A renúncia de Joseph Blatter da presidência da Fifa promete abrir uma verdadeira guerra pelo poder no futebol e vai jogar toda a estrutura do esporte em um clima de incerteza, inclusive sobre as sedes das próximas duas edições da Copas do Mundo.
O futuro dos Mundiais estaria no centro da agenda de encontro da Uefa, no fim de semana, numa reunião que poderia começar a desenhar a nova Fifa. Porém, o encontro foi cancelada pelo fato de a entidade considerar o debate ainda "prematuro".
Fora da entidade desde que João Havelange assumiu o poder em 1974, os europeus estão comprometidos a recuperar a direção do futebol mundial. Blatter, apesar de suíço, jamais foi considerado como um europeu.
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O cartola era um dos maiores defensores do Mundial da Rússia em 2018 e chegou a comprar a versão de que a campanha contra ele era uma forma de o Ocidente derrubar a Copa promovida pelo Kremlin. Vladimir Putin passou a ser um de seus aliados, denunciando os Estados Unidos.
Agora, sem Blatter, a pressão por uma investigação sobre a compra de votos da Rússia para ser escolhida a sede do Mundial de 2018 deve aumentar. O Ministério Público da Suíça já apura o caso e deve interrogar cerca de dez cartolas nas próximas semanas. Não por acaso, a única patrocinadora da Fifa que não emitiu um comunicado comemorando a renúncia foi o Gazprom, de Moscou.
Quem também demonstrou preocupação na última terça-feira foi a delegação do Catar que, nesta semana, está justamente em Zurique para tentar entender o que está ocorrendo na Fifa. Ao ver a eleição de Blatter na semana passada, até mesmo a Bolsa de Valores do Catar comemorou. Nesta terça, o clima era de tensão.
Não apenas Blatter caiu, mas praticamente todos os eleitores do país foram expulsos, estão presos ou morreram. Ricardo Teixeira, Julio Grondona, Nicolás Leoz, Rafael Salgueiro, Mohamed Bin Hammam e Franz Beckenbauer são apenas alguns dos eleitores do Catar hoje fora de cena.
Jornais ingleses ainda revelaram na manhã desta quarta-feira que dirigentes esportivos do Catar estão sendo orientados a não viajar aos Estados Unidos, sob o risco de serem interrogados ou mesmo presos. Apenas aqueles com imunidade diplomática estão circulando.
O governo do Catar e cartolas da região rapidamente reagiram nesta quarta, alegando que não existe motivo para se preocupar. Para o presidente da Federação do Catar, Hamad Bin Khalifa bin Ahmed Al Thani, não existe risco de o país perder a Copa. "Já fomos inocentados", disse, em relação à investigação interna realizada pela Fifa.
Mas a pressão passou a ser intensa e tanto o FBI como o Ministério Público da Suíça passaram a investigar o caso. Greg Dyke, presidente da Associação de Futebol da Inglaterra, deixou claro que ele "não estaria muito confortável" se fosse hoje um dirigente do Catar. O comentário foi duramente respondido por Doha. "Deixem o processo correr", disse.
A esperança dos árabes é de que alguns dos opositores à Blatter também votaram no Catar, entre eles Michel Platini, presidente da Uefa.