A diretoria do São Paulo está cada vez mais convencida de que a mudança de comando técnico se faz necessária no Morumbi. De modo que o destino de Ney Franco está praticamente traçado no São Paulo. A dúvida, aliada à coragem que toda mudança exige, é saber se a demissão do técnico deve ocorrer antes ou depois da próxima partida do time na Libertadores, marcada para dia 4 de abril contra o The Strongest, fora de casa.
Os dirigentes do São Paulo não se enganam com a campanha da equipe no Paulistão - líder com 26 pontos e um jogo a menos que seus principais concorrentes. Fosse tomar o Estadual por base, Ney Franco estaria bem cotado com os cardeais do Morumbi, aqueles que mandam de fato. Ocorre que situação parecida não aconteceu ainda (e dificilmente acontecerá) na Libertadores da América. Nesta competição, o São Paulo soma míseros quatro pontos em quatro partidas, ocupa a segunda posição do Grupo 3, empatado em número de pontos com o Arsenal de Sarandí, para quem perdeu na última apresentação. Foi após essa derrota que a crise se assumiu no clube. Até então, ela era contida e empurrada para debaixo do tapete.
Ficar fora da Libertadores aterroriza os líderes são-paulinos. É fato. O presidente Juvenal Juvêncio e seu vice, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, não admitem sequer a possibilidade de eliminação no torneio. Seria uma catrástrofe. A leitura que fazem se isso acontecer é de um caos ainda maior, porque sabem que o time só teria depois o Brasileirão como competição grandiosa para disputar, uma vez que a Sul-Americana não possui peso no cenário nacional, tampouco internacional. E o Campeonato Brasileiro se arrasta até dezembro, quando o campeão se apresenta. Para os cartolas do Morumbi seria muito dífícil segurar o rojão sem a Libertadores, tanto da parte que toca o humor de sua torcida, quanto da permanência de alguns jogadores e, sobretudo, do caixa do clube. Daí o impasse com Ney Franco.
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Não bastasse todos esses argumentos para trocar o técnico, ainda pesa contra Ney Franco seu temperamento forte - mais isso, diga-se, a diretoria do São Paulo já sabia quando o contratou. Ocorre que dirigente algum pensa que seu treinador seja capaz de brigar ou discutir ou enquadrar o principal jogador do time, como fez com Rogério Ceni. Ou ainda que o comandante exponha ao "ridículo" a principal contratação do clube na temporada, no caso o meia Ganso. Para o comando do São Paulo, e isso parece bem claro, o que Ney Franco faz com o jogador é algo que ele não merecia, sobretudo porque tempos atrás Ganso era o segundo melhor jogador do Brasil, atrás apenas de Neymar. Por isso o clube pagou R$ 23 milhões para tirá-lo do Santos.
Juvenal e seus pares defendem Ganso e não acham que ele precisa entrar em campo e ser genial a cada toque na bola. Mas também sabem que o meia precisa de tempo e de minutos dentro de campo para voltar a jogar bem. Por isso cobram o treinador. Para eles, Ney Franco não aposta em Ganso como deveria.
Há ainda a situação incômoda do técnico com o zagueiro Lúcio e a pouca visão de jogo, por vezes, do treinador em deixar seu meio de campo exposto, sem marcação adequada, com a dupla Wellington e Denílson perdidos. Tudo isso, os cardeais do Morumbi entendem e se convencem cada vez mais de ser de responsabilidade do comandante. A falta de padrão do São Paulo com quase três meses completos de atividade na temporada pesa na permanência do técnico no cargo. E a possível eliminação na Libertadores apavora.
Raposas que são, os dirigentes tricolores também têm a exata noção de que não se rebaixa um funcionário, e Ney Franco é um funcionários do clube. Se entrarem no bate-boca com o técnico e começarem eles a dar as ordens, como já tentaram sutilmente tempos atrás, sobretudo no caso de Ganso e Rhodolfo, perderão o treinador ainda no cargo. E isso pode custar mais caro. Funcinário que não funciona, demite-se. Mas na hora certa.