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Atletas se preparam para Olimpíadas sem estrangeiros, família e cantos da Rio-16

João Gabriel - Folhapress
29 mar 2021 às 08:45
- iStock
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Milhares de pessoas gritando o nome de um jogador, cantando "Mil gols, só Pelé" ou vibrando com a entrada de atletas. A descrição pode parecer exclusiva de um jogo de futebol, mas foi a vivência de vários atletas olímpicos durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.


Para o mesatenista Hugo Calderano, a jogadora de vôlei de praia Ágatha e o levantador do vôlei de quadra Bruninho, foi a maior experiência de suas vidas. Todos eles, assim como o surfista Italo Ferreira, 26, deverão estar nos Jogos Olímpicos de Tóquio. No entanto, com a proibição de que haja público estrangeiro no evento, confirmada no último fim de semana pelos organizadores, a atmosfera no Japão será bem diferente.

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Medalhista de ouro no Rio, Bruninho, 34, hoje atua pelo Taubaté, mas já defendeu times da Itália e viajou o mundo com a seleção brasileira. "Talvez o lugar [com torcedores] mais tranquilo que a gente vivenciou tenha sido o Japão, em Copa do Mundo ou Copa dos Campeões. É um público que faz barulho, mas é mais comedido", afirma.

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A sensação contrasta com a de Hugo Calderano, 24, sexto colocado do ranking mundial e esperança de uma medalha inédita para o país. Ele cita que sua modalidade não encontra públicos tão efervescentes como o vôlei, nem tantos adeptos no Brasil, mas lista o Japão como um dos quatro lugares com torcidas mais quentes da modalidade, ao lado de China, França e Alemanha.

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Em 2016, a Prefeitura do Rio informou que a cidade recebeu 410 mil turistas estrangeiros durante o evento. No Japão e com a Covid, a realidade será absolutamente diferente.


Uma pesquisa do jornal local Yomiuri apontou que 77% dos japoneses são contra a presença de público estrangeiro e só 45% são favoráveis à presença de público em geral.

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Medalhista de prata no Rio, Ágatha, 37, defende que, na atual circunstância, é um privilégio poder realizar uma Olimpíada da forma como for.


"Será que vai perder um pouco do glamour? Nem todo mundo teria a chance de ir para o Japão, grande parte do mundo assistiria pela televisão", pondera ela, que fará dupla com Duda em Tóquio.

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Campeão Mundial em 2019, Italo Ferreira segue ansioso para a estreia do surfe em Jogos Olímpicos e diz que, mesmo que seja uma competição diferente das demais, não deixará de ser histórica: "É um momento importante para o surfe e essas mudanças foram necessárias para que as coisas acontecessem. No momento que estamos vivendo, não teria como ser diferente. Por mim, toda nova Olimpíada deve ser celebrada como se fosse a primeira".


Acostumado a pegar ondas a certa distância dos espectadores, o surfista que foi carregado pelos fãs após o título mundial no Havaí, em 2019, gosta da "vibe" que vem da areia.

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Ágatha destaca que no vôlei de praia o público costuma comemorar boas jogadas independente de quem as tenha feito. Mas diz ter um gostinho especial quando as arquibancadas gritam a seu favor.


"Sanguíneo", como se define, Bruninho afirma que um dos principais segredos é conseguir encontrar equilíbrio entre o emocional e o racional. Não se deixar levar pela euforia, mas também não ser apático diante das arquibancadas, estejam elas torcendo por ele ou pelo adversário.

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Para o atleta, que também disputou os Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012 (duas medalhas de prata), a seleção brasileira foi encontrando esse balanço no decorrer da competição em 2016. Quando Serginho corria para a torcida, ele tentava ficar mais concentrado. Depois podia ser Lipe a pedir incentivo, e Lucão compensava trazendo calma. Então era sua vez de vibrar, e assim por diante.


"Lembro quando saiu o ouro do Thiago Braz no salto com vara, no Engenhão, falaram no microfone do Maracanãzinho e a galera foi ao delírio. Nosso jogo era contra a França e ele também [disputava] contra um francês. Também lembro um jogo contra a Argentina, que é o clássico do futebol que se torna clássico em todos os esportes", relata.

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Hugo Calderano conta que gosta de estar sob pressão da torcida e, de forma subconsciente, consegue crescer no jogo. Sentirá falta não só dos brasileiros em geral nas arquibancadas, mas também de sua família, que estava em peso no Rio e planejava ir ao Japão.


Como o tênis de mesa tem suas principais competições na Europa e na Ásia, é por lá que Hugo anda nos últimos anos. Torce para ver os familiares em breve na Alemanha, mas o futuro é incerto, já que vários países têm proibido a entrada de brasileiros.


"Por causa da pandemia, não vou para o Brasil desde dezembro de 2019. São 15 meses. Antes disso, o máximo [que tinha ficado sem voltar] eram cinco meses", recorda, sem perspectiva de visitar o país.


A diferença na atmosfera dos Jogos de Tóquio não estará só nas arquibancadas, mas também em locais ao redor.


A multietnicidade é marca registrada e um dos aspectos mais marcantes do evento esportivo, que reúne fãs de todo o mundo e transforma a cidade-sede num grande espaço de encontro.


"Minha família e meus amigos estavam no Rio. O que eles me contam do que viveram no período foi incrível. O quanto puderam comemorar, passear, as competições que viram, é uma troca incrível", comenta Ágatha.


Além disso, na Vila Olímpica e em outras instalações, atletas de dezenas de nacionalidades podem se encontrar, ou então sair para conhecer a cultura local. Em Tóquio, isso será bem diferente.


"Eu não diria que tira o brilho. Competir com o surfe na Olimpíada vai ser um sonho, mas vai ser bem diferente do que nós imaginamos, sem poder conhecer mais de perto a vida local, a cultura. Vai ser chato, mas o mais importante é estar lá competindo com todos em segurança", pontua Italo.


Todos concordam que o mais importante é a segurança sanitária. Também lembram que, para quem está competindo atualmente sem público algum, a mera possibilidade de ter alguém para assistir já os faz feliz.


Como Bruninho brinca, no momento atual seria bonito poder ver a cena de um torcedor alemão torcendo para o Brasil porque o jogo é contra a França. "Isso seria um grande marco, porque os Jogos trazem isso na sua simbologia, nos valores. E atualmente, com o mundo inteiro lutando contra a pandemia, seria algo realmente emblemático. Vai fazer falta."


Ele revela estar curioso para saber como será feita a cerimônia de abertura, que tradicionalmente reúne milhares de atletas no estádio. E não esconde a esperança de ver, no dia 23 de julho de 2021, pelo menos algumas pessoas na torcida e sem risco.

"Confio muito no Japão, um país muito correto. Eles são muito rígidos com relação a tudo. Acho que os protocolos e as restrições vão funcionar muito bem, então vai ser seguro. E melhor isso do que nada", encerra o atleta.


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