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Novos dados FGV e as incertezas na retomada pós-pandemia

04 jan 2021 às 09:55

De acordo com o último levantamento da Fundação Getulio Vargas, o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) recuou 0,4 ponto em novembro, e ficou em 84,5 pontos. Este é o primeiro recuo do indicador, após seis altas consecutivas. Em médias móveis trimestrais, o IAEmp subiu 3,2 pontos - para 83,8 pontos.


O professor de Contabilidade e Gestão Financeira da IBE Conveniada FGV, Diego Barbieri, explica o estudo. "O objetivo é tentar prever os principais movimentos do mercado de trabalho somando dados sobre a expectativa do brasileiro, levando em conta a situação econômica local, a situação das famílias, a situação do emprego e intenção de gastos. Com esse número é possível tentar prever o aumento ou redução de vagas”.


O professor analisa que o aumento do indicador mostra que o brasileiro acredita numa melhora no cenário econômico e, portanto, pode significar um aumento nas vagas. "A economia é autorrealizável. Quando há uma expectativa de melhora, as pessoas tendem a gastar mais, injetando mais dinheiro no mercado. Mas, o contrário também ocorre. Em momentos de tensão e instabilidade, gastamos menos, contribuindo para a recessão”, avalia.


Barbieri ainda aborda alguns pontos de atenção nos dados do IAEmp. "Avaliando a subida desse indicador, podemos interpretar que no curto prazo vai ser bom porque demonstra que o sentimento das pessoas em relação à economia está indo bem. Porém, o fim do auxílio emergencial é algo a se notar, por exemplo, pois não sabemos como a economia irá reagir sem esse capital na rota”, pontua.


Já o professor de Gestão, Cleber Zanetti, que também dá aulas na IBE Conveniada FGV, complementa que "o movimento de incerteza cria certa dificuldade”. "Entendemos que em dezembro as expectativas por conta das festas de final de ano geralmente são maiores contribuindo também para o crescimento do indicador”. Mas, segundo ele, provavelmente em janeiro o cenário deverá sofrer alteração, ficando mais próximo ao de novembro.


Indicador Coincidente de Desemprego
Outro indicador avaliado pelos professores é o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), que subiu 3,2 pontos, somando 99,6 pontos - o maior nível desde maio de 2020. O ICD é um indicador com sinal semelhante ao da taxa de desemprego, ou seja, quanto maior o número, pior o resultado. Em médias móveis trimestrais, houve alta de 1,1 ponto para 97,5 pontos.


Diego Barbieri responde que os dois dados devem ser analisados em conjunto. Enquanto o primeiro (IAEmp) é um indicador de sentimento e sensação, o segundo (ICD) é um indicador consciente. "Um diz o que estou pensando e o segundo o que de fato está acontecendo”, avalia Barbieri.


Para ele, é normal esse aumento do nível de desempregados devido aos impactos da pandemia. O professor avalia que, embora seja esperado, alguns fatores contribuem para esse aumento como a crise mundial de saúde pública e o momento de tensão política, ao qual ele ressalta que já está mais "diluído no dia a dia das empresas” devido às constantes mudanças nos anos recentes no Brasil.


Outro ponto avaliado por Barbieri é a falta de insumos. "Essas matérias-primas que são commodities vinculadas ao dólar, como celulose e aço, estão mais caras. Portanto, acabam sendo exportadas em detrimento do consumo no mercado local. Isso impacta diretamente na economia, afinal poderia estar produzindo mais e vendendo mais, mas falta material”.


O especialista FGV conclui que a recuperação será lenta, devido à alta instabilidade do momento, porém, a situação pode melhorar a partir de janeiro, sobretudo por causa da possível vacina. "Com a vacinação em janeiro e o fim do auxílio emergencial, conseguiremos sentir o desenvolvimento da economia no próximo ano. No entanto, acredito que esse cenário de desemprego se manterá um pouco. Em dezembro existem as compras natalinas e janeiro costuma ser um período de vacas magras”, define.


Já o professor Cleber Zanetti acredita que para o primeiro trimestre de 2021 os dados ainda deverão mostrar um aumento na taxa de desemprego. "Mas, a partir do segundo trimestre devemos gradativamente retornar à redução nessa taxa, com o aumento da atividade econômica”.


Os índices
O IAEmp é construído como uma combinação de séries extraídas das Sondagens da Indústria, de Serviços e do Consumidor, tendo capacidade de antecipar os rumos do mercado de trabalho no país. O indicador é positivamente relacionado com o nível de emprego no país.

O ICD é construído a partir de dados desagregados, em quatro classes de renda familiar, do quesito da Sondagem do Consumidor que capta a percepção do entrevistado a respeito da situação presente do mercado de trabalho. Desse modo, o indicador capta a percepção das famílias sobre o mercado de trabalho, sem refletir, por exemplo, a diminuição da procura de emprego motivada por desalento. O ICD varia no mesmo sentido na taxa de desemprego. Ou seja, quanto maior o desemprego, maior o indicador e vice-versa.


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