito é o mesmo. "É fundamental buscar ajuda de um profissional se os sintomas se intensificarem”, finaliza.
Dicas para amenizar o medo e a preocupação excessiva
- Aproveitar o tempo para desenvolver novas habilidades, novos hobbies
- Evite excesso de redes sociais e noticiários
- Levante, tome banho, se arrume, tente dormir e acordar no mesmo horário, a rotina contribui para a sensação de autocontrole
- Diminua consumo de bebidas alcóolicas e cafeína (café, refrigerantes de cola), especialmente após às 17 horas
- Coma alimentos saudáveis
- Crie ocasiões divertidas com as pessoas que moram com você, procurem falar de outros assuntos além da doença; falar sobre os planos para quando tudo isso passar
- Pensamentos ruins podem ser aliviados com a percepção da realidade: que você continua sendo um indivíduo com aspectos saudáveis, que você não é sua doença.
- Esforço diário para adaptar sua vida à nova realidade, valorizando as conquistas e não somente as perdas.