O impacto da pandemia do novo coronavírus, dentro e fora de campo, foi tema na entrevista coletiva da meia-atacante Andressa Alves e da zagueira Rafaelle, da seleção brasileira de futebol feminino, na quinta-feira (8).
As atletas se manifestaram contrárias a uma eventual prioridade a atletas na vacinação contra o vírus antes da Olimpíada de Tóquio, no Japão, possibilidade discutida em alguns países e que, no início do ano, chegou a ser debatida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). As informações são da Agência Brasil.
"No meu ponto de vista, como ser humano, os atletas têm que ser os últimos a serem vacinados. Há pessoas que precisam mais que a gente neste momento. Há outras maneiras de se preparar e chegar em Tóquio com segurança. Chegar ao menos 15, 20 dias antes [dos Jogos], fazer os exames que a gente faz no cotidiano", defendeu Andressa, por videoconferência, na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), onde está reunida com a seleção.
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"Acho que a maioria das atletas gostaria de tomar a vacina, para ter essa segurança, mas é uma coisa que, hoje, tem que ser dada prioridade para quem precisa mais e corre mais risco. Concordo com a Andressa. Não é por sermos atletas que devemos ter privilégio. Tem que pensar mais na população em geral. A gente vai se cuidar. Há várias maneiras para chegarmos lá [em Tóquio] bem", completou Rafaelle.
Por conta da pandemia, a seleção feminina está reunida apenas para treinamentos até a próxima terça (13), apesar deste ser o período liberado pela Fifa para jogos entre equipes nacionais. As restrições sanitárias para entrada na Europa impediram que o Brasil disputasse os amistosos previstos. O jeito, então, foi aproveitar o período para que a técnica Pia Sundhage pudesse observar jogadoras que pretende levar à Tóquio.
Pia convocou uma seleção predominantemente formada por atletas que jogam no futebol nacional (24 entre 26). As exceções são justamente Andressa Alves (Roma, da Itália) e Rafaelle (Changchun, da China). A zagueira, porém, já estava por aqui, devido à impossibilidade de brasileiros entrarem em território chinês no atual momento. A defensora tem mantido a forma utilizando a estrutura do Bahia.
"Meu clube sempre se mostrou aberto a tentar minha volta à China, mas o embarque está proibido e tem dificultado. Mas estar aqui tem me ajudado com a seleção. Estar no Brasil é bom, ficar perto da família. Mesmo não podendo voltar para a China, estou sempre em contato com o meu clube. Já tentei conversar com eles, de pensar em um empréstimo, pois vai começar o Campeonato Brasileiro e posso ganhar ritmo de jogo. Mas é uma coisa que não depende só de mim. Nas próximas semanas, deve definir alguma coisa", disse Rafaelle.
Presente na delegação que está reunida na Granja, a atacante Bia Zaneratto é outra vinculada a um clube chinês (Wuhan Xinjiyuan). Também sem poder retornar ao país asiático, ela está emprestada ao Palmeiras e disputará o Brasileiro, com início previsto para o próximo dia 17.
Andressa, por sua vez, é a única que veio diretamente do exterior para integrar o grupo em Teresópolis. A logística da viagem foi preparada pela Roma, após o contato da coordenadora de seleções da CBF, Duda Luizelli. A meia-atacante se apresentou na última terça (6), um dia após o restante das jogadoras.
"Era para ter chegado antes, mas, infelizmente, houve um teste positivo [para Covid-19] no estafe técnico [da Roma]. Pelas normas da Itália, se há um caso positivo, você tem de ficar em quarentena por dez dias, treinando, e fazer o exame da Covid-19 a cada um dia. Quando terminaram os dez dias, consegui viajar. Fiz o exame quando cheguei aqui, fiquei isolada das meninas e, no dia seguinte, pude começar a treinar com elas", contou Andressa.
Tanto Rafaelle quanto Andressa são cotadas para representar o Brasil em Tóquio. Apenas 18 jogadoras podem ser convocadas para a competição em solo japonês. As duas estiveram no She Believes, torneio amistoso disputado nos Estados Unidos em fevereiro, onde a seleção brasileira enfrentou as anfitriãs, que foram as campeãs, o Canadá e a Argentina.