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Nos EUA e no Brasil

Mulheres tomaram mais vacinas contra o novo coronavírus do que homens

Rafael Balago - Folhapress
03 jul 2021 às 15:51
- iStock
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Em países das Américas, como EUA, Brasil e Argentina, as mulheres estão se vacinando mais contra o novo coronavírus. Por outro lado, em algumas partes da África e na Índia, a situação é inversa: mais homens têm sido imunizados.


O papel de cada um nas diferentes sociedades e a valorização de uma figura masculina tradicional em algumas nações ajudam a explicar essas diferenças, que podem atrasar a imunização geral e o fim da pandemia. Os dados de imunização por gênero foram compilados pelo projeto The Covid-19 Sex-Disaggregated Data Tracker, organizado pela iniciativa Global Health 50/50, que tem base no Reino Unido e busca a igualdade na saúde, em parceria com outras duas ONGs (Organização Não-Governamental).

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A iniciativa buscou números em 198 países, mas apenas 39 deles detalham a aplicação de vacinas por gênero. De modo geral, a população das nações quase sempre se divide em 50% de homens e 50% de mulheres. Assim, as mulheres estão se imunizando mais nos EUA (elas tomaram 53% das doses já aplicadas), no Brasil (58,5%), na França (53,8%) e na Nova Zelândia (60,6%).

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Para especialistas de saúde pública no Brasil, essa disparidade não é novidade, pois as mulheres tendem a cuidar mais da saúde. "Esse comportamento tem relação com o acesso das mulheres à educação em cada país e a forma como a sociedade as valoriza", avalia Eliseu Waldman, professor do Departamento de Infectologia da USP (Universidade de São Paulo). Em lugares como Gabão e Índia, onde há poucas doses e as mulheres têm menos espaço na sociedade, os homens passaram na frente.

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"Elas buscam muito mais informações sobre prevenção. Há uma cultura de que elas são as gestoras de saúde da família, pois cuidam das crianças, dos avós e dos maridos. Pode parecer machista, mas é uma evidência", diz Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunização).


Outra razão para a maior taxa de vacinação é que elas geralmente vivem mais. Nos EUA, a expectativa de vida das mulheres é de 81,2 anos, contra 76,2 dos homens. No Brasil, essa cifra é de 80,1 anos para elas, e de 73,1 para eles. E, nos dois países e em boa parte do Ocidente, os mais velhos foram imunizados antes.

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Nos EUA, porém, a imunização está liberada para todos os maiores de 16 anos desde abril, e ainda assim a diferença é grande. No país, cerca de 8 milhões de mulheres se vacinaram a mais do que os homens.


A resistência masculina ajuda a explicar a redução no ritmo da campanha de vacinação americana. Apesar da abundância de doses, o país imunizou por completo, até agora, 46,4% de sua população.

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Especialistas apontam que o conceito de masculinidade tradicional pode explicar a menor procura deles pela proteção. Homens são mais propensos a questionar indicações de especialistas e a rejeitar medidas de prevenção, como o uso de protetor solar. Ou seja, preferem decidir por si mesmos quais ações tomar.


Estas tendências se repetiram na pandemia: levantamentos feitos nos EUA revelam que os homens estavam menos propensos do que as mulheres a usar máscaras e álcool em gel e a respeitar o distanciamento social. Alguns consideram que seguir essas regras pode passar um sinal de fraqueza.

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"A conformidade com as normas masculinas tradicionais está relacionada às atitudes negativas sobre o uso de máscaras", aponta um dos estudos, publicado no Journal of Health Psychology e produzido por James Mahalik, Michael Di Bianca e Michael Harris, que entrevistaram cerca de 600 pessoas em agosto.


Há também um fator político. Nos EUA, movimentos conservadores ligados ao Partido Republicano atraem seguidores que admiram o modelo do homem destemido e autossuficiente. E essa legenda politizou a pandemia: sua principal figura, Donald Trump, recusa-se a usar máscaras e fez eventos com aglomerações em 2020, quando ainda era presidente dos EUA. Sua mensagem, de que não era preciso temer o vírus e de que era válido ignorar a ciência, encontrava eco em homens que gostam de se afirmar.

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"Muitas vezes, o discurso da extrema direita é contra atitudes saudáveis, como se imunizar, usar cinto de segurança e controlar a velocidade nas estradas", comenta Waldman, da USP.


No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro age de forma semelhante a Trump e segue promovendo aglomerações e desprezando as máscaras, enquanto busca se associar a símbolos de virilidade, como sair de moto ou cavalgar. Pesquisa Datafolha feita em março apontou maior resistência entre homens: 82% deles disseram ter planos de tomar a vacina. Entre mulheres, a intenção chegava a 86%.

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No país, as mulheres tomaram 57,4% das doses, e os homens, 42,6%. Há maior igualdade na distribuição em estados do Norte, como Roraima e Amazonas, onde elas receberam cerca de 53% dos imunizantes aplicados, segundo dados do Ministério da Saúde referentes à primeira dose. No sudeste, a discrepância é maior: no Rio de Janeiro e em São Paulo, elas tomaram quase 60% das vacinas.


Nos últimos meses, a diferença vem caindo. Em janeiro, as brasileiras tomaram quase 7 de cada 10 doses de vacina contra a Covid-19 aplicadas. Em junho, elas receberam 5,7 de cada 10.


Os especialistas apontam que uma saída para aumentar a participação masculina é mudar a forma como as campanhas são feitas. "A comunicação costuma ser muito voltada para mulheres e crianças, e o homem não se vê ali. Precisamos incluir a figura masculina", aponta Ballalai, da SBIm.

Símbolo da vacinação brasileira, o Zé Gotinha segue a lógica do apelo infantil. Para a campanha contra a Covid, foi criada uma família completa para o personagem. De modo paralelo, em março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou uma imagem que mostrava o mascote empunhando um fuzil com formato de seringa. Muito criticado à época, o desenho não foi mais divulgado. Embora alguns vejam a recusa de vacinas como prova de valentia, o gesto pode ser sinal de medo, diz Ballalai. "Quem trabalha com imunização brinca que o homem é o que mais tem medo de injeção. Já vi muitos desmaiarem."


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