Depois de 42 anos, a Fifa volta ao controle da Europa. Nesta sexta-feira, a entidade elegeu o suíço-italiano Gianni Infantino como seu novo presidente, colocando um fim à Era Blatter. Apoiado pela Uefa, o dirigente representa o retorno dos europeus no controle do futebol mundial, depois de décadas nas mãos de João Havelange e seu sucessor, Joseph Blatter.
Infantino somou 115 votos, superando seu maior rival, o xeque do Bahrein, Salman bin Ebrahim Al Khalifa, com 88, no segundo turno da votação. O príncipe jordaniano Ali bin Al Hussein teve apenas quatro votos, enquanto Jérôme Champagne não recebeu nenhum.
O processo eleitoral foi a conclusão de uma crise que começou em maio de 2015, com a prisão de dirigentes em Zurique e que terminou, dias depois, com a queda de Blatter. O suíço foi obrigado a convocar novas eleições. Mas foi obrigado a abandonar seu escritório diante de suspeitas de corrupção.
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Blatter, apesar de também ser suíço, jamais foi considerado como um representante dos interesses europeus na Fifa. Primeiro, por ser afilhado político de Havelange. Depois, por garantir seus votos justamente nas pequenas federações nacionais na África e no continente asiático.
Infantino, de 45 anos e secretário-geral da Uefa, também não era o nome escolhido para concorrer à presidência. Ele apenas se tornou candidato quando seu chefe, Michel Platini, foi obrigado a abandonar a corrida, também por suspeitas de corrupção. Infantino, assim, passou a herdar os votos do francês, mas insistiu por meses e em cada entrevista que ele não era Platini.
A última vez que um representante da Uefa controlou a Fifa foi em 1974, quando Stanley Rous foi surpreendido por Havelange e perdeu seu reinado.
Agora, com o apoio da Conmebol, da Europa, mas também de partes da África, Infantino derrotou numa segunda rodada de votação o xeque Salman. "Estamos numa crise muito profunda. Mas não temo assumir minhas responsabilidades", disse, durante seu discurso antes da votação.
Para a América do Sul, ele promete medidas para manter os jogadores na região. "Precisamos ajudar o futebol sul-americano, que é o coração do futebol mundial", disse Infantino. Mas arrancou aplausos quando anunciou que iria "distribuir o dinheiro da Fifa". "Esse é o dinheiro de vocês", declarou aos 207 delegados, que o aplaudiram.
Infantino conquistou dezenas de votos prometendo distribuir mais recursos dos cofres da Fifa para as delegações nacionais, com um cheque de US$ 5 milhões (R$ 20 milhões) para cada. A proposta foi acusada por seus opositores de serem ameaçadoras e que poderão levar a Fifa à falência.
Entre suas propostas, ele aponta para a transformação da Copa do Mundo de 32 para 40 seleções participantes, criticada por seus opositores, como o candidato Jérôme Champagne. "Temos de lembrar o que ocorreu com a Copa do Mundo no Brasil", declarou.
Sem nenhuma experiência em eleições e tendo entrado na Uefa em 2000 como um funcionário regular, ele contou com uma equipe de peso. Mike Lee, um dos artífices de sua campanha, já havia levado o Rio a ganhar a sede dos Jogos de 2016 e o Catar a Copa de 2022.
Sua vitória, porém, levanta suspeitas entre seus opositores sobre o que isso vai representar para os demais continentes do mundo. "Não se pode dar o tesouro todo do futebol para a Europa", disse Champagne, candidato derrotado. Para ele, Infantino dará maiores poderes aos clubes europeus na Fifa, minando a influência das seleções de países periféricos.
Infantino, porém, assume com uma tarefa importante: reformar a Fifa, evitar sua quebra financeira e ainda restaurar a credibilidade em uma entidade em que seus principais líderes estão presos, em fuga ou afastados.