O ano de 2009 ficará marcado na carreira do árbitro londrinense Héber Roberto Lopes. Além de ter apitado alguns dos jogos mais importantes do Campeonato Brasileiro, ele foi eleito pela CBF o melhor árbitro da competição, vencendo dois nomes importantes do cenário nacional: o paulista Paulo César de Oliveira e o gaúcho Leonardo Gaciba, que havia vencido as quatro últimas edições do prêmio.
Suas atuações ficaram acima da média da arbitragem brasileira, que colecionou polêmicas ao longo do Brasileirão. Vale lembrar Grêmio e Palmeiras, pela 36 rodada, quando agiu corretamente ao expulsar os brigões palmeirenses Maurício e Obina, e Flamengo e Grêmio, jogo que deu o título ao rubro-negro carioca, no Maracanã lotado.
Aliás, apitar uma partida no maior estádio do mundo era um de seus sonhos. Neste ano, o londrinense também alcançou outro objetivo importante: apitou o jogo das Eliminatórias da Copa de 2010, Paraguai e Equador, em Assunção, e foi pré-selecionado para a Copa de 2014, no Brasil.
Leia mais:
Nordeste terá recorde de clubes no Brasileirão
Botafogo chega mais perto do título, e Corinthians da Libertadores
Londrina EC muda comissão técnica e contrata head comercial
Delegação do Botafogo chega ao Rio, e multidão lota praia para comemorar
Mas o londrinense que começou a apitar aos 13 anos na Vila Recreio (região central de Londrina) e integra o quadro de árbitros FIFA desde 2002, não pensa em parar por aí. Héber tem objetivos e sonhos muito maiores e reconhece que ainda precisa trabalhar muito para alcançá-los. O melhor árbitro do Brasil fala de sua carreira numa entrevista exclusiva à FOLHA. Confira alguns trechos:
Folha - O que significa este prêmio para você?
Héber Roberto Lopes - É a coroação de um trabalho bem realizado. O troféu é muito importante. Concorreram comigo dois árbitros acima da média, o Paulo César de Oliveira e o Leonardo Gaciba, e isso valoriza ainda mais. Recebi os cumprimentos de pessoas importantes ligadas ao futebol nacional e internacional e isso me deixou muito feliz.
Folha - Conte para nós como tudo começou.
Héber - Tinha 13 anos e estava sempre no campo da Vila Recreio. Acompanhava uma equipe chamada ''Revisora'', que jogava aos sábados. Um dia não tinha ninguém para apitar e o dono desta equipe (Sr. José Prestes) pediu que eu apitasse. Disse a ele que não queria, mas não teve jeito. Acabei tendo um bom desempenho e comecei a gostar e apitar todos os sábados. Até que o Amarildo Vieira Martins (na época, presidente da Liga de Futsal) me viu e me convidou para apitar futebol de salão em categorias menores. Hoje sou muito grato a estas pessoas e ao bairro pelo apoio que me deram.
Folha - Que balanço faz da sua atuação em 2009?
Héber - Acredito que alcançamos um equilíbrio muito acentuado. Em vez de dizer melhor árbitro, prefiro dizer que foi um ano equilibrado. Atuei em jogos importantes, difíceis, e o mais importante foi atingir este equilíbrio. Foi um ano maravilhoso, tivemos uma aceitação muito boa e poucas reclamações.
Folha - E da arbitragem brasileira em geral?
Héber - A arbitragem brasileira passa por uma renovação comandada pelo Sérgio Corrêa, presidente da comissão nacional de arbitragem, e toda renovação requer tempo, um período de adaptação. Quando se apita uma primeira divisão, há pressão de todos os lados, de dirigente, torcedor, imprensa, e isso torna as coisas mais difíceis. Foi um ano de transição, renovação, mas conseguimos deixar uma imagem positiva.
Folha - A que atribui este equilíbrio?
Héber - Ao amadurecimento. Me sinto mais tranquilo em campo. Antes apitava num ritmo mais acelerado e mostrava cartões de maneira exagerada. Hoje já consigo controlar melhor a expressão corporal e o trato com os jogadores. O respeito por parte dos atletas também aumentou. Isso tudo tem dado equilíbrio às minhas arbitragens.
Folha - Como tem visto esta renovação no quadro de arbitragem da CBF? Quem é o destaque entre os mais novos?
Héber - É importante para fortalecer a arbitragem brasileira. Entre vários nomes promissores, temos o Sandro Meira Ricci (DF). Ele fez um campeonato impecável, foi a revelação deste ano e em breve estará no quadro internacional da FIFA.
Folha - Qual sua opinião sobre o uso da tecnologia como tentativa de diminuir os erros de arbitragem no futebol?
Héber - Em breve teremos inserido no futebol o recurso tecnológico. O olho humano já está ficando aquém do que é necessário, em razão do avanço na preparação física dos jogadores que eleva cada vez mais a velocidade dos jogos. Mas o futebol não pode perder sua essência, os gols, a beleza e a polêmica, que também faz parte do espetáculo.
Folha - Como é ser reconhecido em sua cidade natal pelo seu trabalho no Brasil?
Héber - Para ser sincero, estou um pouco assustado com esse carinho que o torcedor londrinense tem demonstrado comigo. Mas sinto que é uma coisa verdadeira, um sentimento de amigo. É gostoso e é um prazer muito grande a gente receber esse carinho, estou muito feliz.
Folha - O que espera de 2010, ano da Copa da África do Sul?
Héber - Continuar com este equilíbrio, não deixar que esta badalação atrapalhe, até por que já temos os estaduais e a Libertadores em janeiro. Vou continuar com a mesma determinação para, quem sabe, repetir 2009. E torcer também para que o Simon (Carlos Eugênio Simon, árbitro brasileiro na Copa) e o Roberto Braatz, um dos melhores assistentes do mundo, façam um bom trabalho e representem bem a arbitragem brasileira na Copa.
Folha - Qual o seu grande objetivo na carreira?
Héber - Desde que comecei, tinha três objetivos em mente. Os dois primeiros já foram alcançados, apitar uma partida no Maracanã e entrar no quadro internacional. O terceiro, sem dúvidas, é atuar em uma Copa do Mundo. A semente já está plantada, fui pré-selecionado para um grupo de 23 árbitros na América do Sul para a Copa de 2014, no Brasil, e agora espero cumprir todos os requisitos, passar nos testes, respeitando os companheiros, e concretizar esse desejo.
Folha - Qual o jogo mais complicado que já apitou?
Héber - Grêmio e Palmeiras, no segundo turno do Brasileiro deste ano, no estádio Olímpico. Teve aquela confusão de dois jogadores brigando, clima tenso em campo, equipes lutando pela ponta da tabela. Foi complicado, mas tomamos as decisões certas.
(Nota: Neste jogo, os palmeirenses Maurício e Obina partiram para as vias de fato no intervalo do jogo. Na volta para o segundo tempo, Héber expulsou os dois e deixou o Palmeiras, que ainda brigava pelo título, com dois jogadores a menos em campo).
Folha - Quando não está apitando, você costuma assistir futebol? Gosta de jogar?
Héber - Assisto sim. Acompanho jogos de vários campeonatos, brasileiro, inglês, italiano e outros. Só agora nas férias que prefiro me desligar um pouco, mas sempre que posso, assisto sim. E jogo também com um grupo de amigos, geralmente às segundas-feiras, na minha folga.