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Curso pré-vestibular oferece bolsa em homenagem a escritora Carolina Maria de Jesus

Redação Bonde com Folhapress
16 abr 2021 às 17:39
- Wikimedia Commons
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"Sou uma Silva, né? Patricia Maria Lima da Silva", conta a mulher que, recentemente, descobriu que também se chama Carolina.


"Quando li o livro dela, fiquei apaixonada pela história", diz Patricia, 43, sobre a escritora Carolina de Jesus (1914-1977) e sua obra-prima, "Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada". "Tantas outras Carolinas que vivem nas favelas e não têm visibilidade. Que têm a mesma capacidade de se expressar, de escrever, e não têm suas obras reconhecidas."

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Carolina foi catadora de papel e viveu na favela do Canindé, na região central de São Paulo. Foi lá que o jornalista Audálio Dantas a encontrou no fim dos anos 1950. Soube que preenchia milhares de páginas com relatos do seu dia a dia, editou esse material, e dali surgiu "Quarto de Despejo", fartamente traduzido no exterior.

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Patricia é uma diarista que mora na favela do Amarelinho, na zona norte carioca, para onde se mudou tem pouco tempo, por achar caro os R$ 600 que pagava numa quitinete na Nova Holanda, uma das favelas do Complexo da Maré -agora desembolsa R$ 400. Quer entrar no curso de pedagogia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) para seguir a profissão da professora Ana, a primeira de sua vida.

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"Sempre sonhei em ser professora. Nasci no sertão do Nordeste, sou de família de analfabetos, agricultores, e queria fazer diferente", conta. Durante a maior parte da infância, num povoado do Ceará "literalmente no mato, sem luz elétrica", ela aprendeu com "aquelas pessoas que davam aula na casa delas e que mal sabiam ler direito".


Já tinha mais de 10 anos quando começou a frequentar um colégio. Ali conheceu a "tia Ana". Quando repetiu de ano, a docente lhe disse assim: "Patricia, não chora, é melhor repetir e aprender do que passar sem saber. E, outra, você ficará mais um ano na minha turma, não vai ficar feliz?".

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Ela ficou feliz demais, porém, os anos trataram de murchar suas expectativas. "Infelizmente, a vida leva a gente para outros caminhos." Patricia diz que o horizonte, contudo, voltou a se abrir quando conheceu o Unifavela, pré-vestibular na Maré, conjunto no Rio com 16 favelas e cerca de 140 mil moradores.


O projeto escolheu Patricia e outros quatro estudantes para a Bolsa Carolina de Jesus, que a partir de abril dará três parcelas mensais de R$ 200. O objetivo, segundo Breno Laerte, 25, presidente do Unifavela, é brecar a evasão de alunos.

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No começo de 2020, antes da crise da Covid-19 estourar, o pré-vestibular tinha 40 alunos no turno da tarde e outros 40 à noite. "Perdemos mais de 80% da turma na pandemia", diz. Nem todos os vestibulandos têm wi-fi ou como pagar chips para ter internet liberada no celular, por exemplo.


"E tem a desmotivação também, né? É difícil, muitos alunos não foram ao Enem. Isso deixou a gente bem baqueado", conta Laerte. "A gente sabe que R$ 200 não vão salvar ninguém, mas é um ânimo, um gás, uma tentativa de fazer com que aquele aluno consiga pagar a internet, comprar um caderno, até ajudar na renda da casa."

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Patricia sentiu na pele o sufoco financeiro. "Eu trabalhava como diarista. Até tinha umas faxinas boas durante a semana, mas perdi logo no início da pandemia, e outras tantas com a segunda onda." Sobrou uma: a cada 15 dias, ganha R$ 150 para limpar uma casa, fora bicos esporádicos, como passar roupa.


A aspirante a pedagoga ouviu falar de Carolina de Jesus num curso de escrita criativa do Unifavela. "Quando li pela primeira vez, fiquei me perguntando em que planeta eu vivia que eu não conhecia a história desta mulher tão linda. Íntegra, trabalhadeira, honesta. Valores que muitas vezes as pessoas nem imaginam ver dentro da favela, que aqui tenha tanta riqueza de conhecimento", diz Patricia, que se recuperava da Covid-19 quando conversou com a reportagem por telefone.

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Segundo Laerte, o foco da oficina era apresentar autores negros antes mesmo da faculdade -ele próprio só ficou sabendo na universidade que Carolina de Jesus queria "comprar um par de sapatos" para a filha Vera Eunice, mas acabou remendado um que achou no lixo porque "o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos", como a autora conta no início de seu diário.


"É uma mulher negra que fala de gênero, raça e classe num Brasil específico", Laerte diz sobre a autora da frase "eu sou negra, a fome é amarela e dói muito".

"Ela não fala só sobre a fome, fala de política também, entende?"


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