A festa estava armada nesta quarta-feira à noite. O Mineirão pintado de azul esperava pelo tricampeonato do Cruzeiro na Copa Libertadores. Mas o Estudiantes não se importou por decidir o título fora de casa, venceu por 2 a 1, de virada, e conquistou a sua quarta taça da competição continental. Depois que o time mineiro abriu o placar no segundo tempo, com o gol de Henrique, a equipe argentina, liderada pelo experiente Verón, foi valente para buscar a vitória com gols de Fernández e Boselli.
A vitória do Estudiantes em Belo Horizonte acabou por frustrar o sonho do Cruzeiro de coroar a boa campanha na competição com o título, que não vem desde 1997 - o primeiro foi em 76. Após eliminar Universidad de Chile, São Paulo e Grêmio nas fases decisivas, a equipe do técnico Adilson Batista acabou parando na boa marcação e no jogo catimbado dos argentinos. Além disso, o nervosismo acabou atrapalhando na busca pelo empate no fim do jogo.
Depois de um primeiro tempo truncado, em que o Estudiantes foi mais perigoso nos contra-ataques, o Cruzeiro conseguiu fazer 1 a 0 logo no início da etapa final, em chute de Henrique que desviou em Desábato. Mas Fernández acabou empatando apenas seis minutos depois, em lance que Fábio falhou na saída, e surpreendentemente conquistou a virada na bola parada. Em escanteio cobrado por Verón, o artilheiro Boselli fez de cabeça e silenciou o Mineirão.
Com o título da Libertadores, o Estudiantes volta a vencer a competição após 39 anos. Além disso, já garante vaga no Mundial de Clubes da Fifa, que será disputado em dezembro, em Abu Dabi, nos Emirados Árabes. A equipe argentina é o quinto time classificado para o torneio. Barcelona, Atlante, do México, Auckland City, da Nova Zelândia, e o anfitrião Al-Ahli, do próprio Emirados, já têm vaga garantida.
O JOGO - Depois de muitos fogos para saudar a entrada do Cruzeiro em campo, a partida já começou pegada. Apesar de os dois times mostrarem disposição para atacar, as faltas duras por parte do Estudiantes e o revide dos jogadores do Cruzeiro davam o tom da decisão no Mineirão. Logo aos quatro minutos, Verón acertou uma cotovelada em Ramires, dando o troco pela que tinha levado do próprio volante no jogo de ida, em La Plata.
A violência, porém, não era punida pelo árbitro Carlos Chandia. O chileno apenas marcava a falta, mas nada de cartão amarelo. Assim também foi com outras entradas duras de Desábato em Wellington Paulista e de Cellay em Kléber. Já com a bola rolando, o Cruzeiro ficava mais com a posse de bola. No entanto, era o Estudiantes que levava mais perigo no contra-ataque.
Com o técnico Dunga e os governadores José Serra e Aécio Neves - torcedor declarado do Cruzeiro - nos camarotes, o time argentino criou a primeira chance de gol na partida aos 21 minutos. Fernández recebeu na área, protegeu bem, e fez o passe por cima para Boselli, que tentou bater cruzado e errou. O atacante pegou apenas de raspão na bola, mandando para a linha de fundo.
O troco do Cruzeiro veio aos 24 minutos, quando Wagner partiu com a bola dominada e fez passe na frente para Wellington Paulista. Mas o atacante cruzeirense não conseguiu dominar e a bola sobrou para a boa saída do goleiro Andújar. Já o Estudiantes voltou a levar perigo aos 32, só que Gérson Magrão apareceu na hora certa para desarmar Boselli já dentro da área.
No restante do primeiro tempo, além da dificuldade do Cruzeiro em tocar a bola no campo de ataque, o único destaque foi a confusão gerada por um desentendimento entre Fernández e Ramires. Depois que o argentino sofreu falta e segurou a bola, o cruzeirense tentou tirá-la dele e mais jogadores de ambos os times chegaram para tirar satisfação. Kléber empurrou Verón pelas costas e os dois foram punidos com o cartão amarelo.
Na saída para o intervalo, os cruzeirenses sabiam que estava difícil chegar ao gol do Estudiantes. "Jogo pegado, nervoso. Tem que colocar a bola no chão e tocar", disse Kléber, que ainda criticou o árbitro. A reclamação foi compartilhada por Wagner. "A gente está tentando chegar pelos lados, toda hora está parando na falta, mas o juiz não está dando nenhuma", afirmou o meia.
O Estudiantes demorou a retornar dos vestiários e, quando voltou, não demorou para ser surpreendido pelo ímpeto do Cruzeiro no ataque, com o claro objetivo de abrir o placar no início do segundo tempo. Ainda encontrando dificuldades para tocar a bola na frente, a alternativa foi o chute de fora da área. E Henrique foi extremamente feliz assim aos seis minutos, quando chutou e a bola desviou na zaga.
Para delírio da torcida cruzeirense que lotava o Mineirão, o volante tentou o arremate colocado e a bola ia na direção de Andújar, mas Desábato não conseguiu sair da trajetória da bola e matou o goleiro do Estudiantes. Na comemoração, o técnico Adilson Batista correu em direção aos jogadores e também fez a festa. O gol animou o Cruzeiro, que ensaiou uma pressão para buscar o segundo.
A equipe mineira só não contava com o empate do Estudiantes no contra-ataque. Com 12 minutos, Verón fez lançamento preciso para Cellay na direita. O zagueiro improvisado na lateral direita cruzou rasteiro e Fábio saiu errado, deixando Fernández livre para só empurrar às redes. A igualdade acabou esfriando o Cruzeiro, que seguiu dando espaços para o time argentino, enquanto não conseguia chegar perto da área adversária.
A situação piorou de vez para a equipe brasileira quando o Estudiantes conseguiu a virada no Mineirão. Aos 27 minutos do segundo tempo, Verón cobrou escanteio da direita na cabeça de Boselli. O artilheiro da Libertadores, com oito gols marcados, subiu mais alto que a zaga do Cruzeiro e cabeceou para o chão, no canto esquerdo de Fábio, sem chances para o goleiro do time mineiro.
Após o gol, Adilson resolveu mudar o ataque do Cruzeiro. Depois que Athirson já tinha entrado no lugar de Wagner, pouco antes de Boselli marcar, Wellington Paulista foi substituído por Thiago Ribeiro. A alteração quase deu certo aos 41 minutos. Mesmo com o time brasileiro nervoso em campo, Thiago Ribeiro pegou a sobra de bola após escanteio e acertou um belo chute, mandando a bola no travessão.
E o atacante ainda teria mais uma chance na sequência. Na cobrança de falta pela direita, o Cruzeiro aproveitou para colocar quase o time inteiro na área. A bola foi alçada, passou por todo mundo e sobrou na segunda trave para Thiago Ribeiro, que tentou desviar e errou por muito, mandando para fora. Sem sucesso na tentativa de buscar o empate e levar a decisão para a prorrogação, o Cruzeiro acabou tendo que ver a festa do Estudiantes no Mineirão.