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Santa Mercedes

Última cidade sem Covid-19 em SP prioriza atenção básica

Cláudia Collucci e Marcelo Toledo - Folhapress
13 ago 2020 às 10:17
- Reprodução/Pixabay
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Ela não adotou barreiras sanitárias nem fez desinfecção da cidade inteira com hipoclorito para combater a disseminação do novo coronavírus, mas priorizou a atenção primária à saúde e, nesta quarta (12), era a única das 645 cidades de São Paulo sem nenhum caso da Covid-19.


Santa Mercedes é uma cidade de 2.939 habitantes na região de Presidente Prudente, de baixa densidade demográfica – 16,87 habitantes por km², ante a média da região de 36,3 – e que, neste ano, segundo a fundação Seade, apresentou taxa geométrica de crescimento negativa (-0,06%).

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Sem leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nem respiradores, a cidade tem enfrentado a pandemia com redução do expediente em repartições públicas e rastreamento estratégico do PSF (Programa de Saúde da Família), com visitas casa a casa dos seis agentes comunitários de saúde, que cobrem 100% dos domicílios.

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Um telefone com atendimento 24 horas foi disponibilizado para tirar dúvidas ou atender suspeitas de descumprimento do isolamento social e a equipe de saúde passa por capacitação semanal.

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"Reforçamos muito a questão da prevenção, trabalhamos muito com o PSF. O agente comunitário de saúde é o maior veículo de comunicação e elo entre a família e a equipe de saúde. Damos suporte para esse agente e, principalmente nesse momento, mais ainda", afirmou a enfermeira Carla Priscila Alves Braga, secretária da Saúde de Santa Mercedes.


Ela disse que as famílias foram preparadas para receber os profissionais, e o agente faz o atendimento sem precisar entrar na casa da família. "Do portão ele leva a informação para que a família esteja orientada em relação à saúde."

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Além disso, as duas unidades básicas de saúde e órgãos como Vigilância Sanitária passam por desinfecção após o expediente, e quatro funcionários fazem a fiscalização sanitária da cidade.


Há dez casos de síndrome gripal em investigação, mas nenhum deles tem apresentado sintomas relativos à Covid-19, segundo a secretária. Parte deles deve colher material para exame nesta quinta (13).

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Segundo Braga, barreiras sanitárias não foram implantadas pelo fato de a cidade não ficar na divisa de estado e por que a cidade tem baixo fluxo de entrada e saída de veículos.


A maior parte da população é de funcionários públicos e aposentados. O atendimento ao público na prefeitura foi reduzido e ocorre das 8h às 13h.

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No balanço divulgado pelo governo paulista nesta quarta aparecem três cidades sem registro da doença, mas duas delas –Arco-Íris e Ribeirão Corrente– já tiveram casos confirmados do coronavírus.


Ribeirão Corrente, na região de Franca, confirmou o primeiro caso na última segunda-feira (10) e tem mais quatro suspeitos. A região é uma das duas únicas na fase vermelha, a mais restritiva, do plano de reabertura das atividades no estado –a outra é a de Registro.

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O paciente estava sendo acompanhado pela rede particular e já estava em isolamento, segundo afirmou em vídeo o secretário da Saúde da cidade, Etiene Siquitelli Silva.


Já em Arco-Íris, cidade da região de Marília, são quatro casos confirmados até a última semana, de acordo com a enfermeira Milena Silva de Jesus, supervisora da Saúde local.

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""O primeiro caso é de 1º de junho. Alguns trabalhavam fora", disse. Segundo ela, os casos foram informados às instâncias superiores e os quatro pacientes diagnosticados com a doença já estão curados.


Em comum, as últimas cidades a registrarem casos da doença são pouco populosas. Antes das três derradeiras, foram registrados casos em Florínea (2.676 moradores) e São José do Barreiro (4.147). Ribeirão Corrente tem 4.718 habitantes, e Arco-Íris, 1.791.


