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Ruas vazias

Bairro do Boca Juniors entristece e empobrece sem futebol

Folhapress
09 jun 2020 às 11:12
- Reprodução / Instagram
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No último dia 25, o estádio da Bombonera, um ícone da paisagem portenha e casa do time mais popular da Argentina, o Boca Juniors, acendeu suas luzes como se vivesse um dia normal de jogo. Mesmo sem receber partidas desde março, quando o futebol foi interrompido no país por conta da pandemia da Covid-19, os dirigentes decidiram que haveria uma comemoração dos 80 anos do estádio.

Foi transmitido pelas redes sociais um pequeno evento de dentro da Bombonera, iluminada com os refletores que costumam dar vida ao tradicional bairro de classe média baixa de Buenos Aires.

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"Foi muito bonito. Tem havido demasiado desânimo por aqui hoje em dia, sem futebol e com tanta gente doente", diz Artemio Sagrario, 48, habitante do bairro de La Boca que está sem trabalho por conta da quarentena obrigatória.

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"Eu vendia de tudo na feira dos fins de semana, bandeiras e camisas do Boca Juniors, souvenires. Agora não temos turistas, não podemos abrir o comércio, não ganhamos dinheiro, é uma tristeza. A luz vinda do estádio nos encheu de esperança para o futuro", completa.

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De fato é esquisita a sensação de caminhar pelas ruas do bairro atualmente, praticamente vazias. Principalmente se comparada ao caos e à multidão de antes, quando o turismo as enchia de gente. A Boca também comemora um aniversário emblemático neste ano, o seu 150º.


Reprodução / Instagram
Reprodução / Instagram


Em geral, a região do famoso "Caminito" e os quarteirões ao redor estão sempre vivos, com suas cantinas e "parrillas" lotadas. Agora, resta o deserto. Crianças curiosas colocam a cara para fora das casas. Alguns moradores se juntam em rodas para conversar em tom baixo. A maioria usa máscara, e alguns, claro, a camiseta do Boca Juniors.

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Fãs mais antigos do clube gostam de lembrar de quando os arredores do estádio não estavam tão degradados. Até os anos 1960, a Boca era um bairro descolado, com cafés, livrarias, vida boêmia e boas escolas.



A chegada de imigrantes em massa, sem que houvesse estrutura para abrigá-los, levou à criação de cortiços (ou "conventillos") e sobrecarregou a estrutura sanitária e de serviços, que não foi modernizada pelos governos desde então.

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Com isso, hoje muitos vivem em espaços pequenos. A dengue é outro mal que se alastra todos os verões, uma vez que o Riachuelo, antes um rio transitado e agradável, aos poucos foi se transformando em esgoto.


A pandemia também trouxe fome para a região. Grande parte da população vive do comércio informal nas ruas, agora impedido.

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"É uma pena sua decadência, pois sua personalidade sempre marcou muito Buenos Aires. Foi o bairro dos anarquistas, dos laicos, onde a Igreja não conseguia entrar e havia até procissões para o diabo. Esse passado rebelde ainda compõe o espírito do bairro, mas é uma pena sua degradação social e econômica", diz o cronista esportivo Ezequiel Fernández Moores.


Associações de moradores aliviam a situação com distribuição de comida. Aos sábados e domingos, armam-se nas ruas as chamadas "ollas populares", quando se cozinha almoço e janta para os locais.

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"As famílias aqui são muito numerosas, têm necessidades urgentes e estão vulneráveis para pegar o vírus. A gente traz essas coisas para ajudar", diz Mateo Breglia, da Agrupação Vizinhos da Boca, que leva alimentos a 300 famílias todos os fins de semana.


Ainda não há uma data para que o futebol retorne no país e a Bombonera retome seu posto de marco na paisagem local.

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Há mais de 80 anos, a tarefa de construir o estádio num espaço pequeno, de apenas 21 mil metros quadrados, foi entregue aos arquitetos José Luis Delpini (argentino) e Viktor Sulcic (esloveno). Como este último não conseguiu validar seu diploma para trabalhar na Argentina, foi impedido de assinar o projeto mesmo tendo participado dele.


Ambos imaginaram o formato que o estádio tem hoje, com várias "bandejas" superpostas, justamente porque havia pouco espaço. A ideia inicial era que ele pudesse receber até 80 mil torcedores. O nome Bombonera surgiu quando a mulher de Sulcic os surpreendeu com uma caixa de bombons enquanto trabalhavam. Daí o apelido dado a seu projeto de "bandejas" de público empilhadas.


Ricardo Alarcón foi o primeiro jogador do Boca a marcar no novo estádio, na estreia, contra o San Lorenzo. Embora Diego Maradona seja o ícone internacional da equipe, para seus fãs ele está longe de ser unanimidade.


"Há jogadores que vestiram a camisa do clube com mais paixão e que são identificados pela torcida como tendo o espírito do time, como [Juan Román] Riquelme ou [Carlos] Tévez", afirma Fernández Moores.


Foi na Bombonera que Riquelme tornou célebre sua comemoração de gols com as palmas abertas atrás das orelhas, como o personagem Topo Gigio, de quem sua filha era fã.


Outro que brilhou ali foi o astro local Martín Palermo, o maior goleador da história do clube com 236 gols em 404 jogos. Em junho de 2011, quando o artilheiro se despediu do Boca, levou de presente o arco de um dos gols, arrancado do chão e entregue a ele.


Para o time adversário, jogar na Bombonera é algo intimidatório, pois o público está muito próximo do gramado, a torcida grita e canta o tempo todo e a pressão é grande. Além disso, seu campo de jogo é um pouco menor do que o usual, o que dificulta algumas jogadas e demanda conhecimento do espaço.


"É muito comum ouvir dos grandes jogadores como é difícil se concentrar no campo do Boca. E há relatos de jogadores que se sentiram tão pressionados que mal podiam ver o céu", conta Fernández Moores.


Riquelme também relata que a Bombonera "é o único estádio em que joguei em que o chão se movimenta". "Vocês podem achar que é mentira, mas é sério. Se você fica parado no meio do campo, sente que o piso se move junto com os gritos da torcida", disse em uma entrevista quando ainda era jogador. Hoje, Riquelme é vice-presidente do clube.


Embora nos anos 1950 o estádio tenha chegado a receber até 80 mil pessoas por jogo, hoje está adaptado para quase 50 mil. As chamadas "gerais" desapareceram. Nos anos 1990, durante a gestão do ex-presidente Mauricio Macri como líder do clube, construiu-se a área que hoje é ocupada por camarotes.

Até hoje, o Boca já fez mais de 1.500 jogos nesse endereço da rua Brandsen, 805, e venceu 15 títulos no seu gramado.


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