O baiano Nathan Alborghetti lembra até hoje o dia em que conheceu a neve, dez anos atrás. Filho de um empresário italiano e de uma capixaba, morou dos cinco até os 14 anos de idade em Roma. Como a irmã estava com catapora, o pai resolveu fazer uma retirada estratégica para Nathan não se contagiar. "Bora lá vê como é a neve, Nathan". O menino, na época com cinco anos, topou na hora e os dois rumaram para a região de Abruzos, na província de L'Aquila, onde se localiza a estação de esqui de Ovindoli. "Fiz minha primeira aula de esqui e já me apaixonei pelo esporte", diz o esquiador, por telefone.
Na semana passada, Alborghetti festejou mais dois frutos dessa paixão: duas medalhas de bronze no tradicional Troféu Borrufa. Realizada em Andorra, essa é uma das mais importantes competições internacionais de esqui alpino para atletas de até 16 anos. Em seu quarto ano no Borrufa, o adolescente já acumula sete medalhas. "Foi muito importante levar essas medalhas para casa. Adoro representar o Brasil no esqui".
Mais uma vez, Alborghetti foi beneficiado pela torcida, que se entusiasmou ao ver um brasileiro brigando por medalha. "Nos meus primeiros anos em competições, muita gente falava: 'Brasileiro, por que não vai jogar futebol?'. Mas agora todo mundo torce. O pessoal está acostumado a ver as nações fortes na modalidade vencendo. Mas quando um brasileiro desponta, sempre existe um apoio especial".
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Desde os 14 anos morando novamente em Salvador, Alborghetti adotou outro esporte, que em sua opinião está contribuindo para seu desempenho no esqui. "Morando de frente para a praia (de Jaguaribe), nada melhor do que surfar. É um esporte que ajuda muito no esqui, porque dá muito equilíbrio. Desde que comecei a praticar, gostei muito. Fiquei muito feliz quando soube que o Gabriel Medina foi campeão mundial. É um cara jovem também, sou fã dele".
Alborghetti vai completar 16 anos este ano e terá a possibilidade de começar a pontuar no ranking internacional. Sua meta é participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em 2018. "Tem quatro brasileiros bem colocados no ranking. Um mora na Suécia, outro na Suíça e dois nos Estados Unidos. Eles são bons, mas também vou treinar", avisa.
Para se diferenciar, Alborghetti pretende se especializar nas disciplinas mais velozes do esqui, Super G e downhill, nos quais a velocidade do esquiador atinge os 110km/h. "Meus concorrentes praticam mais as disciplinas técnicas, o slalom e o slalom gigante. No Super G e no downhill, você faz o esqui correr, nas outras você precisa treinar mais, ter mais técnica".
Alborghetti estuda num colégio em período integral que tem um período de férias generoso - do final de novembro até o início do março. Assim que conclui o ano letivo, já se manda para a neve. "Estar morando em Salvador não me prejudica em nada. Quando morava em Roma, ia todos os finais de semana esquiar. Agora, nos meses em que estou na Itália, vou todos os dias. Na verdade, ninguém esquia o ano inteiro".
Readaptado plenamente à vida em Salvador, Nathan já tem um numeroso grupo de amigos que acompanha seus resultados nas competições. "Eles acham muito exótico um baiano competindo nesse esporte. Sempre me chamam de esquiador, esquiador pra cá, esquiador pra lá. Eu me divirto muito com os meus amigos, são muito engraçados. Do que me dá mais saudades quando estou longe da Itália é mesmo a neve. E a pizza".