Dispensada pelo governador Jaime Lerner, a ex-secretária da Cultura Lúcia Camargo viajou para a Itália na última terça-feira com uma dúvida: ela não sabe se quando voltar para o Estado, nos próximos dias, as duas meninas dos olhos da pasta que administrou - a TV e a Rádio Educativa - continuam vinculadas à Secretaria da Cultura ou se passam a ser de alçada da Comunicação Social. Corre nos bastidores a versão de que o novo secretário da Comunicação, o ex-ministro Rafael Greca, quer ampliar os domínios da pasta e incluir as duas autarquias sob o seu comando.
Por enquanto, Greca mantém o assunto em banho-maria, para não polemizar antes da hora. Em entrevista à Folha, anteontem, disse que o governo Lerner tem obrigação de ampliar a abrangência da rádio e da televisão e que "isso será uma prioridade". Greca não comentou no entanto, o que seria feito para concretizar essa ampliação. "Tanto faz se for eu ou a Mônica Rischbieter (a atual secretária da Cultura) que mandar. Somos amigos e vamos resolver isso em casa", garantiu Rafael Greca, classificando a possível transferência como "um detalhe de organograma".
Procurada pela Folha, Mônica Rischbieter não quis comentar o assunto. A sucessora de Lúcia Camargo quer passar longe de confusão com Greca. Entretanto, a nova secretária já teria se movimentado dentro do governo, antes mesmo de assumir formalmente a pasta. Na noite de segunda-feira, a filha do ex-ministro Karlos Rischbieter, que é amigo pessoal do governador Jaime Lerner, teria tido um encontro com interlocutores de peso no governo. Esses interlocutores lhe garantiram que tanto a tevê como a rádio ficam sob a responsabilidade da Cultura.
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Na discreta queda-de-braço com Rafael Greca, Mônica Rischbieter já tem importantes aliados. O jurista René Dotti, que foi o responsável pela incorporação das autarquias durante o governo Alvaro Dias (1987 a 1990), é contra a transferência. "São coisas diferentes. A Comunicação gira em torno do governador e a Cultura está a serviço da arte". Dotti classifica a tese de transferência como uma atitude autoritária, onde "a cultura estaria perdendo a sua voz e a sua imagem".
Criada em 3 de outubro de 1987, a Rádio e Televisão Educativa do Paraná (RTVE) são autarquias vinculadas à Secretaria de Estado da Cultura conforme decreto nº 6633, de 16 de março de 1990. "Foi uma conquista para a população", reforça Dotti. Ele recorda que antes do decreto de 1990, as autarquias funcionavam como canais de propaganda em favor do governo. Para Dotti, o que aconteceu deve servir de referência para que a radiofusão do Paraná não retorne para a Comunicação.
Os produtores culturais também estão apreensivos. "É apenas a coordenação que mudaria ou a política de incentivo?", questiona Victor Aronis, da Calvin Entretenimento, que produz o Festival de Teatro de Curitiba. Na semana passada, a Calvin propôs uma parceira com a TVE para veicular o programa "Camarim", que tem o objetivo de divulgar o trabalho de atores paranaenses. Ele não sabe o que vai acontecer com o projeto caso ocorra uma possível transferência.
Lúcia Camargo embarcou para a Europa convicta de que a mudança de organograma é desnecessária. Ela salienta que o Paraná seria uma exceção no País, já que as 23 rádios e televisões estatais do Brasil têm vínculo com as secretarias da cultura de seus respectivos estados. "Não há necessidade de transferir se o objetivo é fazer bons programas", opinou antes de viajar. Lucia foi a Veneza para participar do Projeto Latina, última programação acertada durante seu cargo, e retorna em quinze dias.
A ex-secretaria da Cultura não esconde a sua apreensão ao comentar o futuro da Rádio e Televisão Educativa que, segundo ela, se transformaram num significativo canal de comunicação entre o público e os artistas do Paraná. "Hoje a rádio é considerada uma das melhores do País. Temos quinze mil ouvintes por minuto."