Uma pesquisa realizada em diversos países apontou que os escândalos de corrupção já afetaram a própria popularidade do futebol. Os resultados estão sendo publicados pela entidade Transparência Internacional na semana das eleições cruciais para o futuro da Fifa. Na Suíça, porém, o voto vai ocorrer na sexta-feira em meio ao caos sobre quem de fato manda no futebol, diante de um possível retorno de Joseph Blatter ao futebol e, acima de tudo, sob o temor de cartolas de que uma nova onda de prisões ocorrerá na véspera da eleição.
Segundo a pesquisa realizada com 26 mil torcedores em 28 países, 69% deles dizem que simplesmente não confiam mais na Fifa. No Brasil, a cada quatro torcedores, três diz não acreditar na entidade que comanda o futebol. Na Argentina, a taxa chega a 80%.
Apenas 25% acreditam que ela vai conseguir restabelecer sua reputação. Mas o que chamou mais a atenção dos especialistas é que 43% dos entrevistados indicam que as prisões realizadas em 2015 afetaram sua relação como torcedor e sua paixão pelo futebol. "O esporte gera US$ 145 bilhões por ano. Ainda que a corrupção não seja nova, ela hoje ameaça a alegria que o esporte traz ao mundo", apontou a entidade.
Leia mais:
Londrina EC promete ter até 15 reforços para disputar o Campeonato Paranaense
Dez são presos por emboscada a cruzeirenses; presidente da Mancha continua foragido
Por que Palmeiras está atrás na disputa pelo título? Abel explica em livro
Depay brilha, Corinthians vence e fica perto da Pré-Libertadores
Um dos únicos locais onde a credibilidade da Fifa continua intacta é a Rússia, com apenas 30% de desaprovação. Vladimir Putin tem insistido que a ação contra a corrupção é uma estratégia para tirar a Copa de 2018 de Moscou. Mas mesmo no Catar, sede da Copa de 2022, 50% não confia na entidade.
Cerca de 60% dos entrevistados diz ainda que não tem confiança nos cinco candidatos que concorrem nas eleições. Um dos favoritos na corrida, Salman El Khalifa, teria a confiança de 3% dos torcedores questionados. Para quase 70% dos torcedores, o voto para presidente da Fifa também deveria incluir atores de fora do mundo da cartolagem.
"Para a Transparência Internacional, o ritmo das reformas tem sido lento demais". "Os recentes escândalos mostram como o esporte é vulnerável à corrupção", disse Cobus de Swardt, diretor da entidade. "A confiança apenas vai voltar quando reformas forem implementadas". Para a entidade, o futebol precisa de maior envolvimento do torcedor e dos jogadores, além dos cidadãos que financiam os eventos em países que sediam a Copa.
Limpeza - Enquanto pesquisas mostram que o futebol está em seu momento mais baixo, em termos de credibilidade, Zurique se prepara para uma semana considerada como decisiva. "A semana será a mais significativa dos 112 anos de história da Fifa", admitiu nesta segunda-feira um dos favoritos na eleição, o suíço Gianni Infantino. "Vamos decidir o destino do futebol", insistiu.
Mas o caos continua. Nos últimos dias, a Fifa tem feito questão de publicar decisões afastando cartolas, numa tentativa de demonstrar à Justiça que ela é a vítima, e não uma organização criminosa. Por isso, insistir na tese de que a votação coloca um fim à Era Blatter é o único ponto em comum entre os 209 eleitores.
Mas até mesmo essa votação pode ser afetada por uma nova rodada de prisões. Muitos dirigentes das 209 federações nacionais que estarão em Zurique apenas voltariam para a Suíça em 2019. Portanto, essa seria uma oportunidade única aos investigadores para tentar questioná-los. A primeira rodada de prisões ocorreu justamente em uma eleição presidencial, em maio de 2015.
Infantino não nega que uma nova operação possa ocorrer nesta semana. "Eles sabem a forma mais eficiente de fazer o trabalho", disse, insinuando que a polícia aguardaria esses eventos para prender o maior número de pessoas possíveis.
Já Salman, do Bahrein, insiste que as operações tem um cunho político, algo que Blatter também sugere. Para o candidato do país do Golfo, porém, a Fifa já fez o suficiente desde maio para que não seja uma vez mais alvo de uma operação policial.
Se os dirigentes das 209 federações não escondem certo temor em viajar para a Europa, quem também aguarda para saber se estará no evento de sexta-feira é o próprio Joseph Blatter. Ele aguarda o resultado de seu recurso contra a decisão que estabeleceu seu afastamento do futebol.