O papa Francisco relembrou sua infância no período do Natal e fez um apelo para que todos os pobres e crianças doentes que passarão a festividade no hospital sejam lembrados. As falas são de uma entrevista especial divulgada nesta sexta-feira (24).
"Pense nos pobres e nos menos importantes e em todos os esquecidos. E às crianças enfermas que passarão o Natal no hospital, com palavras de admiração a quem trabalha na pediatria", pediu o pontífice na reportagem divulgada pelos jornais italianos "La Repubblica" e "La Stampa".
Francisco, que visitou a ala pediátrica do policlínico Agostino Gemelli, em Roma, em julho passado, disse que ainda hoje pensa em todas as crianças forçadas a passar as festas de fim de ano hospitalizadas.
Leia mais:
Pimenta diz não ver necessidade por ora de afastamento de Lula da Presidência após cirurgia
Polarização é palavra do ano de 2024 para dicionário Merriam-Webster
Lula evoluiu bem à cirurgia, está estável e conversa normalmente, dizem médicos
'Presidente encontra-se bem', diz boletim médico após cirurgia de Lula
"Não há palavras, só podemos nos apegar à fé, a Deus, e perguntar-lhe: Por quê?", enfatizou, lembrando "a sorte" dos pais que têm filhos fora da hospital. "Que os abracem com força e lhes dediquem mais tempo".
Na entrevista, o argentino falou sobre o significado do Natal, dos pobres, dos marginalizados, dos explorados e de como viveu as férias e comemorações natalinas em Buenos Aires, nos anos 1940.
"Às vezes íamos a uma tia à noite, porque em Buenos Aires e em nossa família não havia o costume naquela época de celebrar a véspera de Natal como hoje. Comemorávamos na manhã do dia 25, sempre com os avós", contou Jorge Bergoglio, recordando que sua avó fazia "cappelletti à mão" para celebrar a data junto com a família toda, incluindo tios e primos.
Atualmente, o santo Padre contou que costuma se preparar bem para o Natal, porque, para ele, "sempre é uma surpresa". Neste ano, em especial, o religioso agradeceu o trabalho dos profissionais de saúde, em especial os que atuam na ala pediátrica.
"Gostaria de dizer algumas palavras de admiração pelo trabalho que os profissionais de saúde de todos os hospitais e enfermarias pediátricas realizam para aliviar o sofrimento daqueles pequenos", disse ele, acrescentando que "muitas vezes não nos damos conta da grandeza do trabalho diário destes médicos, enfermeiras e agentes de saúde, pelo que devemos todos estar gratos a cada um deles".
Além disso, Jorge Bergoglio contou sobre a paixão de seu pai por livros e recomendou a "leitura" para as crianças, principalmente em um momento em que o mundo é dominado pela tecnologia.
"Eu não recomendaria textos específicos. Cada um deve ter seus próprios interesses. Mais do que um livro eu recomendaria a leitura. Porque existe o perigo da televisão te encher de mensagens que depois não ficam, ler é outra coisa, é um diálogo com o próprio livro, é um momento de intimidade que nem a TV nem o tablet podem dar", enfatizou.
Além disso, o Papa também disse sentir saudades da juventude, de momentos "bonitos, específicos e especiais", incluindo seu aniversário de 16 anos, quando na Argentina usava-se shorts com meias até os joelhos, e, ao completar a idade, o estilo mudava para calças masculinas.
"Vovó veio na minha casa, ela me chama de lado, e me dá um dinheiro de presente de aniversário. Então ela olha para a calça comprida e começa a chorar, emocionada", contou.
O líder da Igreja Católica enfatizou ainda que sente falta de seus três irmãos que já morreram e lembra de todos com serenidade, porque os imagina em paz. Agora, ele tem apenas uma irmã viva, Maria Elena.
Por fim, Francisco foi questionado como vê o futuro da humanidade, tendo em vista que o mundo tenta lentamente sair da pandemia de Covid-19, enquanto conflitos e divisões ainda persistem em diversos lugares.
"O futuro do mundo florescerá se for construído e, quando necessário, reconstruído juntos. Só a fraternidade universal verdadeira e concreta nos salvará e nos permitirá viver todos melhor", ressaltou.
Para Bergoglio, "isto significa, porém, que a comunidade internacional, a Igreja, a partir do Papa, as instituições, os responsáveis políticos e sociais e também todos os cidadãos, especialmente nos países mais ricos, não podem e não devem esquecer as regiões e os povos mais frágeis e indefesos, vítimas da indiferença e do egoísmo".
"Que este Natal transmita mais generosidade e solidariedade à Terra. Mas verdadeiro, prático e constante, não apenas com palavras. Espero que o Natal aqueça o coração de quem sofre, e abra e fortaleça o nosso para que ardam de desejo de ajudar mais quem precisa", apelou.
Cirurgia
Em julho deste ano, Francisco foi submetido a uma cirurgia no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, por causa de uma estenose diverticular do cólon, estreitamento causado pelo surgimento de pequenas bolsas chamadas divertículos nessa parte do intestino grosso.
"Graças a Deus estou bem. Estou mancando um pouco porque a cicatriz da operação está sarando, não sou mais criança, mas estou bem. Depois da cirurgia de julho já fiz duas viagens apostólicas internacionais: em Budapeste e na Eslováquia em setembro, e em Chipre e na Grécia em dezembro, voltando ao campo de refugiados de Lesbos, onde tocamos uma praga de humanidade; e depois, fui para Assis. E farei outras viagens, se o Senhor quiser, em 2022", finalizou.