O Ginásio do Moringão era o palco dos famosos em Londrina, nos anos 80. Quem não tinha dinheiro para o ingresso, ficava ali, esperando ao lado dos portões, pois a produção costumava abri-los no meio do show para lotar o espaço.
Durante uma apresentação de Rita Lee, os portões foram abertos e a turma entrou correndo a tempo de vê-la levitando, içada por cabos de aço, acima do público, tocando uma flauta transversal. Estava voando.
Rita foi única e foi muitas. A frase pode ser um clichê, mas não é mentira. Fã das surpresas, guardou uma para a posteridade.
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"Voando", versão de "Volare" (Nel blu dipinto di blu), canção de Domenico Modugno, conquistou recentemente os ares com o poder de emocionar diferentes gerações - a música está nas plataformas de streaming. O clipe resgata momentos felizes de Rita e soa como uma despedida.
Consagrada no Festival de San Remo de 1958, "Volare" ganhou o mundo. Foi gravada por gente tão diferente quanto David Bowie, Dolores Duran e Ella Fitzgerald. Na versão de Rita Lee e Roberto de Carvalho, tornou-se uma bossa nova, ideal para a voz contida, mas repleta de sentidos. Ninguém esperava a novidade, especialmente um ano após a partida – Rita Lee morreu em 8 de maio de 2023.
Rita foi do rock à bossa nova. Fez o caminho inverso de outra cantora ousada, também de voz econômica: Nara Leão, que partiu da bossa nova para a Jovem Guarda. Ambas aproximaram extremos.
Se durante a Tropicália, com Os Mutantes, Rita já se permitia aventurar por misturas incomuns e provocativas - ancorada muitas vezes pela criatividade dos irmãos Duprat -, posteriormente encontrou em Roberto de Carvalho as soluções harmônicas para ampliar o escopo das próprias composições e conquistar novos públicos.
Deixou-se encantar pelo pop romântico, fundiu Beatles à bossa nova e narrou uma obra famosíssima de Prokofiev, "Pedro e o Lobo", introdutória para o mundo da música clássica. Não importa o que fizesse, tudo soava como Rita Lee.
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