Mafalda, quem diria, já é quarentona. Foi no dia 29 de setembro de 1964 que a atrevida personagem criada pelo desenhista argentino Quino apareceu pela primeira vez numa tira de quadrinhos.
A estréia ocorreu no semanário portenho Primera Plana, no qual a menina cativou leitores durante cinco meses até migrar para o jornal El Mundo e depois para o Siete Dias.
A pirralha desbocada deu reconhecimento a Quino, que já atuava profissionalmente com humor gráfico há mais de uma década. Aliás, a personagem fora criada dois anos antes de sua aparição na imprensa, encomendada para uma campanha publicitária de uma fábrica de eletrodomésticos. O cliente, porém, acabou recusando o trabalho e os produtos nunca foram lançados.
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Mafalda foi publicada até 1973, quando o autor resolveu pôr fim às tiras da personagem alegando que começava a ser repetir numa atitude similar tomada nos anos 80 pelo cartunista brasileiro Angeli ao ''matar'' a célebre Rê Bordosa. Obviamente, não faltaram lamentações e insistentes pedidos de leitores para a continuidade da série.
O criador, contudo, manteve a decisão ao mesmo tempo em que sua criatura conquistava europeus e países da América Latina. Traduzida para 10 idiomas, ela passou a encantar sucessivas gerações perenizando-se na galeria das heroínas imortais das histórias em quadrinhos.
Já foi garota-propagada de campanhas da Unicef (fundo nas Nações Unidas para a Infância), além de motivo de selos e cartões-postais.
O Brasil acolheu as estripulias da garotinha de olhos argutos, boca rasgada e farta cabeleira em 1970 nas páginas de uma revista de pediatria e pedagogia destinada aos pais, onde cada texto vinha ilustrado com uma tira da personagem.
De lá para cá, alguns livros já foram publicados pela editora Martins Fontes trazendo coletâneas de suas aventuras e alguns continuam disponíveis em catálogo incluindo o volumoso ''Toda Mafalda''.
O segredo do sucesso da personagem estaria nas sacadas bem-humoradas contra tudo o que considera errado ou injusto no mundo. ''O que eu penso da Mafalda não importa. Importa mesmo é o que a Mafalda pensa de mim'' declarou, certa vez, o escritor argentino Julio Cortazar. Nas tiras, a menina é flagrada com frequência acompanhando o noticiário com ouvido colado ao rádio ou lendo o caderno de política do jornal.
Está sempre insatisfeita com a ordem das coisas. Quando não faz perguntas cabeludas para os pais, divide suas angústias com os amiguinhos de rua e da escola.
Manolito é o garoto completamente integrado ao capitalismo, convencido de que o valor essencial da vida é o dinheiro. Já Miguelito é o oposto, politizado e inconformado com sua condição de criança.
Felipe, por sua vez, é o eterno sonhador que detesta ir à escola e deseja ser um caubói tipicamente americano. Susaninha, por fim, incorpora a mulher pré-feminista, fútil e fofoqueira cujo grande sonho é apenas casar e ter filhos.
Mafalda repudia o universo adulto, reinvidicando o direito de ser uma menina que não quer incorporar os valores e a visão de mundo dos mais velhos.
Em uma das tiras, ela perguntava ao pai: ''De que programa de televisão você mais gostava quando era pequeno?''. O pai responde: ''Quando eu era pequeno não havia televisão''. Ela: ''nãão?''. Frustrada, acrescenta: ''Então pra que você era pequeno? Que bobo!''.
Valendo-se da inocência, temperada pelo discurso precocemente político, Mafalda surgia em outra tira tentando endireitar o mundo pendurando seu globo terrestre de pé na parede de casa.