O volume de vendas do comércio varejista no Brasil teve alta de 0,8% em janeiro, frente a dezembro, informou nesta quinta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O desempenho ficou acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam elevação de 0,3%.
Mesmo com o avanço, o setor ainda está abaixo do patamar pré-pandemia. Encontra-se em nível 1% inferior ao de fevereiro de 2020, antes da crise sanitária. Também está 6,5% abaixo do pico da série, de outubro de 2020.
A alta de 0,8% em janeiro veio concentrada em parte do varejo, já que apenas três das oito atividades pesquisadas tiveram taxas positivas no mês.
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O IBGE informou que o avanço foi puxado por artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,8%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,4%). O ramo de equipamentos e material para escritório informática e comunicação (0,3%) também registrou variação positiva.
Por outro lado, houve resultados negativos em cinco atividades: tecidos, vestuário e calçados (-3,9%), livros, jornais, revistas e papelaria (-2%), móveis e eletrodomésticos (-0,6%), combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,1%).
ALTA APÓS FORTE REVISÃO
A série de dados do comércio tem sido marcada por fortes revisões ao longo da pandemia. Não foi diferente desta vez. Além de divulgar o resultado de janeiro, o IBGE atualizou números anteriores.
A queda do varejo em dezembro de 2021, por exemplo, ficou mais intensa com a revisão, passando de 0,1% para 1,9%. Conforme o instituto, a crise da Covid-19 trouxe muita volatilidade para as estatísticas e, por isso, provoca atualizações constantes e de grande amplitude.
O segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico puxou a revisão de dezembro, saindo de uma queda de 5,7% para uma retração de 9,9% no último mês de 2021.
Na série sem ajuste, o comércio varejista caiu 1,9% em janeiro, frente a igual período de 2021. Foi a sexta taxa negativa consecutiva. Nesse recorte, a projeção mediana do mercado era de recuo de 2,8%.
No acumulado de 12 meses até janeiro, o setor registrou aumento de 1,3%, apontou o IBGE. O dado é similar ao verificado até dezembro (1,4%).
RISCOS NO CENÁRIO
Após a fase inicial da pandemia, o varejo passou a apostar na derrubada de restrições a atividades e na reabertura de lojas para se recuperar.
A retomada, contudo, vem sendo ameaçada pelo cenário de escalada da inflação, juros mais altos e renda fragilizada pela crise, dizem analistas. Os fatores, em conjunto, reduzem o poder de compra da população.
Ao longo da pandemia, os brasileiros passaram a conviver com inflação de dois dígitos no acumulado de 12 meses. Até janeiro, a alta do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 10,38%. A inflação de fevereiro será divulgada nesta sexta-feira (11) pelo IBGE.
Conforme analistas, o combate à elevação dos preços tende a ficar mais complicado nos próximos meses em razão dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Com a tensão provocada pelo conflito, as cotações de commodities agrícolas e do petróleo tiveram fortes altas no mercado internacional.
O temor é que esses avanços se espalhem ao longo das cadeias produtivas, atingindo, inclusive, parte do comércio.
Para tentar frear a inflação, o BC (Banco Central) vem subindo a taxa básica de juros. Em fevereiro, a Selic chegou a 10,75% ao ano.
O mercado financeiro espera uma taxa maior até o final de 2022. A mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (7) pelo BC, indica Selic de 12,25%. Contudo, já há instituições financeiras projetando juros acima de 13% até dezembro.
O efeito colateral da Selic mais alta é o aumento do chamado custo do crédito no país. Empréstimos mais caros jogam contra o consumo, especialmente de bens com maior valor.
O consumo é considerado motor do PIB (Produto Interno Bruto). Diante das dificuldades no cenário macroeconômico, analistas projetam PIB estagnado em 2022 -ou seja, com variação próxima de 0%.