A divulgação dos resultados dos vestibulares da UFPR e da PUC nesta semana não são motivo de euforia apenas para os vestibulandos, mas também para os veteranos que ingressaram na vida acadêmica há pelo menos um ano. Estes preparam uma divertida recepção para os novos colegas, conhecida como trote. Consagrado como um ritual de passagem do estudante para a vida acadêmica, o trote universitário também promove a integração entre calouros e veteranos.
Para preparar a festa, os centros acadêmicos se reúnem e montam barraquinhas em um local específico do campus para receber os novatos. No caso da UFPR, que tem seus resultados divulgados nesta sexta-feira, às 14h, o local é o pátio da Reitoria. Os alunos aprovados dispostos a comemorar devem se dirigir à barraca de seu curso, onde serão recebidos pelos veteranos, que jogam os calouros em um cercadinho de lama. Apesar de parecer um batismo exclusivo dos novos, no final da festa universitários novos e antigos terminam todos enlameados e sorridentes. De quebra, há distribuição gratuita de chope e shows com as bandas de rock Maremotos, Psycho Classics, Tsunami e Tarja Preta, em um palco montado no local.
Um pouco de história
Esta forma de comemorar as novas turmas que entram nas universidades teve suas origens na antiguidade, mas ficou mais popular na Idade Média. O trote mais semelhante ao que temos hoje começou em Portugal, na universidade de Coimbra, com algumas diferenças. A idéia era que os novos alunos fossem recebidos pelos veteranos com uma preocupação acadêmica. Após a meia-noite, grupos de veteranos saiam às ruas para verificar se os calouros não estavam bebendo ou vagando pela noite. Se algum fosse pêgo nestas práticas, era punido tendo seu cabelo tosado - uma forma de fazer com que se dedicassem aos estudos.
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Caso algum calouro fosse rebelde, havia um "julgamento" com direito a juiz e advogados (de defesa e de acusação). A pena poderia ser varrer a escadaria da Catedral da cidade, ou aparecer à saída da missa vestido de pijama e carregando uma grande mala de viagem. Estas brincadeiras foram sofrendo variações com o passar dos anos até chegar no trote como conhecemos hoje. Não foram encontrados registros sobre a origem do banho de lama.
Ameaça de extinção
Nos últimos três anos, algumas universidades brasileiras têm iniciado uma batalha para mudar o conceito do trote universitário, condenando as brincadeiras tradicionais (acusadas como sendo de mau gosto). Em seu lugar, estão sendo implantadas atividades sócio-culturais, tais como visitas a entidades sociais, palestras e doações de sangue, alimentos, roupas e remédios.
Estes são os trotes solidários ou trotes da cidadania, que têm se proliferado após um incidente ocorrido em na USP (Universidade de São Paulo). Em 1999, o calouro Edson Hsueh, de Medicina, foi vítima de um excesso cometido por um de seus veteranos, que o jogou em uma das piscinas do campus, sem que ele soubesse nadar. O calouro morreu afogado e hoje os trotes tradicionais estão proibidos na USP. Por causa de um indivíduo que não soube brincar, a imagem do trote como ritual de transição ficou manchada e uma universidade inteira acabou pagando por sua irresponsabilidade, ficando privada da comemoração.
Que os trotes solidários sejam benéficos, isto é inegável. Mas eles bem que podiam mudar de nome, pois a palavra trote sugere brincadeira entre veteranos e calouros. E isto é algo que esta nova categoria de trote quer tirar de circulação. Independente disto, os trotes realizados no dia da divulgação dos resultados e nos primeiros dias letivos continuam sendo praticados, sem que excessos sejam cometidos. As muitas brincadeiras debochadas, apesar de serem acusadas por alguns como "violentas" ou "humilhates" são responsáveis por iniciar grandes amizades (e até casamentos). Se você for aprovado, leve tudo na esportiva e aproveite a lama enquanto ainda é tempo, pois um dia o processo de extinção do trote tradicional pode chegar em Curitiba.
No entanto, alguns velhos costumes vão demorar a morrer. Exemplo disso é o trote da cidadania promovido pelo curso de Administração da UFPR, que conduz calouros até um vilarejo da periferia, para que passem uma tarde de sábado brincando com as crianças do local e distribuindo alimentos para a comunidade. Mas nem tudo são flores para os calouros, pois os veteranos costumam surpreendê-los durante a viagem pintando seus rostos com tinta guache - mostra que algumas brincadeiras clássicas não serão abolidas tão cedo.