O nome é de origem nigeriana, terra de seu pai, Hakeem Olajuwon, um dos melhores pivôs que a NBA já viu: Alon Abisola Arisicate Olajuwon. A fim de facilitar a tarefa de quem lhe dirige a palavra, a jogadora pede para ser chamada de Abi. Mas as colegas de Ourinhos ainda acharam meio incômodo pronunciar "eibi". Assim, a nova guardiã do garrafão verde atende por Hebe em Ourinhos.
Takashi Masuda, ex-médico e assistente técnico da seleção brasileira juvenil de beisebol, hoje presidente do Ourinhos Basquete, explica com toda a simplicidade, traço tão evidente do caráter ourinhense, como a filha de um mito foi parar lá, na divisa entre São Paulo e Paraná, em cidade cortada por três rios, Paranapanema, Pardo e Turvo. "Estamos apanhando muito das pivôs dos outros times. Então resolvemos nos reforçar nessa posição. O agente dela ligou pra nós e eu vi o currículo do seu pai. Aí pensei: se o pai foi cobra, acho que ela tem pedigree, né?".
"Hebe" não pode ser chamada exatamente de "gracinha". Tem 1,93 metro e é robusta. Deve assustar um pouco as adversárias que se acotovelam com ela nos garrafões. Mas não causou grande impacto na WNBA. Escolhida (draftada) em 28º lugar em 2010, pelo Chicago Sky, acabou dispensada. Jogou seis partidas, atuando por cinco minutos, em média. Anotou um ponto por jogo. Depois foi para o Tulsa Shock, no estado de Oklahoma. Fez amizade com o astro do Thunder, Kevin Durant, mas a equipe foi mal. Demitiram o técnico, remontaram o elenco.
Leia mais:
Moringão recebe Festival de Ginástica Rítmica de Londrina pela primeira vez
Equipe londrinense é campeã dos Jogos Abertos do Paraná em Apucarana
Apucarana recebe a fase final dos Jogos Abertos do Paraná a partir desta sexta
Atleta da Atril promove Oficinas de Atletismo para crianças no dia 8 de dezembro em Londrina
Abi resolveu cruzar fronteiras. Aos 24 anos, já tem no currículo passagens curtas pelo CSM Satu Mare, da Romênia, pelo Hapoel Rishon, de Israel, e pelo Castors Braine, da Bélgica. "Gosto de viajar pelo mundo", justifica.
A jogadora manifestou certa preocupação com a segurança. Mas Ourinhos não é São Paulo ou o Rio. O jornal Tribuna Ourinhense parece alarmado. "Faltando dois meses para acabar o ano, número de homicídios já é igual ao de 2011", mancheta. Esse número é de dez mortes.
Há pouco mais de uma semana na cidade, Abi já não está muito interessada em arroz com feijão. Com a ajuda de um cardápio com fotos, pede um sushi no shopping da cidade – na verdade, uma galeria de dois andares. Depois, o assessor de imprensa da prefeitura pede para que a equipe de reportagem do Estado simule fazer uma pergunta. O repórter pega o bloco de anotações, a jogadora deixa o cardápio de lado. Clique. A foto deverá ser publicada no site em breve. Hebe já faz um baita sucesso.
Nos Estados Unidos não fez muito, é fato. "Nem Michael Jordan foi sempre uma unanimidade. Todo mundo tem suas quedas. Meu pai disse para eu considerar bem – não são todas as universitárias que chegam à WNBA. Eu cheguei".
Edson Ferreto, o técnico de Ourinhos, vai na mesma linha. Uma jogadora com passagem – mesmo que inexpressiva – pela WNBA pode fazer diferença na modesta liga brasileira. Ademais, sua companheira de garrafão será Damiris, da seleção. O presidente Masuda está confiante – Ourinhos não vai mais apanhar no garrafão.
Para aliviar a pressão sobre a novata, Ferreto produz uma fase de efeito. "Não sei quem é a filha do Hakeem Olajuwon. Eu sei quem é a Hebe".
Olajuwon promete visitar Ourinhos. "Ele vem, só não sei dizer quando. Terá que ser num momento tranquilo do campeonato. Não quero causar distração para as minhas colegas. Nosso foco está na quadra", diz Abi.
No dia 25, pelo Campeonato Paulista, Abi deve estrear, e logo contra o arquirrival, Americana. O orgulho de Ourinhos está ferido. Desde 2008 não fatura o título nacional. O momento agora é de peito estufado. Abi e Damiris chamam a atenção. O diminuto ginásio Monstrinho – cabem duas mil pessoas – ficará mesmo pequeno para a torcida. Assim se espera. As informações são do jornal O Estado de São Paulo.