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Festival de Gramado

Argentina brilha e um cineasta faz feio

Redação - Folha de Londrina
20 ago 2003 às 17:05

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Muita festa na segunda etapa do 31º Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino. O ator Milton Gonçalves recebeu o Troféu Oscarito por uma fértil trajetória artística no cinema, televisão e teatro. Nos agradecimentos, Milton destacou padrinhos, influências, amigos, a luta e a força de sua etnia para se estabelecer no front artístico.
Aplaudido longamente de pé pela platéia que pela primeira vez lotou o Palácio dos Festivais, como sempre Milton se destacou por aquela marcante imponente simplicidade que o caracteriza como artista e como homem. Um justo reconhecimento.

A primeira transgressão em Gramado veio logo em seguida, com o diretor do curta metragem ''Amor Só de Mãe''. O jovem paulista Dennison Ramalho, no palco à frente de grande equipe, aproveitou o momento da apresentação de seu filme para brindar a platéia com um sortido repertório de palavrões, assumindo um inexplicável tom de defesa prévia para o que se assistiria a seguir.

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Provocador de ocasião, Ramalho apenas criou a polêmica pela polêmica, sem nenhuma razão plausível. Em outros tempos seria rotulado como lelé da cuca, pinel, louco de pedra. Hoje é apenas um garotão mal-educado, em litígio com o mundo e com um certo look neonazistóide, em busca de alguns minutos de fama.

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A explicação da conduta - irreverente não fosse tão vulgar e grosseira - viria logo a seguir com a exibição do curta: numa delirante atmosfera de satanismo, filho mata a mãe e arranca o coração da velha a pedido da mulher que o domina pelo sexo. Algo assim como se Freud e Zé do Caixão se encontrassem num terreiro de macumba brava para uma troca experiências.

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Não era mesmo uma jornada favorável à categoria. ''Bala na Marca do Pênalti'' atira pela linha de fundo uma boa idéia pela falta de mão firme do diretor Alexandre Da Costa (filho do artista plástico Milton Da Costa).


Uma tragédia popular e carioca retirada da crônica policial: dois ''paraíbas'', porteiros de prédio em Copacabana, acabam se desentendendo por causa do ciúme doentio de um deles, casado com mulher bonita e liberal. A paixão de ambos pelo futebol é apenas um pretexto para a explosão de violência que leva ao assassinato.

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Escalado para a mesma noite, o segundo longa-metragem brasileiro não estava ali por acaso. Afinal, o argumento engendrado por Machado de Assis em ''Dom Casmurro'' e que serviu de ''inspiração'' para ''Dom'' era exatamente o que agora vem sendo chamando de item temático.


Mesmo se referindo assim - ''inspirado em'' e não ''baseado em'' - o roteiro do filme de estréia do diretor teatral Moacyr Góes não encontra desculpas ao narrar a história do ciúme obsessivo e destruidor que o engenheiro Bento (Marcos Palmeira) sente pela mulher Ana (Maria Fernanda Cândido, uma deusa e até aqui a mais assediada pela mídia) diante da permanente proximidade de seu melhor amigo, Miguel (Bruno Garcia).


Não é a primeira vez (e nossos homens de cinema vão continuar a insistir) que o riquíssimo universo machadiano, com seu detalhado manancial de sutilezas psicológicas, é traído pela conveniência de uma ''releitura pós-moderna'', contemporânea. O diretor e roteirista Moacyr Góes empobrece a cena, esvaziando a trama triangular como a conceberam a arte e o engenho do escritor, e reduz os mistérios de Capitu a uma avaliação rasa onde o sexo ganha papel de destaque.

Uma pena, porque o elenco até tenta fazer mais do que pode para dar conta de um recado afinal muito improvável. Vale aqui aquela velha história do uso do santo nome em vão, ou descanse em paz, Machado!


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