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A Hora da Estrela

Elisa Marilia Carneiro - Folha do Paraná
18 abr 2001 às 10:25
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A Íntima Cia de Teatro estréia, hoje, às 21 horas, no Teatro José Maria Santos, a peça "A hora da estrela", - um texto de Clarice Lispector, que já foi romance e filme. Baseado na história da imigrante nordestina Macabéa, o roteiro aborda os sonhos, ou pesadelos, da vida de uma mulher simples numa grande cidade.

Adaptada e dirigida por Sérgio Medeiros, a peça foi viabilizada por intermédio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. "Levamos três anos, desde conhecer o texto até montar o espetáculo. Esse mergulho na obra de Clarice Lispector é oportuno e nos possibilita dar continuidade a um trabalho que é a razão de existir da Íntima Cia de Teatro, ou seja, vasculhar e perscrutar o ser humano e, manter um relacionamento participativo entre os atores, personagens e técnicos", afirma o diretor.

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Dentro dessa proposta, o grupo Íntima Cia de Teatro cumpriu uma temporada de quatro meses com os espetáculos "A vida é sonho" e "Woyzeck ou Como alguém se torna o que é...", ambos dirigidos por Edson Bueno. Com estas duas peças, a companhia apresentou-se, durante dois meses, no Rio de Janeiro e "Woyzeck..." fez três apresentações no Sesc-SP, no projeto Balaio Brasil. "Está nos planos ficar até o meio do ano em Curitiba, com "A hora da estrela" e levar "Woyseck..." para uma temporada mais longa em São Paulo", anuncia Sérgio Medeiros.

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Com "A hora da estrela", o grupo volta a apresentar-se em palco italiano. As duas peças anteriores foram levadas em semi-arena. "O relacionamento com a platéia é muito diferente. A semi-arena promove uma relação mais direta e próxima", define Medeiros, que conta que o grupo prepara-se para, no segundo semestre, talvez em outubro ou novembro, levar ao palco uma montagem de "A metamorfose", de Kafka, possivelmente com direção de Paulo de Moraes.

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Em "A hora da estrela", ao analisar as angústias e medos de Macabéa, o texto de Clarice Lispector, aproxima a platéia da inabilidade do ser humano em se relacionar. "Cada um de nós, em maior ou menor grau, somos uma Macabéa", define Medeiros. "Uma pessoa incompetente para a vida, um projeto impossível, ao mesmo tempo que distante de nós, é facilmente identificável."


Macebéa é uma nordestina que mudou de espaço, desenraizou-se, perdendo assim o respaldo do seu grupo. Macabéa é o oposto do herói épico. Proveniente de um meio rude, órfã de pai e mãe, criada a pancadas pela tia, Macabé não teve uma história pessoal. Felicidade para ela é um conceito oco.

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De índole passiva, torna-se presa fácil dos mitos e produtos da indústria cultural. Admira as grandes estrelas de cinema, e sente-se fascinada pelos anúncios publicitários. As notícias descosidas da Rádio Relógio integram este contexto alienante, dentro do qual o cotidiano se faz num tempo meramente físico.


O cotidiano de Macabéa confirma, em cada detalhe, e seu despreparo para o enfrentamento mais elementar diante das dificuldades inerentes à vida. Pouco habilitata para o trabalho, fracassa também no amor. A história de Macabéa se resume à sobrevivência quase inumana, uma vez que, para tudo que sente e deseja, não dispõe de palavras para expressar.

Serviço: Estréia do espetáculo "A hora da estrela". Texto de Clarice Lispector, direção e adaptação de Sérgio Medeiros, com a Íntima Cia de Teatro, hoje, às 21 horas, no Teatro José Maria Santos, à Rua Treze de Maio, 655. A temporada permanece até o dia 6 de maio, de quarta-feira a sábado, às 21 horas e domingos, às 19 horas. Ingressos a R$ 10,00, R$ 8,00 (com bônus) e R$ 5,00 (classe artística, estudante e maiores de 65 anos). Informações; 322-2628


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