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Após Conmebol agradecer a Bolsonaro, governo não confirma Copa América

Alex Sabino, Carlos Petrocilo e João Gabriel - Folhapress
01 jun 2021 às 09:00
- Pixabay
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Horas depois de a Conmebol agradecer ao Brasil por sediar a Copa América a partir do próximo dia 13, o governo federal foi a público dizer que a realização do evento no país não estava confirmada.


Diante da repercussão negativa do anúncio feito pela entidade que comanda o futebol no continente, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) afirmou no início da noite que a realização da Copa América no país ainda não está definida, mas disse que o evento, caso ocorra, deverá seguir protocolos sanitários e ter a vacinação de atletas e comitivas.

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"Não tem nada certo. Estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível atender", declarou o ministro. Uma decisão deve ser anunciada ainda nesta terça (1º).

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Não está clara como seria feita essa logística para que todos recebessem as duas doses da vacina antes do início da rodada inaugural. O intervalo entre cada dose, a depender do imunizante, pode variar de 21 dias a três meses.

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A confederação sul-americana comemorou na manhã desta segunda-feira (31) a mudança da sede da competição e agradeceu à CBF e ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), dando a entender que a realização do evento estava confirmada. A busca por um local se deu após a Argentina avisar de forma oficial à Conmebol de que teria de abrir mão da copa por causa da pandemia da Covid-19.


Antes disso, a Colômbia havia feito o mesmo, mas devido a protestos populares contra o governo.

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Durante todo o dia, a CBF e a Conmebol tentaram confirmar cidades para abrigar os jogos, sem sucesso até a publicação deste texto.


A Conmebol sabia desde a última sexta-feira (28) sobre as dificuldades da Argentina para abrigar a competição deste ano e já buscava alternativas. O Brasil apareceu como salvador do torneio.

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A preferência da confederação era por realizar o evento nos Estados Unidos, caso a Argentina realmente pulasse fora do barco. Mas a nação da América do Norte não aceitou.


"O melhor futebol do mundo trará alegria e paixão a milhões de sul-americanos. A Conmebol agradece ao Presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, bem como a Confederação Brasileira de Futebol, por abrir as portas daquele país ao que é hoje o evento esportivo mais seguro do mundo. A América do Sul vai brilhar no Brasil com todas as suas estrelas!", diz postagem no Twitter do entidade.

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A intermediação entre Bolsonaro e Conmebol foi feita pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo. Houve uma conversa do mandatário da confederação sul-americana, Alejandro Domínguez, com o político brasileiro, que aceitou sediar a Copa em princípio. A reportagem soube, porém, que Bolsonaro não imaginava que o anúncio seria feito imediatamente.


Um dos desejos de Domínguez é que pelo menos a final aconteça com a presença de público. O mesmo pedido havia sido feito ao presidente argentino, Alberto Fernández, que havia descartado essa possibilidade. O governo federal brasileiro disse que esse tema deve ser debatido com o estado sede.

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Pernambuco foi um que já recusou a possibilidade de receber os jogos.


De acordo com a assessoria de imprensa do governo estadual, "nas últimas semanas, foi identificada uma nova aceleração dos casos [da Covid-19], que motivou novas medidas restritivas no Agreste e na Região Metropolitana. Apesar de ainda não ter sido procurado oficialmente pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Governo do Estado reforça que o atual cenário epidemiológico não permite a realização de evento do porte da Copa América no território de Pernambuco".

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Em nota, o governador de São Paulo, Joao Doria (PSDB), disse não se opor a que o estado seja uma das sedes.


"O governo de São Paulo não fará objeção caso a CBF defina São Paulo como um dos locais de jogos da Copa América, desde que os protocolos do Plano São Paulo sejam obedecidos."


A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), escreveu em sua conta no Twitter que o estado não está disponível para abrigar o torneio.


O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), diz ter sido procurado pela Federação Gaúcha e que teria que falar com o governo do estado. O governador Eduardo Leite (PSDB) considera "inoportuno" realizar partidas do torneio no Rio Grande do Sul, mas se houver algum convite vai "levar o assunto para discussão com os outros Poderes e entidades que representam a sociedade gaúcha".


O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), sinalizou estar disposto a receber a final no Estádio Nacional Mané Garrincha. No início do ano, ele tentou realizar a Supercopa do Brasil no local com a presença de torcedores, mas a ideia não vingou.


Consultada pela reportagem, a administração da arena de Brasília disse que todas as datas possíveis para a Copa América estão disponíveis, assim como toda estrutura do local.


Uma das cidades cotadas para receber o evento, Goiânia tem o apoio do Atlético-GO, representante da região na Série A do Campeonato Brasileiro. Mas nem o prefeito da cidade, Rogério Cruz (Republicanos), nem o governador Ronaldo Caiado (DEM) se pronunciaram.


"O prefeito [Cruz] é conselheiro do Atlético, e tem interesse. E o [Ronaldo] Caiado, governador, é de direita, não vai ter problema, não. Será uma grande oportunidade, coloquei meu estádio á disposição e não vai ter público, estou cansado desse país sensacionalista", afirmou Adson Batista, presidente do Atlético-GO.


Já o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), afirmou no Twitter que o estado não recebeu nenhuma comunicação oficial da CBF sobre a realização de jogos na Arena da Amazônia. Disse também que, se confirmada a intenção, nenhuma decisão será tomada sem avaliar as condições epidemiológicas e sanitárias.


Há locais em conflito entre a autoridade política local e estadual. O prefeito de Cuiabá -uma das cidades cotadas- Emanuel Pinheiro (MDB) é contra as partidas na capital. No entanto, a reportagem soube que o governador Mauro Mendes (DEM) é a favor.


