A chegada da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do futebol do Senado a Curitiba frustou os participantes da audiência pública realizada na Assembléia Legislativa, em Curitiba. A presença de Édson Arantes do Nascimento desviou o foco dos holofotes do tema da audiência, que abordaria o "Futebol e Legislação". A sessão se transformou em um grande circo, com apupos e gritinhos massageando o ego do maior atleta do futebol brasileiro.
Sem nenhuma proposta nova, a sessão serviu apenas para que políticos e personalidades ligadas ao futebol tentassem defender seus interesses e a discussão sobre legislação acabou sendo atirada para escanteio. O senador Alvaro Dias, que presidiu a sessão, era um dos mais satisfeitos com a presença de Pelé no Plenarinho.
Candidato ao governo do Estado, Dias conseguiu lotar a sala com jornalistas e amantes do futebol, que foram atraídos pelo fenômeno de mídia que é Pelé. A presença do astro-mor do futebol mundial na única sessão da CPI do Futebol realizada na capital paranaense trouxe visibilidade para o ex-tucano, que não vai perder a presidência da comissão mesmo saindo do PSDB.
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Durante a sessão, Pelé foi sempre cordial e solícito, mas não trouxe nenhuma contribuição de peso aos trabalhos da Comissão, que pretende sugerir mudanças na legislação do esporte brasileiro. O ex-jogador limitou-se a contar histórias de sua infância, e chegou a chorar ao lembrar de seu falecido pai, o ex-jogador Dondinho.
Como Pelé não trouxe novas sugestões, a palavra foi passada para o público em geral. O secretário-geral da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf), Sérgio Correia, aproveitou para defender a importância da profissionalização da arbitragem e apresentou dez sugestões para a melhoria das condições de trabalho dos juízes. A maioria delas implicava em mais dinheiro no bolso dos árbitros.
Correia defendeu que os árbitros deveriam ter direito a cota de patrocínio, direito de imagem e um percentual da renda dos estádios. A entidade dirigida por Márcio Rezende de Freitas também solicitou aos senadores que aprovem uma lei para que estudantes do 1º grau estudem regras sobre o futebol.
O presidente do Paraná Clube, Ênio Ribeiro, usou do microfone para apoiar uma proposta pertinente ao encontro: a criação de uma lei de responsabilidade fiscal para punir dirigentes que realizem más gestões à frente de seus clubes.
Mas também aproveitou para pedir um dinheirinho pra seu clube e manifestar sua revolta quanto aos critérios adotados pelo Clube dos 13 com a distribuição de verbas para a disputa do Campeonato Brasileiro. "Os times grandes vão receber US$ 4,1 milhões para disputar o Brasileiro, e o Paraná apenas US$ 700 mil. Alguém pode me explicar por que essa diferença?", perguntava Ribeiro.
As preces por verba do dirigente talvez não sejam ouvidas pelos grandes clubes brasileiros, mas Dias admitiu que a CPI do Senado deve pedir a extinção do Clube dos 13, comandados pelo gaúcho Fábio Koff e pelo presidente do Vasco, Eurico Miranda. A proposta foi apresentada, por estranho que possa parecer, pela Câmara dos Veradores de Curitiba em maio, e entregue agora a Alvaro Dias pelo vereador Jorge Bernardi (PDT).
Mas a decepção do encontro foi a presença de Carlos Del Campo Colas, advogado espanhol especialista em legislação esportiva, que veio à capital paranaense defender os interesses dos grandes clubes. Colas chegou dizendo que a proposta espanhola vai ser analisada pela Fifa no dia 7 de julho, em Buenos Aires, e que deve derrubar a lei européia de livre transferência. Pela proposta, extingue-se o passe, mas jogadores que rompam seu contrato terão que pagar uma multa pesada e poderão ficar até seis meses sem atuar.
A essas alturas, poucos estavam interessados no que o espanhol tinha a dizer. Camisas da seleção brasileira e do Santos começaram a surgir aos borbotões para serem autografados por Pelé. O ponto alto do alívio cômico da sessão foi quando o ambientalista José Pedro Naisser abraçou-se com Pelé, fez a menção de enxurgar as lágrimas do "rei do futebol" e entregou a ele um projeto para que "toda a miséria, a pobreza e a fome do mundo fosse erradicada". Detalhe: o grandioso projeto cabia em um pequeno envelope amarrotado.