Um ano depois de ter oficializado sua candidatura a sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024, a cidade de Roma voltou atrás. Nesta quarta-feira (21), a prefeita Virginia Raggi confirmou os rumores das últimas semanas e anunciou a retirada da capital italiana da disputa.
O abandono do projeto para receber as Olimpíadas foi comunicado por meio de uma coletiva de imprensa no Campidoglio, sede da Prefeitura, após Raggi ter faltado a uma reunião com o presidente do Comitê Olímpico Nacional Italiano (Coni), Giovanni Malagò.
Seria a última tentativa do dirigente de reverter a decisão da prefeita, que já era prevista desde que ela foi eleita, em junho passado, apesar dos apelos de cartolas, atletas e do primeiro-ministro Matteo Renzi. O encontro estava marcado para 14h30 (horário local), mas, depois de ter esperado por 35 minutos, a delegação do Coni deixou o Campidoglio em protesto contra a atitude da prefeita.
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"É irresponsável dizer sim a essa candidatura. Falamos isso com força em 2015, reiteramos na campanha eleitoral e dizemos agora. Nunca mudamos de ideia", declarou Raggi, que lembrou que os romanos ainda pagam 1 bilhão de euros da dívida relativa aos Jogos de 1960, realizados na "cidade eterna".
"Não temos nada contra as Olimpíadas, mas elas viraram um negócio. Não às Olimpíadas dos tijolos. Na prática, elas são uma espécie de cheque em branco assinado pelos países-sede. As Olimpíadas são um sonho que se torna pesadelo. É um negócio para os grandes lobbies, os grandes construtores", acrescentou.
A chefe municipal também citou o caso do Rio de Janeiro, que acaba de sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. "Não temos dados do Rio, mas temos nos olhos as imagens dos habitantes do Rio", disse.
Com a confirmação da desistência de Roma, o gabinete de Raggi deve discutir na semana que vem uma moção para retirar formalmente o apoio do Campidoglio à candidatura, o que, na prática, enterrará o projeto olímpico da cidade.
Primeira prefeita mulher na milenar história de Roma, Raggi tem 37 anos e representa o Movimento 5 Estrelas (M5S), partido antissistema e populista que faz oposição ao governo de centro-esquerda de Renzi. A legenda sempre criticou a candidatura, e Raggi, durante a campanha eleitoral, chegou a dizer que era "criminoso" pensar em Olimpíadas enquanto a capital "morre afogada em trânsito e buracos".
Na semana passada, o humorista Beppe Grillo, fundador e líder do M5S, publicou em seu blog um manifesto contra os Jogos, aumentando a pressão sobre Raggi, que vem perdendo apoio até dentro do movimento por conta das confusões envolvendo sua curta administração.
Além de lidar com problemas crônicos de trânsito e limpeza urbana, a prefeita passou a ser questionada por causa da nomeação para seu gabinete de pessoas investigadas pela justiça. A desistência de Roma acontece justamente no momento em que Raggi tenta recompactar o M5S em torno dela.
A candidatura da capital italiana havia sido oficializada em 11 de setembro do ano passado, quando o prefeito ainda era o centro-esquerdista Ignazio Marino, derrubado meses mais tarde após ter perdido o apoio de sua própria legenda, o Partido Democrático (PD), liderado por Renzi.
A queda de Marino fortaleceu o desencanto da população com as legendas tradicionais e deu combustível para a vitória de Raggi nas eleições antecipadas de junho deste ano, quando ela também proporcionou ao M5S o maior triunfo de sua história.
Com a saída de Roma, permanecem na disputa pelos Jogos de 2024 as cidades de Budapeste (Hungria), Los Angeles (EUA) e Paris (França). A prefeita desta última, Anne Hidalgo, já tentou aproveitar a ocasião para cobrar apoio de todos os candidatos à Presidência. "O consenso político é um elemento decisivo", afirmou.
A sede das Olimpíadas de 2024 será anunciada em setembro de 2017, em Lima, no Peru.