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Governo deveria restringir viagens de férias, diz presidente da Sociedade Paulista de Infectologia

Patrícia Pasquini - Folhapress
03 dez 2020 às 09:27
- iStock
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Enquanto o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nega que o país viva uma segunda onda da epidemia de Covid-19 e diz que há apenas um repique localizado, no Rio Grande do Sul a temida expressão já é usada pelo governador. Em São Paulo, a decisão quanto à flexibilização das normas contra o coronavírus será decidida na segunda, após a eleição municipal, e conselheiros do governador João Doria (PSDB) falam em endurecer a quarentena já.


"Aqui em São Paulo nós não estamos em segunda onda porque não descemos da primeira", diz o médico Eduardo Medeiros. Presidente da Sociedade Paulista de Infectologista, ele vê com preocupação a proximidade do fim de ano. Para ele, é necessário que o governo estude restrições às viagens, com olhar especial para o litoral. Mesmo festas, diz ele, deveriam ser restritas aos habitantes de uma mesma casa.

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Ele vai além. Não o inquietam somente os festejos mas também a abertura do comércio, restaurantes e bares. Na sua opinião, a circulação de pessoas e a frequência desses lugares deve voltar a ser limitada, evitando o horário noturno, hoje permitido.

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No estado de São Paulo registraram-se até a última sexta (27) 41.902 mortes e 1.233.587 casos confirmados do novo coronavírus. Na fase verde do plano de flexibilização, na qual se encontram 76% dos municípios paulistas, bares, restaurantes e similares devem fechar às 22h, mas os clientes podem permanecer nos locais até uma hora mais.

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Nos últimos 15 dias, temos observado um aumento no número de casos de infecção pelo novo coronavírus, o que fica muito claro nas taxas de ocupação de leitos de UTI e de enfermaria. Está ocorrendo no Brasil como um todo, mas particularmente em São Paulo, na capital, região metropolitana, todo o ABC e Baixada Santista.


Não há dúvida de que o momento é de restringir novamente algumas medidas anunciadas em 10 de outubro, quando São Paulo entrou na fase verde [do Plano SP para a quarentena, a penúltima antes da liberação]. Agora é o momento de recuar, aumentando o distanciamento social, restringindo a circulação de pessoas, diminuindo o horário de funcionamento de bares e restaurantes. A cidade voltou praticamente ao seu normal, como estávamos em novembro do ano passado.

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Quais medidas deveriam ser adotadas pelo governo de São Paulo?


A situação da economia é muito complicada e devemos pensar na sociedade como um todo. Vale a pena agir em alguns locais-chave. Nos bares e restaurantes, restringir a abertura noturna. À noite, as pessoas bebem mais e usam menos máscara, tendem a se aglomerar e isso facilita a transmissão. Encerrar as atividades às 20h trará impacto, mas diminuirá a transmissão do vírus.

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Nós fechamos escolas e causou prejuízo enorme na formação [dos alunos], mas ao mesmo tempo abrimos bares e restaurantes. Precisamos encontrar um meio-termo para que as medidas não tenham impacto significativo na área econômica e garantam a segurança.


Limitar o horário do comércio também?

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Certamente. Não digo que todo comércio deva ser fechado, mas é necessário controlar a entrada das pessoas. É difícil estabelecer isso, porque depende dos ambientes. A ideia que temos que passar é a de reorganizar os nossos ambientes com medidas de segurança. Aquelas lojas da [rua] 25 de Março, sem ventilação alguma, com os corredores estreitos, dezenas e até centenas lá dentro, aquilo é um horror. Estes locais facilitam muito a transmissão.


Qual outra medida seria importante além das citadas?

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Uma grande campanha de esclarecimento da população sobre o atual cenário epidemiológico da Covid-19. Encontro com familiares e amigos em festas de final de ano não dá para acontecer no atual cenário. As famílias devem permanecer com aqueles que moram na mesma residência e evitar trazer pessoas de fora para dentro de casa, mesmo que sejam parentes.


O segundo ponto é a utilização de máscaras e o distanciamento social. A gente vê claramente que houve um relaxamento na adesão. Em março e abril, existia um medo generalizado na sociedade e isso foi positivo para a aderência das medidas. Outra medida é estimular a higiene das mãos, disponibilizando locais para isso e álcool em gel nos estabelecimentos.

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O sr. vê a necessidade de uma medida especial em relação a viagens nas férias de final de ano?


Certamente. Restrição de viagens e campanhas educacionais. Esses locais turísticos recebem um grande número de pessoas subitamente, o que não é adequado.


