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Cidade completa 89 anos

Perfil de Londrina de sempre se renovar mantém ideia de 'lugar de oportunidades' para filhos e netos

Janaína Ávila - Especial para o Grupo Folha
10 dez 2023 às 13:33

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Classificada como uma “cidade-nova”, com menos de um século de existência e criada ao longo do século XX, Londrina assim como as outras do mesmo tipo, modificam a sua paisagem de forma frenética. “O seu presente se inventa a todo instante, abrindo mão de suas realizações prévias para desafiar o futuro”, afirma Wander de Lara Proença, professor do departamento de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e da FTSA (Faculdade Teológica Sul Americana).

Na opinião dele, a busca por oportunidades permanece como força motriz de renovação. “Esse perfil é potencializado pela produção do conhecimento e aqui, o marco é a chegada da UEL, em 1970, e de outras instituições de ensino superior posteriormente estabelecidas na cidade. Com isso, novas pesquisas passaram a estudar o passado da região, pelo viés de diferentes áreas do conhecimento, problematizando o imaginário de uma história hegemônica ou oficial, elaborada pelo prisma de uma elite vinculada aos poderes de mando”, comenta.


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Assim, continua o historiador, outros grupos sociais passaram a ser requisitados como protagonistas do passado e parte do presente. “Falo das populações negras, dos povos originários, mulheres, nordestinos, e tantos outros a serem incluídos e representados, por exemplo, nos lugares de memória, museus, monumentos, praças e ruas. A cidade precisa espelhar o protagonismo da diversidade que a construiu”, diz.

Para Proença, até o termo merece uma readequação. “É pioneirismo. Ao longo dos seus 89 anos, Londrina tem se caracterizado como uma cidade de vanguarda, prospectora do que é inovação no campo da educação, da saúde, da tecnologia, da comunicação, nas manifestações artísticas e culturais, na prestação de serviços por entidades assistenciais, ou na produção agrícola que se reinventa. A identidade representativa de Londrina está em sua diversidade. Nenhuma cidade brasileira teve em sua formação, em tão pouco tempo, a presença de 33 grupos étnicos. Nessa multiculturalidade e capacidade de acolher a pluralidade reside a força identitária de Londrina, permanecendo como um legado para guiar o desbravamento de um futuro capaz de criar uma cidade ainda mais respeitosa e mais inclusiva. O conhecimento do passado possibilita que surjam novos futuros”, pontua.

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Na metade da década de 1950, Alcênia Bris de Oliveira saia de Assaí com a única filha, Ilda, na época com doze anos de idade, para recomeçar a vida na cidade grande. Ela era cozinheira e a filha, hoje com 80 anos, ainda guarda na memória o barro da avenida Paraná. Ilda Alves de Oliveira Teixeira nasceu em agosto de 1943 e tinha doze anos quando chegou em Londrina, só ela e a mãe.
Ilda de Oliveira chegou em Londrina com 12 anos e aos 15 anos alfabetizava adultos que trabalhavam nas plantações de café

Ela também gosta de lembrar dos bailes na AROL, a Associação Recreativa Operária de Londrina, que ficava na Vila Nova, organização negra criada na década de 1950. “A gente ia de sapato velho, chegava no clube e deixava o sapato sujo no banheiro para dançar com o limpo”, lembra. Moravam na Vila Recreio e dali ela via a cidade crescer e com ela, a sua vontade de estudar; de ser professora. Mas antes, foi substituir a mãe na cozinha de um hotel, como cozinheira. Com 14 anos de idade, dava aulas de alfabetização para ensacadores de café. “Eu queria ser professora, de qualquer jeito”, sentencia.

Com a ajuda de Cipriano Miguel, que criou a associação onde a jovem Ilda adorava dançar, conseguiu junto ao prefeito Antonio Fernandes Sobrinho um lugar para lecionar. Uma menina negra, com quinze anos de idade, alfabetizando adultos, trabalhadores braçais nos cafezais. “Eu saia pelas máquinas de café chamando os ensacadores para estudar. Eles eram meninos também, me chamando de professora. Ninguém me chamava pelo nome, era só professora. Todos me ouviam, sentados. A minha vontade era ocupar uma cadeira na universidade federal, mas isso eu não pude. Éramos pobres”, rememora. Sempre como alfabetizadora, também deu aulas para adultos em uma escola no Jardim do Sol e continuou estudando e sonhando com as oportunidades.


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