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Pataxó: o índio no espelho

Elisa Marilia Carneiro - Folha do Paraná
07 dez 2000 às 10:00

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Um dia antes da chegada à Curitiba do Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, que alerta sobre o fim de uma civilização e início de uma era de desaparecimentos para dar lugar a uma uniformidade onde tudo é igual a tudo, a fotógrafa Milla Jung abre sua exposição "Pataxó, um índio no espelho", hoje, às 19 horas, no Memorial de Curitiba.

Para Milla, somos todos agentes da catástrofe em que vivemos. "Isso inclui os índios. Eles são consequência de como agimos". Ela é pessimista em relação ao futuro dos índios brasileiros: "não há esperança. Não é mais possível um regresso. O que faz a gente insistir é a possibilidade de um respeito à individualidade".

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O papel da fotografia, analisa Milla, é construir a memória coletiva e mostrar que as diferenças culturais têm de ser respeitadas. "Para saber quem somos hoje é preciso saber quem fomos. Devemos parar e pensar em que podemos nos tormar" alerta.

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Milla diz que não imaginava encontrar os índios Pataxó vivendo da forma como estão na aldeia Coroa Vermelha, em Porto Seguro (BA). "Achei que restasse um pouco de alegria, alguma emoção. Mas me deparei com uma realidade cruel. Os Pataxó estão vivendo a representação deles mesmos."

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Para sobreviver, os Pataxó, que em casa vestem roupas como os brancos, se fantasiam de "índios" para os turistas, vendem objetos produzidos em fábricas como se fossem artesanato indígena. Representam a farsa de si mesmos. "Há um grande vazio entre o que os índios foram e o que são. Não existe mais a natureza exuberante e o branco não é índio. "Os Pataxó representam o que não são mais. Vivem uma imagem folclórica de si mesmos, que eles nem sabem como é", conta.


Na festa dos 500 Anos do Descobrimento, quando a fotógrafa esteve em Porto Seguro, o projeto era fotografar em cores. Um contato com os índios fez que mudasse imediatamente o foco de suas atenções. O filme passou a ser preto e branco e o sentido da viagem mudou completamente. A miséria, a influência da televisão, a degradação dos valores tradicionais, a submissão diante do branco e de instituições como a igreja passaram a ser os problemas abordados no trabalho.

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Mas os Pataxó são teimosos. Ainda resistem no mesmo lugar onde foram encontrados pelos europeus. "De alguma forma, os índios quiseram tirar proveito da festa dos 500 Anos. Para tirar uma foto, no início eles pediram R$ 4 mil. Parecia que estavam dizendo: me valorizem, mesmo que seja pagando caro". De alguma maneira, a exposição dos Pataxó fala também do homem brasileiro com suas raízes no sertão, descendente de índios, mas sem saber disso.


O projeto da exposição foi patrocinado pela Telepar Brasil Telecom por intermédio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Exposição "Pataxó: o índio no espelho", da fotógrafa Milla Jung. Abertura hoje, às 19 horas, na Sala Paraná do Memorial de Curitiba (Largo da Ordem). A mostra permanece até o dia 21 de janeiro de 2001, de terça a sexta-feira, das 9h às 18 horas; sábados e domingos, das 9h às 15 horas. Entrada franca.

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História


Os Pataxó eram índios selvagens que viviam na mata entre os rios das Contas e Jequitinhonha. Com a chegada do cacau nessa área, começaram os conflitos com os brancos. Os Pataxó mais pacíficos desapareceram em pouco tempo e os mais hostis se embrenharam no mato.

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A chegada de um quartel do Rio Pardo fez os Pataxó se dividirem em dois grupos: um ficou no Sul e o outro foi para o Norte, os chamados Hã Hã Hãe. As batalhas com os brancos passaram a ser tão constantes e violentas que o governo da Bahia decidiu aldeá-los. Os do Sul ficaram na região do Monte Pascoal e os Hã Hã Hãe foram encaminhados para uma área chamada Caramuru-Paraguaçu.


Depois de abandonar suas terras, fugir de policias e de fazendeiros, trabalhar como escravos, ter sua gente espancada e assassinada, suas mulheres violentados, os Pataxó, em 1980, começaram a reivindicar suas terras de volta. Os de Barra Velha voltaram silenciosamante, com medo. Os de Caramuru, vieram prontos para qualquer coisa. A luta tem sido covarde e sangrenta, mas eles não desistem e são muito resistentes.


Hoje existem 15 aldeias no extremo Sul da Bahia e uma em Minas Gerais. Há imensas diferenças entre os Pataxó dessas aldeias. Em Barra Velha, a aldeia-mãe, os índios são os que vivem mais isolados e estão um pouco mais próximos da natureza. São também os mais desconfiados.

Em Coroa Vermelha, pelo contato diário com tusistas, os índios passaram a explorar a imagem folclórica como forma de sobrevivência. Em Caramuru, são mais radicais e engajados politicamente. Vivem na miséria absoluta. A terra não é boa para plantar e não há água potável. Em Barretá, são absolutamente tristes. Estão ilhados entre fazendeiros, pisam entre escorpiões e, depois do acontecimento da laqueadura coletiva entre as mulheres, não podem mais ter filhos.


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