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Entrevista

Fim da pandemia não fará a humanidade melhorar, diz Débora Bloch

Tony Goes - Folhapress
12 mai 2020 às 10:47
- Divulgação
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Na noite de 17 de fevereiro do ano passado, Débora Bloch subiu ao palco do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, para receber o prêmio de melhor atriz de televisão de 2019, outorgado pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Por causa das inúmeras categorias contempladas, a organização do evento pediu aos vencedores que limitassem seus discursos de agradecimento a apenas 30 segundos. Mas Bloch ignorou o pedido. Tirou algumas páginas de caderno do bolso e leu-as em voz alta, durante mais de três minutos.

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A atriz começou agradecendo à diretora Joana Jabace, às autoras Carla Faour e Joana Spadaccini e a todo o elenco de "Segunda Chamada", da Rede Globo. Sua personagem na série é uma professora, Lúcia, que dá aulas noturnas em uma escola pública voltada para adultos que não completaram o ensino básico. O papel fez com Bloch se conscientizasse dos problemas educacionais do Brasil, o que deu um tom abertamente político à conclusão do discurso.

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"Este governo está atacando, perseguindo e censurando abertamente os professores e pensadores deste país. Está acabando com o que há de mais precioso, que é o acesso à educação publica, laica, gratuita e de qualidade para todos, independente de classe social, cor da pele ou origem", disse a atriz.

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"Cortando verbas de creches, de escolas públicas, de universidades e da pesquisa científica. Censurando livros, desfazendo bibliotecas. Atacando as artes e a ciência. É uma catástrofe o que está acontecendo com a educação, a cultura, e a pesquisa e produção de conhecimento no Brasil hoje".


Foi a mais aplaudida da noite.

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Quase três meses depois, a atriz está confinada em sua casa, no Rio de Janeiro, com o marido, o produtor português João Nuno Moreira, e o filho Hugo, 22, de seu casamento com o chef Olivier Anquier. Sua outra filha com Anquier, Julia, de 26 anos, vive em São Paulo, onde trabalha como diretora e roteirista.


As gravações da segunda temporada de "Segunda Chamada", que aconteciam na capital paulista, foram bruscamente interrompidas na primeira quinzena de março. Prevista para estrear no final de abril, esta nova fase do seriado agora não tem mais data para ir ao ar.

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"Gravamos durante dois meses, mas ainda faltavam dois e meio", conta Débora, em entrevista por telefone. "Eu voltei ao Rio num fim de semana, para descansar, e não pude mais retornar a São Paulo."


A quarentena forçou uma pausa em uma das carreiras mais interessantes da TV brasileira. Na última década, talvez nenhuma outra atriz tenha acumulado tantos papéis complexos na teledramaturgia, a maioria deles em séries ou minisséries. Débora só participou de três novelas ao longo desse período, e em apenas uma delas -"Avenida Brasil", de 2012- sua personagem tinha traços humorísticos.

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"Minha participação no 'TV Pirata' [1988-1990] me deixou muito marcada como atriz cômica. Passei anos sendo chamada para o mesmo tipo de papel. Agora não faço comédia há um tempão, e estou morrendo de vontade de voltar a fazer."


É compreensível. As mulheres que Débora Bloch vem encarnando na televisão carregam fardos pesados e são cheias de contradições, como a Elisa da minissérie "Justiça", de 2016.

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"Ela era uma mãe que transava com o assassino da própria filha. 'Eu sou mãe, como vou fazer isto?', perguntava à autora Manuela Dias. Trabalhei muito com o preparador de elenco Chico Accioly. Fiz muitas improvisações com o Jesuíta Barbosa, que interpretava o matador. Foi dificílimo."


"Aí, veio mais uma personagem que perde o filho: a professora Lúcia, de 'Segunda Chamada'. Eu mergulhei no universo da educação pública. Frequentei unidades da EJA [Educação para Jovens e Adultos] no Rio e em São Paulo", prossegue a atriz. "Nesta nova temporada, o enfoque é na população de rua. Gravamos em lugares onde não tem esgoto. Como vamos combater uma pandemia num país como este?"

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Débora não esconde a revolta com o atual governo. "Estou apavorada com o momento atual, que é de muita insegurança. Estamos no meio de uma guerra, e tiraram o general [o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta]. O coronavírus trouxe à tona nossos problemas e nos deixou em carne viva. A gente normalizou a miséria, a falta de moradia, de saúde. Agora ficou claro o papel fundamental do SUS. Ficou evidente o abismo da nossa desigualdade."


"É uma loucura termos um presidente que vai contra tudo, que é conduzido pela ignorância. Como é possível pensar em salvar a economia, quando tem tanta gente morrendo? Que projeto desumano."


Absorvida pelas tarefas domésticas, Débora Bloch só tem um plano para depois da quarentena: concluir as gravações da nova temporada de "Segunda Chamada". E desdenha das previsões róseas para o futuro próximo.

"Não sou otimista. Não acho que a humanidade irá melhorar quando a pandemia passar."


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