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'Falar da velhice não é fácil', diz Lima Duarte

Amilton Pinheiro - Agência Estado
04 set 2019 às 16:49

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- Divulgação
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Como um bom mineiro, o ator Lima Duarte é um contador de causos, além de ter uma carreira robusta em quantidade e qualidade de trabalhos. São mais de cem novelas, entre radionovelas e telenovelas, nas TVs Tupi e Globo, peças no início da carreira no teleteatro ao vivo da TV Vanguarda. No Teatro de Arena, ficou entre 1961 e 1971, fez outras peças, 42 filmes. Também atuou como dublador de personagens de desenhos animados, apresentador do Som Brasil e diretor de novelas. Colecionou inúmeras histórias ao longo das quase nove décadas de vida.

Suas primeiras lembranças são de Desemboque, Minas Gerais, ao lado da mãe, América, do pai, Antônio Venâncio, e do avô materno, na primeira metade dos anos 1930, e de Ribeirão Preto, São Paulo, onde foi viver quando tinha entre 7 e 8 anos. Na cidade paulista, começou a fazer peças teatrais amadoras ao lado da mãe, espírita, em um centro em que ela trabalhava como médium

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Nesta entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, o ator, que completa 90 anos em março de 2020, fala dessas lembranças, do mundo que foi se descortinando na cidade de São Paulo a partir de 1946, dos dois filmes em que trabalhou e que vão estrear: o curta A Volta Para Casa, sobre a velhice, tema não retratado com decência, segundo Lima, pela teledramaturgia brasileira; e o novo longa de Andrucha Waddington, O Juízo, que ele não viu, mas elogiou muito o roteiro de Fernanda Torres.

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Qual foi a lembrança que você guardou da sua chegada ao Mercado Municipal de São Paulo, em 1946?

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(risos) As melhores possíveis. Eu sou feito dessas lembranças, dessas ideias, dessas emoções guardadas. Cheguei no caminhão de manga. Imagina o impacto dessa grande metrópole para um rapaz de 16 para 17 anos, vindo do interior de São Paulo. Foi um grande impacto para um jovem que veio do nada para a modernidade, para uma São Paulo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, onde floresciam oportunidades, afetos e esperanças. Não conhecia um bonde, mas, quando vi, fiquei maravilhado, tudo me maravilhava. Era um mundo que começava a ser desbravado por um jovem roceiro, um capiau. Aí, falei para o cara que me trouxe no caminhão, que era amigo do meu pai, se ele queria ajuda para descarregar as mangas, que não vinham como hoje, em caixas, ficavam espalhadas na carroceria do caminhão. Ele aceitou minha ajuda. E o resto faz parte da minha história...


Fale um pouco desses dois filmes inéditos em que você trabalhou.

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A Volta Para Casa, de Diego Freitas, um jovem diretor talentoso para pouca idade, e O Juízo, de Andrucha Waddington, com quem fiz Eu Tu Eles. Adorei trabalhar nesses dois filmes. Olha que sou exigente com os personagens que fiz no cinema. Falar de velhice não é fácil. Veja aí as novelas, que dificilmente conseguem retratar com decência esse estágio da vida tão sensível e difícil. Como vou fazer 90 anos, queria contar uma história de um velho como eu, que convive com o preconceito contra a velhice. Não vi ainda o filme de Andrucha, mas adorei o roteiro da Fernanda Torres, muito inteligente, com muitas camadas. Meu personagem em O Juízo é uma maravilha, mas não posso falar dele, para não dar um spoiler. Tem ainda Rapaterra - A Maldição dos Rios de Prata, que vou fazer em 2020, com a diretora Ariane Porto, que abordará os crimes contra o meio ambiente, inclusive os nossos rios. É muito atual nesse Brasil que queima e desmata sua Floresta Amazônica diante de um governo inerte.


Como foi trabalhar na Rede Globo na época da ditadura, que ela apoiou, mas, por outro lado, a emissora empregava muitos comunistas, e mostrava novelas e programas que faziam críticas na medida do possível ao que acontecia no País...


Grande parte dos autores, atores e profissionais de televisão comunistas trabalhou na emissora do dr. Roberto Marinho, que chegou a falar para um desses presidentes-generais: "Você cuida dos seus ministros, que eu cuido dos meus comunistas" (risos). Tentávamos fazer críticas contundentes à ditadura, mas eles não deixaram ir ao ar, censuravam. Na Globo, naquela época infame, ainda podíamos sonhar, mesmo diante de tanta brutalidade e cerceamento da liberdade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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