"Estamos na iminência de uma terceira onda da Covid-19 e não podemos nos descuidar agora. Vejo com muita preocupação a realização da Copa América nesse momento tão crucial em que novas variantes do vírus surgem a toda hora. Nosso foco deve ser no avanço da vacinação e no tratamento aos infectados", disse Pinheiro.


O governo do Rio de Janeiro vai se reunir com a Prefeitura da capital para juntos decidirem se a cidade tem condições de receber jogos da Copa América. A decisão será pautada por critérios técnicos e pela situação da pandemia no estado, explicam.


Em 2019, quando o Brasil sediou o torneio pela última vez, Bolsonaro fez diversas aparições em público. Na semifinal, por exemplo, deu uma volta no gramado durante o intervalo do jogo da seleção contra a Argentina, o que chegou, inclusive, a irritar Lionel Messi.


Na final, o presidente esteve ao lado de Alejandro Domínguez, foi ao gramado para a cerimônia de premiação e se juntou aos jogadores com a taça de campeão.


A boa vontade de Bolsonaro foi uma forma de se mostrar perto da seleção e gerar ganho político com isso. No Maracanã, após a vitória sobre o Peru em 2019, ele fora recebido com os gritos de "mito" por alguns dos atletas.


A influência do governo federal para trazer um evento do tamanho da Copa América para o Brasil em plena pandemia já repercute no meio político. Ciro Gomes, do PDT, pediu à CPI da Covid a convocação de Rogério Caboclo para dar explicações.


"A CPI da Covid tem que agir preventivamente. Convocar o presidente da CBF e as autoridades esportivas para saber quais os cuidados que serão tomados para realização da Copa América. A questão não é gostar ou não gostar de futebol. Eu adoro! A questão é não brincar com a vida dos brasileiros. E não fazer demagogia a troco da morte de inocentes", escreveu no Twitter.


O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) ingressou com ação popular na Justiça Federal do Distrito Federal, pedindo que seja suspensa qualquer autorização para a realização do campeonato. Seu partido pretende também acionar o STF (Supremo Tribunal Federal).


"Quando vi no noticiário que a Argentina desistiu da Copa América, pensei que trariam para cá. A Conmebol precisava de uma pessoa com muita irresponsabilidade como o Bolsonaro. Ele acha que 470 mil pessoas [número aproximado de mortes pela Covid] não valem nada.


Precisamos é de vacina. Imagine realizar um evento com dez delegações, profissionais de imprensa. Precisamos de sanidade e vacina", diz Delgado à reportagem.


"Os números nossos [da pandemia] e a proibição de eventos não permitem que o presidente Jair Bolsonaro, deliberadamente, decida que uma Copa desta importância, com dez seleções de dez países onde a gente não sabe como está o controle da pandemia, seja realizada aqui, só pela questão financeira", completa.


Ainda não foram revelados em quais estádios o torneio será disputado. A Conmebol prometeu apresentar novidades ainda nesta segunda. No domingo, o Brasil chegou a marca de 462 mil mortes pelo coronavírus, com tendência de alta em alguns estados.​


Questionada pela reportagem, a CBF não quis se pronunciar sobre o evento neste momento. A entidade também cancelou a entrevista coletiva de jogadores da seleção brasileira em Teresópolis, prevista para o início da tarde desta segunda.


Procurada, a Secretaria Especial de Imprensa da Presidência não se manifestou sobre as negociações para que o país sedie a Copa América e orientou que o Ministério da Cidadania fosse procurado para prestar esclarecimentos. Até o momento, não houve retorno.


A mudança na sede não foi o primeiro obstáculo para esta edição do torneio. Inicialmente, a competição estava prevista para acontecer tanto na Argentina quanto na Colômbia.


As coisas começaram a degringolar no último dia 20 de maio, quando a entidade anunciou a retirada da Colômbia como sede.


A seleção brasileira, inclusive, faria sua estreia na Copa América contra a Venezuela, em solo colombiano, no dia 14.


A Conmebol, no último dia 20, chegou à conclusão de que o país, agitado por protestos sociais, não reunia condições de receber as partidas do torneio.


A decisão foi anunciada um dia depois de uma grande manifestação contrária à Copa América, em Bogotá. "Se não há paz, não há futebol", dizia a frase exibida em cartazes e também pichada nas paredes do estádio El Campín, um dos campos que receberia jogos do torneio.


A Colômbia vive um ambiente de acentuada tensão social, com protestos contra uma reforma tributária proposta pelo governo.


A repressão policial teve momentos pesados, e os conflitos resultaram em dezenas de mortes.​


A Copa América de 2021 é apenas o último problema enfrentado pela Conmebol na organização de seus torneios mais importantes nos últimos quatro anos.


Em 2017, a final da Copa Sul-Americana teve invasão ao Maracanã por torcedores flamenguistas, que também protagonizaram episódios de violência. A partida foi usada como uma das justificativas da entidade para passar a realizar decisões em jogos únicos.


No ano seguinte, a partida do título da Libertadores teve de ser levada para Madri após ônibus que levava a delegação do Boca Juniors ser apedrejado por torcedores do River Plate nas cercanias do estádio Monumental de Nuñez. Foi a primeira vez que o troféu de clubes mais importante do continente acabou decidido fora da América do Sul. Isso apenas foi possível porque a Qatar Airways, patrocinadora da confederação, pagou todos os custos.

Lionel Messi acusou a Conmebol de corrupção durante a Copa América de 2019 e insinuou haver um acordo para o Brasil ser campeão.
Ao final da mesma temporada, protestos populares fizeram com que a a final da Libertadores fosse levada de Santiago para Lima. A capital peruana havia sido vetada meses antes para receber a decisão da Sul-Americana por, teoricamente, não oferecer a estrutura necessária.


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