Presos desde 20 de fevereiro na Bolívia, os 12 torcedores corintianos suspeitos de envolvimento na morte do adolescente Kevin Espada foram submetidos a castigo na cadeia e estão com problemas de saúde. O alerta foi feito por diplomatas brasileiros que atuam naquele país em comunicados recentes com o Itamaraty que foram obtidos nesta semana pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Os diplomatas envolvidos com a assistência aos presos têm visitado frequentemente os corintianos. Em uma das visitas, comprovaram que seis dos 12 torcedores suspeitos estavam "de castigo" em um porão da cadeia, com precárias condições para dormir e de higiene. Junto com eles, estavam alojados em uma pequena sala outros cinco presos bolivianos.
O castigo foi uma punição pelo fato de terem sido encontrados com os corintianos aparelhos Nextel. Mas a medida foi suspensa após a ponderação de que esse tipo de telefone atualmente não funciona na Bolívia porque a empresa teria encerrado suas operações naquele país.
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A assistência aos presos tem levado a Embaixada a pedir liberação extra de recursos, como o cerca de US$ 1 mil necessário para pagar a avaliação médica e o tratamento dos corintianos que incluem antibióticos, anti-inflamatório e antimicóticos.
Na avaliação médica, foi detectado que sete dos 12 corintianos presos estavam com problemas. A situação mais preocupante era do estudante Rafael Machado Castilho de Araújo, 18 anos. Ele está com ruptura de tendão na mão direita. Além da ruptura no tendão, foram diagnosticados em outros presos problemas como micose, queimaduras, infecções e gastrite nervosa.
DINHEIRO - Entre os relatos, há um que tratou da aproximação suspeita de pelo menos um advogado boliviano que teria tentado negociar uma indenização. O advogado teria dito que, apesar de não amenizar o sofrimento da família de Kevin, uma compensação financeira poderia "facilitar a vida dos torcedores na Justiça" local.
Em um telegrama recebido no último dia 3 pelo Itamaraty, o ministro Eduardo Saboia, encarregado de negócios, informou que Oscar Villafuerte Arias esteve recentemente no setor consular brasileiro, onde apresentou-se como novo advogado da família de Kevin Espada. "Enfatizou que nenhuma soma financeira, seja ela vultosa ou não, repararia a perda de Kevin. No entanto, disse que qualquer ?compensação? seria vista de forma positiva pelo Judiciário e concorreria a favor dos detidos brasileiros".
Segundo o telegrama, o advogado teria sondado se a Embaixada poderia fornecer-lhe contatos com familiares dos presos para verificar a possibilidade de indenização. O pedido foi recusado pelo funcionário responsável pelo atendimento. Ele explicou que a Embaixada não tem o poder de interferir em processos jurídicos sob as leis locais e nem de negociar qualquer tipo de indenização ou ressarcimento. Na ocasião, o funcionário do Itamaraty explicou que o papel da Embaixada é acompanhar o andamento e a lisura do processo e garantir que os direitos básicos dos brasileiros sejam respeitados.
Em recente entrevista à uma rede de TV boliviana, o ministro Eduardo Saboia disse que o ônus de apresentar indícios e provas contra os 12 torcedores era da promotoria, que até então se limitara a pedir listas de passageiros de ônibus para saber como os torcedores chegaram a Oruro e de policiais presentes ao estádio. "Lembrei que cinco dos doze detidos sequer estavam no estádio quando ocorreu o incidente e que, nos vídeos, se vê claramente que os que estavam no estádio não se encontravam ao lado do autor confesso".