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Jovens 'nem-nem' são negras, chefes de família e sem instrução

18 mai 2021 às 17:12

A falta de estudo e de trabalho que acomete jovens é maior entre mulheres, negros, chefes de família e pessoas sem instrução, segundo estudo publicado nesta segunda (17) pelo centro de políticas sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social).


A pandemia de coronavírus fez crescer no país a proporção daqueles que não estudam nem trabalham, os chamados "nem-nem". Conforme o levantamento, 25,52% dos jovens com idades entre 15 e 29 anos estavam afastados do mercado de trabalho e dos estudos no quarto trimestre de 2020. Ao final de 2019, a porcentagem era de 23,66%.


Ao longo do ano passado, no segundo trimestre, o percentual chegou a ser ainda maior, de 29,33%, recorde da série histórica iniciada em 2012.


O recorte por gênero mostra que a taxa entre as mulheres foi superior à média geral. No quarto trimestre de 2020, 31,29% das jovens na faixa 15 a 29 anos eram consideradas "nem-nem". Entre os homens, a taxa atingiu 19,77%.


"O risco de ser jovem 'nem-nem' afeta desproporcionalmente as mulheres, desigualmente responsabilizadas por trabalhos domésticos, especialmente em domicílios com crianças", aponta o estudo.


Pretos (29,09%) e pardos (28,41%) também registraram percentual acima da média ao final de 2020. Entre os brancos, a porcentagem foi de 21,26%.


Quando a variável é o nível escolar, o grupo com maior proporção de "nem-nem" é aquele sem instrução: 66,81%.


"O dado chama a atenção porque há uma armadilha de pobreza educacional. O jovem que estava fora do sistema de educação não conseguiu entrar. Essa dificuldade inibe o sucesso no mercado de trabalho", avalia o diretor da FGV Social, Marcelo Neri, economista responsável pela pesquisa.


A ausência de estudos e ocupação profissional também foi maior entre os jovens chefes de família (27,39%). Entre os filhos, o percentual ficou abaixo da média geral (22,73%).


"Existe um conjunto de jovens à margem do que a sociedade deveria fazer, que é estudar ou trabalhar", indica Neri.


Para o pesquisador, a pandemia pode gerar uma espécie de "efeito-cicatriz". Ou seja, a crise sanitária e econômica ameaça afetar o desenvolvimento e a ascensão social dos jovens.


"A juventude é uma fase para a ascensão trabalhista. Ter uma crise neste momento pode gerar consequências graves", afirma. "É preciso pensar em ações de inclusão digital para os jovens. São medidas factíveis."


No recorte por regiões, o Nordeste tem o maior percentual de "nem-nem": 32%. A porcentagem também é mais elevada entre aqueles que vivem nas periferias das metrópoles brasileiras (27,41%).


O estudo do FGV Social frisa que a pandemia causou fortes impactos no mercado de trabalho. O percentual de desocupação na faixa de 15 a 29 anos subiu de 49,37% em 2019 para 56,34% em 2020.


Por outro lado, a pesquisa sinaliza queda na taxa de evasão escolar, resultado considerado surpreendente por Neri. O indicador atingiu o nível mais baixo da série no quarto trimestre de 2020: 57,95%.


Em igual período de 2019, estava em 62,2%.


No entanto, o estudo pondera que a "combinação entre falta de oportunidades de inserção trabalhista e menor cobrança escolar (presença e aprovação automáticas)" pode explicar o recuo na evasão. O levantamento usa microdados da pesquisa Pnad Contínua, do IBGE.

O Ministério da Economia cogita a criação de um programa focado na inserção dos chamados "nem-nem" no mercado de trabalho, mas ainda não foram apresentados detalhes. A ideia é compartilhar com o empregador o custo dos salários, de até R$ 600.


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