Um dos grandes desafios de pais é estimular os filhos desde bebês, para que tenham um desenvolvimento dentro da curva esperada para cada faixa etária. Muitas vezes os responsáveis se sentem perdidos sobre como começar o processo. E para as famílias com crianças atípicas, esse pode ser um processo mais complicado. Será?
A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, conta que é possível fazer um calendário para estimular as crianças em casa todos os dias, organizando as atividades e dividindo as tarefas.
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“As pessoas costumam perguntar o porquê de fazer um calendário de estimulação, qual é a sua importância. Quantos pais já pararam para brincar com seus filhos e, na hora de começar, não sabiam o que ou como fazer para estimulá-los? Às vezes, os responsáveis começam, por exemplo, a montar torres e blocos, porque sabidamente é bom para o desenvolvimento. Mas como, de fato, fazer a brincadeira ser divertida e, ao mesmo tempo, ajudar no desenvolvimento daquela criança? Por isso o calendário é importante. Para organizar, ensinar e mostrar como cada brincadeira deve ser aplicada”, pontua Bárbara.
E continua: “é claro que os pais podem fazer brincadeiras livres, sem se preocupar o tempo todo em estimular os filhos. Mas por que não fazer os dois de forma planejada? A gente tem que fazer estimulação em todas as oportunidades do nosso dia. E por que fazer o calendário? Porque quando a gente faz o planejamento, programa algo, pega uma folha e escreve o que a gente vai fazer, isso facilita a nossa vida, organiza de modo que a gente não fique perdido no dia a dia sobre o que vai fazer para estimular a criança”.
A seguir, Bárbara ensina alguns passos de como montar esse calendário de estimulação.
1. Anote quais são os comportamentos alvo que você vai trabalhar com seu filho naquele dia
Seu filho precisa desenvolver o quê? Ele precisa ter o contato visual mais consistente, responder quando chamado pelo nome, variar nas brincadeiras, emitir mandos e fazer as solicitações de itens, brincar fazendo troca de turno, esperar, aprender a sentar e fazer atividades mais cognitivas que exijam um nível de atenção maior. Então, a primeira coisa a fazer é elencar quais os comportamentos alvo que ele precisa desenvolver e quais vai trabalhar.
Se você não souber exatamente o que ele precisa desenvolver, é importante conversar com as terapeutas dele e acompanhar as terapias. Pegue o plano terapêutico e entenda o que a terapia está trabalhando com ele. Mais a comunicação espontânea? A socialização? A parte cognitiva? O brincar? Precisa trabalhar tudo porque está com atraso na base ainda? Então, tudo isso poderá ser entendido com as terapeutas para que você direcione o calendário para trabalhar essas necessidades.
2. Liste quais as brincadeiras e brinquedos que ele mais gosta
Torre com blocos? Animais? Gosta de brincar de comidinha? Montar quebra cabeça? Bolha de sabão? Massa de modelar? Música? Esconde-esconde? Anote absolutamente tudo que chame a sua atenção, especialmente o que ele fica mais tempo. Dessa forma, você vai pegar o que é motivador para ele e ponto de interesse e começar a fazer a estimulação. Temos no nosso Instagram vídeos, inclusive, que ensinam como estimular por meio desses brinquedos e brincadeiras.
3. Una essas informações
Você vai pegar uma folha e dividir as atividades. Anote os dias da semana (de segunda a domingo). Afinal, atividades prazerosas e lúdicas podem ser feitas todos os dias e seu filho vai gostar. Pode ser na hora do banho, da comida, no parquinho, assistindo a um filme etc. A estimulação de crianças com atraso de desenvolvimento deve acontecer todos os dias e em todos os momentos.
Eu sempre peço para as famílias começarem com dois blocos de estimulação por dia e depois vão aumentando; e que cada bloco tenha de 4 a 5 atividade com duração de 10 a 15 minutos de estimulação.
Caso a criança, de uma hora para a outra, comece a perder o interesse em atividades que antes eram prazerosas, tenha em mente que não está mais sendo motivador por algum motivo. Pode ser por estar muito difícil ou fácil, ou até mesmo pela criança ter mudado o centro de interesse. Nós mudamos nossa atenção o tempo todo, certo? As crianças também.
Além disso, durante as atividades, faça pequenas paradas para perceber se ele solicita de alguma forma, seja pelo olhar ou falando, para voltar a brincadeira. Tudo tem que ser muito prazeroso para a criança ficar engajada.
É interessante também anotar como a criança reage a cada brincadeira e se está correspondendo ou não. Temos também um vídeo que mostra como chamar e manter a atenção das crianças durante essas atividades.
Vale lembrar que essas atividades são sem celular, sem tablet. É contato mesmo. A criança tem que perceber que você é um parceiro.
4. Pense nas atividades para estimular
Para começar, faça dois blocos de atividades na folha, uma para a manhã e outro para a tarde (pode ser também à tarde e à noite). Se você for trabalhar o contato visual (ou qualquer outro comportamento alvo), pense nas brincadeiras que ele gosta e que tenham contato visual e coloque no primeiro bloco.
Por exemplo: se ele gostar de bolha de sabão, você vai colocar em um dos blocos 4 ou 5 atividades ligadas a esse tema e observar quanto sua criança rende. Se ele gostar atividades como imitação (há vídeos sobre o assunto e como fazer no canal também), podem ser feitas imitações corporais e de objetivos. Se ele gosta de música, por exemplo, você pode cantar e ‘interpretar’ a música com ele, fazer movimentos bem marcados para ele fazer também, fazendo a criança se engajar. Boas ideias de músicas são ‘Marcha soldado’, ‘Palma, palma, palma’, ‘A roda do ônibus', ‘Seu Lobato’ (que inclusive as crianças amam fazer os barulhos dos bichinhos) etc.
Outra ideia são atividades de troca de turno, como de causa e efeito. Algumas ideias são latinhas que têm tampinhas com velcro e colocamos e retiramos, ou colocar uma bolinha em um local alto e reparar como ela cai.
Nessa fase de alternância de turno, é importante fazê-lo também esperar a sua vez. Alterne com a criança, uma hora ela brinca e na outra você. Com o tempo, outras pessoas podem entrar na brincadeira. Se em um primeiro momento eram apenas criança e mãe, depois o pai entra, os irmãos, avós etc. Assim, ela vai aprender a esperar um pouco mais e isso é ótimo. Esses são apenas alguns exemplos de atividades dentro de alguns comportamentos alvo.
As atividades e objetos podem ser repetidos? Sim, mas, de tempos em tempos, faça alguma mudança, seja no que será ofertado como brincadeira e até mesmo em relação a horários. Isso é fundamental para que a criança não crie padrões rígidos. Inclusive, é importante lembrar que um mesmo brinquedo muitas vezes pode ser usado para trabalhar mais de um comportamento.
Dica extra: Um detalhe que pode ajudar muito é focar sempre no comportamento da criança para que você possa estimulá-la no comportamento alvo de forma certeira, com as atividades que mais gosta. Por isso, anote também quais as atividades foram passadas e quais a criança interagiu.