Pelo título, deliberadamente indeciso entre presunçoso e brega, “Babygirl” tem tudo para chamar atenção: estrela de Hollywood (Nicole Kidman) premiada ano passado pelo filme no Festival de Cinema de Veneza; uma roteirista e diretora holandesa (Halina Reijn) desafiando os cânones do puritanismo americano desde o coração da indústria; e um enredo que flerta conscientemente com os thrillers eróticos do final dos anos 80 e início dos 90, como “Atração Fatal” e “Instinto Selvagem”.
A isto deve-se acrescentar o tempero controverso do período: é moralmente repreensível que uma super CEO de 50 e poucos anos vá para cama com um estagiário (Harris Dickinson) da sua empresa um quarto de século mais jovem? Existe abuso de poder? Quem seduz quem? Será que o chefe inflexível e mandão do escritório gostaria de receber ordens na cama?
O principal problema de “Babygirl” é que as respostas a essas perguntas são dadas meia hora depois do filme iniciado, restando pouco ou nada para a hora e meia restante.
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Isso desde que você não tenha visto o trailer... Não se pode dizer que a dramaturgia de Halina Reijn seja muito sutil: tudo, desde o primeiro (falso) orgasmo de Romy (Kidman) até o último (real), ambos com o marido de toda uma vida (Antonio Banderas), é explicado de forma quase didática, como se fosse uma questão de seguir uma linha pontilhada. Ou para substituir a leitura de um livro popular sobre sexologia.
Numa passagem de "Babygirl" os personagens de Kidman e Dickinson param para discutir a noção de consentimento, uma reviravolta um tanto forçada que parece responder ao medo da cineasta de se colocar além do politicamente correto. A noção do consentimento tornou-se, felizmente, tema central no cinema contemporâneo, mas abordar esta questão através de um diálogo pedagógico no centro de um thriller sexual não parece ser a forma mais original ou interessante de lhe fazer justiça.
METÁFORA DE PODER
Seria injusto aprisionar “Babygirl” nos moldes de um thriller erótico ou drama sexual. Porque o sexo aqui é de fato uma metáfora de poder, de ambição e de abraçar o lado que nos envergonha (e não deveria). Toda a narrativa é um jogo perverso de autovalidação e engano, de orgasmos e limites, de ter e abrir mão do controle.
Tendo plena consciência de que a subcultura BDSM (bondade, disciplina e dominação, submissão e sadismo, e masoquismo) neste momento não é mais provocativa, mas sim parte do mainstream (especialmente depois do triste sucesso de “50 Tons de Cinza”).
Halina Reijn vai um passo além: este não é um filme sobre infligir dor ou criar uma dinâmica de domínio e submissão. É um filme sobre o prazer sem culpa, de onde quer que venha.
Desta forma, “Babygirl”, à semelhança do recente “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, explora o universo da sexualidade feminina com a intenção de abalar o imaginário de um mundo, o atual, ainda baseado sobre preconceitos e dogmas que restringem a liberdade das mulheres.
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