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Para onde vai a arte em Curitiba?

Elisa Marilia Carneiro - Folha do Paraná
30 jan 2001 às 10:08

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Trazer a cultura para perto da população deve ser a diretriz da política cultural de Curitiba. As opiniões sobre esse tema começaram ontem a ser expostas no seminário "Cultura: Criação e Trabalho", no Salão de Atos do Parque Barigui, com a presença de representantes da classe artistica, especialistas em modelos alternativos e público em geral.

Com o slogan "Curitiba cidade social", proposto pela Prefeitura de Curitiba para esse seminário, os produtores artísticos entendem que a administração municipal tenha entendido o recado das urnas na última eleição e esteja procurando desenvolver uma cidade mais justa e solidária.

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Para o palestrante convidado, professor Danilo Miranda, diretor do Sesc São Paulo, toda essa discussão é uma questão de política pública. "Trata-se de dar oportunidade para que aqueles que não têm acesso às produções culturais, tenham. Isso se faz facilitando a infra-estrutura - instalações e áreas adequadas -, o poder público tem de fomentar, criar platéia e criadores. Fundamentalmente é uma linha de atuação que se tenha um objetivo e coloque-o de forma bastante clara. Isso é uma função pública, claro que com aliados", afirma Miranda.

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Esses parceiros devem ser empresários da iniciativa privada, que cada vez mais sentem a necessidade de participar da vida cultural das cidades onde estão instaladas. "É uma visão estratégica porque perdem prestígio se não fizerem isso. Esse é um fator que tem de ser usado em favor da política cultural", reforça.

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A dificuldade em se colocar em prática essa política seria, segundo Miranda, por que as pessoas não têm um convencimento exato disso, nem todos percebem a essencialidade da importância da área cultural. Não percebem o alcance, não só da área cultural, mas também da educação, da saúde preventiva, saneamento básico. O que existe é um desleixo com relação a perspectivas de longo prazo, que não tragam dividendos políticos ou eleitoreiros imediatos".


Para o presidente da Fundação Cultural, Cássio Chamecki, o importante desse seminário é ouvir o que as pessoas têm a dizer. "Elas não tinham um espaço para expor suas opiniões. A elaboração de uma política cultural vai ter como base as discussões dessas reuniões", garante.

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O primeiro passo será, segundo Chamecki, a definição dos elementos para uma mudança de conceitos de uma orientação social. "É importante que o degrau econômico que existe não seja também cultural. O que percebo é que os talentos daqui não conseguem se desenvolver. Por isso vamos priorizar a cultura local e também trazer o que acontece no mundo para que possa haver um comparativo".


A cineasta Berenice Mendes chamou a atenção do público para os dizeres do banner "Curitiba capital social" que está sendo usado pela primeira vez. "Até o ano passado os dizeres seriam capital ecológica. Essa demanda foi sentida nas eleições. Nessas discussões, três pontos devem ser salientados: primeiro se queremos que Curitiba continue com a visão de exceção positiva - Curitiba como cidade boa para negócios ou se Curitiba onde as crianças produzem arte e não cheiram cola. Como podemos materializar essa exceção positiva", explica.

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"Segundo", continua, "é o significado da noção de ética na criação da imagem e na ação socio-cultural em si. Isso significa pensar a cidade para as pessoas, para a formação do ser humano. O terceiro ponto é a coerência entre a fala institucional e a prática real. Esse é o primeiro seminário cultural em toda a história dessa cidade e a gente já pode perceber a sua importância.


"Mas no principal jornal de circulação em Curitiba não há uma linha sequer sobre esse encontro, e estampa na capa uma matéria sobre a iniciativa da cineasta Tizuka Yamazaki de montar aqui uma escola de cinema. Ela diz que no Paraná há mais recursos na área oficial e fala da idéia da instalação da escola que por enquanto é apenas cogitação da assessoria de alto escalão da Fundação Cultural e da Secretaria Municipal de Educação. Que história é essa? Que dinheiro é esse? Vamos abrir o jogo", questionou Berenice, com o caderno de cultura local nas mãos, sob aplausos calorosos da platéia.


Para a produtora de artes cênicas Yara Sarmento, o melhor ainda estará para acontecer. "Amanhã (hoje) os grupos começam a debater e deverão elencar propostas nas diversas áreas da cultura." Segundo ela é preciso entender a função social da cultura e democratizar o acesso da população aos bens culturais. Além do lazer cultural, por intermédio das histórias que são contadas, deve-se dar a possibilidade de o público refletir, ter auto-conhecimento, portas abertas e conhecer seus direitos e deveres de cidadania. Essa é a função da cultura", preconiza.

A opinião do cineasta Paulo Munhoz é de que cultura é feijão. "Cultura é a ferramenta de transformação. Se as pessoas estão sem feijão nos pratos é por falta de terem tido uma estrutura cultural que lhes construisse a plantação de feijão e os articulasse no sentido de mudar a comunidade em torno. É preciso que se desenvolvam linguagens culturais e isso se faz desde a infância, da mesma forma que a gente tem de se alimentar de cultura, como de feijão", reconhece.


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