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As distanciadas paixões de Lola

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
05 abr 2001 às 11:19

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A uma galeria de mulheres belíssimas, elegantes e requintadas interpretadas com sensibilidade pelo ator Roberto Cordovani, soma-se agora a personagem de Lola, travesti que passeia sua plástica num bordel alemão em plena era nazista. O musical "Lola", escrito, dirigido e protagonizado por Cordovani faz hoje sua estréia no Guairinha, em Curitiba.

A montagem baseia-se no filme que Rainer Werner Fassbinder dirigiu em 1981, com Barbara Sukowa no papel de uma prostituta. Seria uma versão do histórico filme "O Anjo Azul", de 1930. Enquanto o cineasta buscou inspiração e reverenciou a antiga obra, o ator paulista de certa forma coloca um elo a mais nessa cadeia de homenagens, voltando-se ao diretor alemão.

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Estes são meros detalhes. O que importa é que "Lola" faz uma leitura do caos social e traz à tona uma reflexão sobre a justiça e a ética. Há um embate entre os comportamentos individuais e os coletivos, e desse choque resultam conseqüências das mais variadas. O espetáculo, enfim, vislumbra um aprendizado de vida, relacionado a derrotas de preconceitos muitas vezes impostos, e até improcedentes.

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Historicamente a cena acontece entre a agonia do nazismo e um novo regime de governo, mais liberal. A corrupção política e pessoal é tema onipresente na podridão dos bastidores e o travesti sabe exatamente qual o odor que emana dessa matéria. Tudo passa por ele, que é amante de figuras-chaves da sociedade e do poder local.

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A peça deixa claro que o fim do nazismo não enterrou com seus escândalos a perversão moral. Apesar da sinalização dos novos tempos, a prática da corrupção está arraigada em cada um. Tanto assim que num determinado momento Lola afirma: "Os personagens são todos órfãos de Hitler".


Distante, olhando sem compaixão para o painel que se descortina à sua frente, o travesti mantém-se como um ser inatingível em meio às engrenagens. Há uma complexidade de sentimentos e emoções, como afirma Cordovani: "É o primeiro papel que faço em que a personagem não demonstra nenhum afeto em seus envolvimentos amorosos. Ela é totalmente fria e procura estar sempre ao lado dos vencedores".


O ator que já viveu Greta Garbo, Isadora Duncan e Eva Perón nos palcos nacionais e internacionais, repete nesta montagem o mesmo cuidado que teve com as mulheres: cobre Lola com um figurino suntuoso, trazendo as assinaturas de Christian Dior e Coco Chanel. São mais de 50 trocas de roupas. Também estará à venda nesta temporada um CD com a trilha sonora do espetáculo, contendo músicas de cabaré que foram proibidas pelo nazismo.

Serviço: "Lola", escrito, dirigido e protagonizado por Roberto Cordovani. No elenco estão Renata Vanucci, Marcio Miranda, Valber Silva, Sérgio Cardoso, Christiano Sanches, Gilberto Martins e Décio Alves. De quinta a sábbado às 21 horas e domingo às 19 horas, no Guairinha. Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00 (estudantes).


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