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Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP

Pesquisadores pedem que estudos com DNA de ancestrais respeitem ética global

Reinaldo José Lopes - Folhapress
27 out 2021 às 12:05
- Pixabay
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 A explosão de pesquisas com amostras arqueológicas de DNA humano tem potencial para revolucionar o que sabemos sobre a história profunda da nossa espécie, mas esse tipo de investigação precisa de diretrizes éticas globais, afirma um grupo internacional de pesquisadores em artigo num dos principais periódicos científicos do planeta.


O manifesto sobre o tema, que é assinado pela bioarqueóloga brasileira Mercedes Okumura, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP (Universidade de São Paulo) acaba de ser publicado na revista especializada Nature.

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A iniciativa que resultou no artigo é coordenada por David Reich, da Universidade Harvard (EUA), um dos principais estudiosos de genomas antigos da espécie humana -a pesquisadora da USP está trabalhando no laboratório de Reich num projeto conjunto até fevereiro de 2022.

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"Algumas coisas que a gente propõe podem parecer óbvias, mas elas precisam ser discutidas de uma maneira que não signifique simplesmente seguir o modelo americano de enfrentar esse problema no mundo todo", explicou Okumura à Folha em entrevista por videoconferência.

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Ela conta que os debates para a elaboração da proposta aconteceram num workshop virtual realizado em novembro de 2020, que reuniu mais de 60 especialistas de 30 países. "Foi aquela coisa engraçada, com inúmeros sotaques diferentes e o pessoal da Austrália e do Japão participando às 4h da manhã do horário deles", lembra.


A discussão pode parecer bizantina à primeira vista, mas ela é uma resposta ao aumento vertiginoso de dados sobre o DNA dos ancestrais da humanidade nas últimas décadas. Enquanto em 2009 ninguém havia obtido informações detalhadas sobre o genoma de nenhum ser humano antigo, hoje já estão disponíveis dados sobre mais de 6.000 desses indivíduos, alguns dos quais viveram há dezenas de milhares de anos.

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Garimpar essa montanha de DNA tem potencial para revolucionar o que sabemos sobre a saga da nossa espécie desde suas origens africanas. Mas o avanço tecnológico no sequenciamento (grosso modo, "soletração") dos genomas antigos também pode levar a interpretações preconceituosas sobre as origens e a natureza de etnias indígenas, por exemplo.


E há ainda o risco dos usos políticos de tais informações, que podem ser usadas para negar o direito de populações tradicionais a suas terras por uma suposta falta de continuidade com habitantes antigos delas, entre outras coisas.

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"Esse diálogo com as pessoas que podem ser diretamente afetadas pela publicação dos dados é fundamental. Além disso, às vezes também falta o diálogo com especialistas de outras áreas, além da genômica", diz Okumura. "É comum que a gente veja publicações usando apenas o DNA que dizem 'pronto, agora revelamos todo o passado desses povos', sem levar em conta devidamente o que o trabalho de arqueólogos ou de outras disciplinas."


O resultado do encontro foi um conjunto de cinco diretrizes gerais, detalhadas no texto publicado na Nature:

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respeito tanto às normas dos países onde as amostras de DNA foram obtidas quanto às vigentes nos lugares de origem dos pesquisadores; a preparação de um plano detalhado antes dos estudos propriamente ditos, levando em conta como produzir e comunicar aquele conhecimento e que impactos ele pode ter; minimização dos danos aos restos mortais humanos estudados (já que fragmentos de osso muitas vezes precisam ser destruídos para extrair o DNA); disponibilização dos dados para que outros cientistas possam examiná-los de forma crítica; contatar pessoas e grupos que podem ser afetados pela pesquisa desde o início dos projetos, respeitando os pontos de vista deles. Este último ponto é especialmente crítico porque, dependendo do país, comunidades indígenas e tradicionais podem ter o direito de controlar o acesso a restos mortais com milhares de anos, requisitar o retorno das amostras às suas regiões de origem e mesmo a realização de rituais funerários com elas. Nos Estados Unidos, esse processo é regulado pela legislação conhecida como Nagpra (Ato de Proteção e Repatriação dos Túmulos de Nativos Americanos, na sigla inglesa).


"A situação é muito distinta no Brasil porque o material arqueológico, mesmo quando estamos falando de restos humanos, é considerado bem da União. O envolvimento das comunidades indígenas com esse tipo de pesquisa aqui necessariamente vai ser muito diferente", explica a bioarqueóloga.


Além dos povos nativos, é preciso pensar também em comunicar os resultados desse tipo de pesquisa aos moradores dos locais onde esqueletos humanos foram encontrados, mesmo que essas pessoas sejam de outras origens étnicas, e também dar apoio aos museus locais que muitas vezes abrigam esse patrimônio.


Alguns trabalhos pioneiros com essa abordagem já foram feitos no Brasil, e os dados de DNA antigo dos primeiros habitantes devem crescer consideravelmente graças à estadia de Okumura no laboratório de Harvard. Ela está trabalhando com uma grande amostra de pessoas sepultadas nos sambaquis (monumentos funerários feitos com conchas e outros objetos na costa brasileira, mais ou menos entre 4.000 e 2.000 anos atrás), bem como de algumas outras regiões do país.

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