As famílias precisam se conscientizar de que não é o momento de viajar. Esse final de ano é o momento de evitar viagens e ficar em casa. É necessário ao governo sentar com as companhias aéreas e outros setores de transporte para ver formas de restringir essas viagens. Nos aviões, por exemplo, diminuir o número de voos, melhorar a segurança, distanciamento entre as cadeiras.


E para os municípios paulistas, como os do litoral, por exemplo, que recebem grande quantidade de turistas?


Você tem que evitar aglomeração, o que é difícil numa praia. Como você restringe quem entra e sai de uma praia? É quase impossível. Então, tem que diminuir o fluxo de veículos para esses locais fazendo um controle. Não é fácil. Seria muito leviano se defendesse isso como se fosse habitual.


Dos veículos que descem para o litoral?


Um controle do número de veículos e de pessoas que vão a esses locais. Gostaria que ficasse claro que são medidas muito difíceis. Em municípios turísticos menores, que recebem grande quantidade de pessoas, vira um problema de saúde pública, porque não há estrutura médica e hospitalar.


Neste momento, a testagem em massa faria diferença para conter a pandemia?


Órgãos de saúde pública e governos devem ter um papel maior na identificação rápida de infectados pelo novo coronavírus. É necessária a ampliação do diagnóstico, fazer rastreamento de contatos e isolá-los. Estamos chegando a nove, dez meses de pandemia com impacto importante no Brasil.


Até agora não conseguimos acertar a questão dos testes e nem ter maior disponibilidade de testes para diagnóstico precoce. Os resultados são demorados, inclusive em hospitais.


O aumento nas infecções pelo novo coronavírus trará impacto relevante aos hospitais públicos e privados?


A partir de setembro e outubro houve estabilização e depois queda de casos de Covid em São Paulo. Com isso, muitos hospitais desmobilizaram leitos específicos para Covid, porque existia uma demanda reprimida de pacientes com outras comorbidades que precisavam de atendimento.


O resultado é que as doenças se agravaram e consequentemente, a partir de outubro, houve uma procura grande nos hospitais. O cenário de novembro junta alta procura de internações de pacientes que precisam de atendimento médico e os que necessitam de leitos de Covid.


Há também o impacto econômico. Muitas empresas tiveram campanhas de doação e auxiliaram os hospitais em meados de julho, mas agora há um desgaste dessa situação. As doações caíram a quase zero, o governo, nas três esferas, tem pouco dinheiro para a recuperação dos leitos, e os profissionais estão extremamente cansados.


O resultado é um problema sério, porque os hospitais não estão preparados para esse ressurgimento da Covid. Eu me preocupo muito com como nós responderemos a isso em São Paulo. O final do ano é um período mais difícil na sustentabilidade dos hospitais.


Podemos colapsar?


Em São Paulo, não. Temos um sistema de saúde robusto com grande capacidade de atendimento. Vamos sofrer, mas não acredito em colapso.


Foi um erro do governo paulista relaxar a quarentena e desmontar a estrutura para Covid-19?


Acho que foi imprevisível. Nós não esperávamos esse novo crescimento da pandemia. Nenhum país esperava; a Europa não esperava a segunda onda. Aqui em São Paulo nós não estamos em segunda onda porque não descemos da primeira. O que nós temos é um aumento de casos e, agora, conhecendo melhor a situação, precisamos prever situações parecidas.


Até que tenhamos uma vacina eficiente com cobertura para uma parte significativa da população, passaremos por pequenas ondas. Vamos conviver com isso até o primeiro semestre de 2021.


O sr. acredita que haverá segurança para a volta às aulas presenciais em 2021?


O prejuízo de um aluno fora da escola é enorme. Nós teremos um contingente de alunos mal preparados em todos os cursos, não só crianças, mas adolescentes e nos cursos profissionais.


O retorno presencial precisa ser muito bem avaliado dentro do cenário epidemiológico. É fundamental preparar os ambientes com segurança -investir nas escolas para que haja pias adequadas, banheiros reformados, álcool em gel, máscaras adequadas.


Esse retorno tem que ser progressivo, avaliando todas as questões, como o distanciamento social, uso de máscara ao público indicado, práticas de higiene nas mesas antes e após o início da atividade, orientação para evitar aglomeração, além de orientar e envolver os pais na atividade.

Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros, 61 Infectologista, formado pela Faculdade de Medicina do ABC, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo (Unifesp); pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico com linha de pesquisa em infecções hospitalares, resistência microbiana aos antibióticos e Covid-19


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