Em cartaz no Auditório Cleon Jacques, em Curitiba, "Dançando sobre o vulcão ou a ilha dos escravos" é uma adaptação da obra "A Ilha dos escravos" (escrita em 1734), do conceituado autor francês Pierre Marivaux. "Este texto traz questões humanistas, que ainda merecem ser discutidas e revistas hoje, 250 anos depois dele ter sido escrito", defende o diretorFlávio Stein, responsável pela montagem. A história se passa em uma ilha fictícia, onde as personagens se abrigam após o naufrágio de sua embarcação. Perdidos nessa ilha, dois aristocratas e seus respectivos criados encontram uma sociedade regida por ex-escravos, agora homens livres. O autor propõe então, uma inversão de papéis: patrões tornam-se empregados e empregados viram patrões. João Adolfo (interpretado por Marcio Abreu) e Maria Elizabete (Rosana Stavis), os patrões, vestem o perfil e as roupas de seus empregados - Pedrolino (Paulo Alves) e Marinalva (Anna Zétola) respectivamente. Como conseqüência dessa troca, as personagens são obrigadas a passar por uma viagem de auto-conhecimento. Quem determina as regras do jogo é Sebastião (Alvaro Bittencourt), um dos habitantes da ilha.
"Dançando sobre o vulcão ou a ilha dos escravos" leva seus personagens a um processo de humanização, visando reconhecer os preconceitos, o rancor e o autoritarismo de cada um. "A ilha, palco dessas reflexões, assemelha-se a uma colônia de reeducação, a uma 'clínica' da razão sendo, antes de tudo, o símbolo de um caminho de conhecimento que toca patrões e empregados" analisa Giorgio Strehler em sua montagem no Piccolo Teatro di Milano. O espetáculo discute, em paralelo aos acontecimentos mundiais atuais, as diferenças entre as culturas e as classes sociais e pretende refletir sobre as inseguranças e, principalmente, sobre as relações afetivas.
Dois músicos dividem o palco com os atores. Cláudio Menandro e Orlando Fraga tocam ao vivo durante a peça, acompanhando as vozes e, por vezes, o canto das personagens. "Participar do teatro é uma experiência que dificilmente o músico tem, porque normalmente ele se envolve com a música pela música, sem a interação com os outros tipos de arte", afirma Cláudio Menandro. Entre os instrumentos de cordas utilizados para reforçar a sensação de uma ilha suspensa no tempo e no espaço estão o alaúde, a viola de arame e a viola de gamba, instrumentos "antigos". Para Flávio Stein, a participação dos dois músicos oferece uma liberdade de linguagem, relacionando a época de Marivaux com a atual de maneira mais efetiva. A música participa ativamente do espetáculo, sendo praticamente mais uma personagem da peça. "Se o ritmo do ator em cena ou da platéia muda, o músico participa, acompanhando o momento deles, incentivando as reações de ambos, através da intensidade na interpretação da música, o que não acontece quando a música é gravada", explica Orlando Fraga. Compõe a dramaturgia sonora da peça composições de autores barrocos - como C. Monteverdi, H. Purcell e M. Marais - e de outros períodos.
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A adaptação de Flávio Stein pretende resgatar a poesia e o lirismo característicos da obra de Marivaux. Personagens da commedia dell’arte, confusões e intrigas típicas das comédias do século XVII e XVIII trazem o humor para temperar as discussões e reforçam sua habilidade de unir o bom entretenimento à reflexão, valorizando temas sociais e espirituais. Assim como na obra de Marivaux, essa montagem de Flávio Stein retrata cada personagem com a sua própria verdade. A peça mantém ainda, o prisma de esperança, característica desse autor humanista. Apesar das imposições da sociedade, o ser humano é livre, seja quem for, brasileiro ou francês, desse ou daquele tempo.
Serviço:
Dançando sobre o vulcão ou a ilha dos escravos
Adaptação do texto "A Ilha dos Escravos" de Pierre C. Marivaux (1688-1763)
Local: Auditório Cleon Jacques
Endereço: Parque São Lourenço, s/nº
Datas: de 12 de junho a 28 de julho, de quarta a domingo
Horários: de quarta-feira a sábado às 21h00. Domingo às 19h00
Ingressos: nas quartas-feiras 1 quilo de alimento não perecível (exceto sal). De quinta a domingo R$ 10 (inteira) e R$ 5 (estudantes e classe artística). Às quintas e sextas o ingresso pode ser trocado por um agasalho. As doações serão repassadas à Fundação Cultural de Curitiba, apoiadora do projeto, que ficará encarregada de distribui-las à população através do projeto Rede Sol.