Falta um mês para o encerramento da exposição de Lucas
Arruda, "Qu’Importe le Paysage" (Não Importa a Paisagem), no Museu
d'Orsay, em Paris. Aberta em 8 de abril, em cartaz até 20 de julho, a mostra
marca um momento histórico: é a primeira vez que um artista do Hemisfério Sul
realiza uma exposição individual lado a lado com obras-primas da Galeria dos Impressionistas.
Com 34 obras da série "Deserto-Modelo", criadas
entre 2013 e 2025, a exposição ocupa três salas destinadas ao movimento
artístico, onde a luz das telas do artista brasileiro dialogam diretamente com
as cores das pinturas de mestres como Monet, Pissarro e Sisley.
Lá, Arruda exibe imagens consideradas mnemônicas, que
externalizam o que existe apenas em sua mente, flutuando entre o figurativo e o
abstrato. São paisagens silenciosas, densas e de pequeno formato, muitas com
menos de 30 centímetros, que evocam uma memória visual íntima e poética da
natureza.
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O título da exposição, que questiona a importância da
paisagem, é inspirado em versos de Manuel Bandeira em "Poema do
beco"; e se soma a outras referências literárias presentes no trabalho do
artista. É da obra do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto que vem o
nome da série, por exemplo, trazendo a ideia de um espaço vazio como lugar de
rascunho e invenção.
Essa relação com a paisagem, elemento central em sua obra,
guarda raízes afetivas que ligam Lucas Arruda a Londrina, cidade com a qual o
artista manteve fortes vínculos quando pequeno. Embora nascido e criado em São
Paulo, ele passou parte da infância na cidade do Norte do Paraná, onde
familiares próximos viviam.
Dos jardins em Londrina
Digite aqui seu texto...Em suas férias escolares, Arruda visitava e passava temporadas com sua avó, Ozana Arruda, que morava na região central. Segundo lembranças de parentes, ela era conhecida pela sua paixão pela natureza e cultivava em casa um jardim com grande variedade de flores e plantas, que ajudaram a despertar a sensibilidade do garoto.
O contato próximo com belezas naturais se estendia para
outros cantos da cidade, de piqueniques no Lago Igapó na companhia de primos
aos passeios no então recém-inaugurado Parque Arthur Thomas. Quem compartilha
essas memórias afetivas é Rose Arruda, tia do artista, que atualmente vive em
Curitiba.
Para ela, essas vivências da infância ajudaram a formar a
base do olhar poético que hoje encanta o mundo. É provável que a paixão do
sobrinho por paisagens naturais, expressa em pinceladas calculadas, tenha se
originado em solo londrinense. “Não é por acaso que ele tem uma pintura de mata
intitulada Ozana”, associa a jornalista.
Ela destaca o fato de uma das exposições de Arruda ter
recebido o título de "Assum Preto", nome que, segundo ela, pode ter
relação com as viagens do artista ainda pequeno com o pai, de São Paulo a
Londrina. “O pai o distraía chamando sua atenção para as paisagens,
as mudanças de cores no céu, as culturas agrícolas, e
cantava. Uma das músicas do repertório dele que mais chamou a atenção de Lucas
foi 'Assum Preto', de Luiz Gonzaga. Mais tarde, quando começou a desenvolver
pesquisas sobre a luz na pintura, uma de suas principais áreas de interesse,
ele se lembrou da história do pássaro que cantava melhor quando era privado da
luz”, conta.
Atualmente, a exposição "Assum Preto" está em cartaz em Nova York e dá continuidade à pesquisa de Arruda sobre luz, memória e emoção.
Ao coração do impressionismo
Representado pelas galerias Mendes Wood DM e David Zwirner,
a presença de Lucas Arruda no Museu d'Orsay integra o calendário do Ano do
Brasil na França, iniciativa que promove eventos culturais entre os dois países
e tem ampliado a visibilidade de artistas brasileiros em instituições de
prestígio.
Mas o destaque no berço do impressionismo não é o único. O
reconhecimento internacional do artista se espalha por outras galerias: ele
também exibe uma retrospectiva de sua trajetória no Carré d’Art, museu de arte
contemporânea em Nîmes, até 5 de outubro, e participa de uma exposição coletiva
recém-inaugurada no Centre Pompidou-Metz, em Metz.
Aos 41 anos, ele marca presença em coleções permanentes de
instituições como o MASP, em São Paulo, o Guggenheim, em Nova York, e o Centre
Pompidou, em Paris, em meio à efervescência das artes plásticas no Brasil e no
mundo.