O Comitê Olímpico Internacional (COI) adiou a decisão sobre uma eventual suspensão da Rússia dos Jogos Olímpicos do Rio em agosto, uma medida que valeria para todas as modalidades, e anunciou que só apresentará uma definição sobre o assunto no próximo fim de semana.
Inédita, a decisão promete causar uma crise sem precedentes entre a entidade e Moscou. Vladimir Putin, presidente russo, já havia indicado que tal gesto significaria um "cisma" no movimento olímpico.
Nesta terça-feira, o caso se transformou em uma crise política e diplomática. Sergey Lavrov, o chanceler russo, se queixou ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, sobre a pressão feita pelo movimento olímpico dos Estados Unidos em defesa da exclusão russa.
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Lavrov telefonou ao americano para "expressar tudo o que ele pensava" sobre uma carta de americanos e canadenses, que começou a circular no fim de semana, pedindo a suspensão completa dos russos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, garantiu que a equipe russa "continua se preparando para os Jogos Olímpicos" e que Putin não tem o desejo de boicotar o evento no Rio.
A crise foi aberta depois que uma investigação independente revelou que o governo russo, com a ajuda do serviço secreto, fraudou os testes de laboratório antes dos Jogos de Londres em 2012, durante o Mundial de Atletismo de 2013, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, no Mundial de Esportes Aquáticos de 2015 e na preparação para o Rio-2016.
Uma reunião de emergência foi realizada nesta terça em Lausanne para tomar as primeiras medidas. Mas, em um encontro tenso, o COI optou por adiar uma decisão final. O presidente da entidade, Thomas Bach, sempre elogiou Putin e já deixou claro internamente que é contra um banimento total da Rússia.
Agora, uma comissão vai investigar e avaliar se seria legal ou não suspender todo um país do evento. "Vamos explorar as opções legais sobre uma suspensão coletiva ou o direito à Justiça individual", indicou o COI em um comunicado. A entidade afirmou que vai aguardar primeiro uma decisão da Corte Arbitral do Esporte que, na próxima quinta-feira, julgará o recurso russo contra a suspensão do seu atletismo, impedido de participar da Olimpíada, por causa da acusação de um esquema de doping sistemático.
Mas o COI deixa claro que o princípio da "presunção de inocência" foi afetado e que, agora, caberá a cada modalidade indicar qual atleta russo poderia ir ao Rio.
Além disso, será avaliado que tipo de tratamento se dará a atletas considerados como "limpos". Diversas entidades esportivas tem alertado sobre a ilegalidade de simplesmente banir um país inteiro, sem provas sobre cada um dos atletas.
O COI também anunciou que irá refazer os exames de doping de todos os atletas russos que participaram dos Jogos de Inverno em Sochi, em 2014. A entidade ainda pede que o informe independente seja ampliado e que seu autor, Richard McLaren, revele os nomes dos atletas descobertos.
A entidade também vai exigir que todos os dirigentes mencionados na investigação tenham suas credenciais suspensas para o Rio-2016 e um comitê disciplinar foi convocado para avaliar os casos. Entre eles estaria o ministro dos Esportes, Vitaly Mutko.
Até que não haja uma decisão final, o COI pede que as diferentes federações esportivas não deem a Rússia o direito de organizar competições internacionais e que busquem alternativas. Isso inclui os Jogos Europeus, marcados para 2019 na Rússia.
Medidas drásticas, segundo os dirigentes, se justificam diante do que foi revelado. "O Ministério dos Esportes dirigiu, controlou e coordenou a manipulação dos resultados de atletas, ajudados pelo FSB (o serviço secreto russo)", declarou a investigação, apontando para pelo menos 20 modalidades envolvidas.
A investigação foi feita depois que o ex-diretor do laboratório russo, Grigory Rodchenkov, revelou ao New York Times que, durante os Jogos de Sochi, recebeu ordens para trocar as amostras de sangue e urina de dezenas de atletas. Pelo menos 15 deles ganharam medalhas.
"Chegamos à constatação de que o laboratório de Moscou criou um sistema de doping direcionado pelo Estado" disse McLaren. "Isso não é apenas para atletismo, mas para muitos esportes", insistiu. Segundo ele, a metodologia consistia "em trocar amostras e permitir que atletas pudessem competir, mesmo dopados".
Em Sochi, a manipulação também ocorreu. Mas, com a vistoria internacional, os russos tiveram de se adaptar para fazer desaparecer as amostras. O FSB foi acionado e criou um banco secreto de amostras congeladas e que estariam todas limpas. Os testes eram colhidos regularmente. Mas pela noite era passado por um "buraco de rato" para um prédio ao lado, onde ocorria uma operação ilegal. Ali, as amostras eram abertas e trocadas.
Segundo McLaren, o serviço secreto passou a cuidadosamente abrir cada um dos recipientes lacrados. A olho nu, a operação não deixou rastros. Mas o investigador avaliou os recipientes e registrou arranhões em 100% deles. "Assim, os atletas podiam competir sabendo que não seriam pegos", disse McLaren.
Segundo ele, Vitaly Mutko, ministro dos Esportes, não tinha como não saber. A Fifa anunciou que o russo, que atua na organização da Copa do Mundo de 2018 e é membro do alto escalão da entidade do futebol, será investigado.