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Recebendo o Sr. Green

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
06 abr 2001 às 09:29

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Por obra e graça do destino um jovem executivo aproxima-se de um judeu octagenário acomodado no casulo de sua existência. O velho com suas sólidas crenças, conceitos e preconceitos de hora para outra se vê às voltas com a visita obrigatória - o moço atropelou-o e foi condenado pela justiça a prestar serviços comunitários. A pena estabeleceu visitas semanais à vítima, e agora o irascível sr. Green tem pela frente esse fardo.

Rabugices e descobertas movimentam a comédia "Visitando o Sr. Green", estrelada por Paulo Autran e Cássio Scapin. Dois talentos de gerações distintas encontram-se no palco do Teatro Guaíra entre hoje e domingo na temporada do espetáculo que foi um dos grandes sucessos teatrais de São Paulo em 2000. Autran é quem conta:

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- Esta é uma peça que nasceu com sucesso. Tivemos praticamente um ano de casa lotada, coisa que eu não esperava. Os ingressos eram vendidos para a terceira semana, porque nos 15 dias seguintes a lotação estava esgotada. O público adora e só interrompemos a carreira porque as viagens estavam marcadas.

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A temática da montagem é o preconceito. "Ela volta-se contra a intolerância", explica o ator. "Ao mesmo tempo que ela diverte, também emociona. Há muito tempo não ouvia coisas tão bonitas dos espectadores ao final de um espetáculo. As pessoas divertem-se e se emocionam".

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O aplauso não vem somente das apaixonadas platéias como também da crítica que escolheu Paulo Autran o melhor ator do ano passado, concedendo-lhe o ambicionado troféu da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Elegante, o artista divide as luzes e as palmas com seu colega de palco, Cássio Scapin. "Ele está ótimo no papel", comenta.


Aliás, o convite para defender Ross Gardiner, empregado de uma empresa de cartões de crédito, chegou a Scapin pelo próprio Autran. Depois de ver o moço em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", não houve dúvidas de que este seria seu parceiro.

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Na condição de produtor da montagem, Autran convidou Elias Andreato para a direção. Andreato comenta: "Quando Paulo me chamou eu disse que estava disponível para ele e para o trabalho, independentemente do aspecto financeiro". Estar ao lado de seu ídolo é um sonho: "Podem calcular a minha emoção hoje dirigindo Paulo Autran, podendo olhar dentro de seus olhos, tocar suas mãos, ficar cara a cara com todo seu talento e sua arte".


Cássio Scapin, assim como tantos outros que atuaram com Autran, detém-se em falar na generosidade do ator que o ajudou a encontrar o tom certo do personagem. "Paulo me ajudou muito. Trabalhando com ele percebi a importância da palavra, da construção pela palavra. Minha geração é muito acelerada, quer dar o recado logo, não se delicia mais com o poder da palavra. Isso, para mim, foi muito importante".

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Admirações e afetividades à parte, "Visitando o Sr. Green" inclui-se naquelas histórias mágicas de caminhos inconcebíveis até chegar a determinado artista. Foi o que aconteceu com Autran e o texto do americano Jeff Baron. O ator procurava peças, tinha algumas em vista, mas nada que lhe tirasse o oxigênio. Entre essas não estava a obra de Baron, inédito no País.


Foi uma ex-funcionária do corpo diplomático dos Estados Unidos que serviu no Rio de Janeiro e em Brasília, a responsável pela vinda de Green até São Paulo. Em Miami ela assistiu à estréia do espetáculo e num passeio ao Brasil trouxe o texto de presente ao ator. Os dois não se conheciam, perderam-se os contatos mas ficou o livro - e a desistência do artista em continuar a leitura. Estava ali o que ele procurava.

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"Como dizemos em teatro, os personagens da peça são dois pratos que nenhum ator recusaria. Baron escreveu um texto inteligente, com ótimos diálogos, e mostra todo tipo de preconceitos. Os judeus são sempre vítimas do preconceito. Mas Baron, que é judeu, mostra que eles também têm os seus preconceitos. O texto combate todos eles".


Em conversa telefônica com o Folha Dois, Paulo Autran comentou que o teatro tem uma emoção diferente de qualquer outro veículo, como a televisão e o cinema. "Quem vê um bom espetáculo na vida, fica sempre esperando por outro". Platéias é que não faltam "no Brasil inteiro", ufana-se. Melhor ainda é que estão em franca expansão, afirma.

Serviço: "Visitando o Sr. Green", de Jeff Baron. Direção de Elias Andreato. Com Paulo Autran e Cássio Scapin. No Guairão, dias 6 e 7, às 21 horas. Classificação: 12 anos. Ingressos: R$ 25,00 (não serão aceitos cheques).


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