As informações do levantamento estadual são fruto de notificações das prefeituras, o que pode explicar o atraso na entrada dos dados no sistema aberto à consulta pela população e, também, eventuais mudanças na localidade de registro do caso da doença.


Em Santa Mercedes, isso ocorreu duas vezes. Na última, um ex-morador com diagnóstico positivo da Covid-19 não tinha atualizado seu endereço. Depois, após comprovação domiciliar, foi transferido no levantamento estadual.


A secretária de Santa Mercedes, porém, não espera que o status seja duradouro. "Não será um fracasso, de forma alguma [registrar caso de Covid]. Nos sentimos com a missão cumprida."


Análise


Os hospitais e suas UTIs têm aparecido como os principais protagonistas do cuidado aos pacientes com Covid-19, mas uma atenção primária à saúde (APS) bem estruturada também faz toda a diferença no controle da pandemia nos municípios brasileiros.


Uma vigilância atenta para frear novos casos da doença, a partir de testes, isolamento, rastreamento de contato, cuidado dos doentes com sintomas leves, e continuidade da atenção aos pacientes crônicos, grávidas e bebês, entre outros, são apenas alguns dos seus atributos neste momento.


Municípios com uma APS forte, com uma boa cobertura do programa Estratégia Saúde da Família, por exemplo, conseguiram rapidamente se organizar, separando fluxos de pacientes com suspeita de Covid daqueles com outras queixas.


Os que não estavam estruturados para isso, como os que possuem unidades pequenas e precárias, simplesmente fecharam os serviços devido ao risco de contaminação. No trabalho de campo, as equipes de saúde que tinham suas listas de pacientes organizadas e experiência em trabalho a distância conseguiram manter o monitoramento por meios virtuais.


A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e o Ministério da Saúde vão premiar as melhores iniciativas de APS durante a pandemia. Entre elas, há cidades com amplos programas de testagem, como São Caetano do Sul (SP).


Em Belo Horizonte, foi elaborada uma lista com dados dos pacientes crônicos mais complexos e distribuída a todas as equipes de saúde da família. Dependendo da condição do doente, ele passa por consulta a distância ou é orientado a uma presencial.


Alguns estudos já tentam mensurar, ainda que com limitações, a eficiência desses municípios, mostrando que onde existe uma APS forte houve uma menor taxa de mortalidade por Covid-19.


Um trabalho publicado pela Fiocruz comparou o número de óbitos por 100 mil habitantes até o início de julho. Mato Grosso do Sul e Santa Catarina tiveram taxa de mortalidade de 4,1 e 5,3 respectivamente. Nesses estados, há formação, residência médica em saúde da família, por exemplo.


A taxa média de mortalidade no país foi de 30,6. Estados em que os sistemas de saúde colapsaram, como Ceará, Amazonas e Rio de Janeiro, tiveram indicadores de 70,2, 70,4 e 61,5.


Uma hipótese é que os melhores desempenhos não só estejam ligados às respostas rápidas e efetivas no enfrentamento à pandemia, mas também porque as populações dessas localidades estejam mais bem cuidadas, com doenças mais bem controladas.


Segundo os especialistas em medicina intensiva, um dos fatores que explicam a diferença das taxas de mortalidade por Covid-19 entre hospitais públicos e privados é justamente a gravidade com que esses pacientes já chegam aos hospitais, muitas vezes associada a doenças crônicas descompensadas ou porque houve demora no encaminhamento.


Localidades com uma boa organização dos serviços de saúde conseguem detectar precocemente os casos mais graves, encaminhando-os mais rapidamente para internação.


A APS seguirá sendo fundamental no pós-pandemia. Tanto no cuidado das doenças negligenciadas no período, por falta de acesso ou de medo das pessoas de procurarem o serviço de saúde, quanto nas novas que eventualmente surgiram neste período.


Está prevista uma avalanche de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade. Sem contar as mais de 100 mil famílias enlutadas que o país ganhou e não pode fechar os olhos para as eventuais consequências dessa dor.


Passada esta crise, há muitas coisas que precisam ser repensadas, como o orçamento federal da saúde. Hoje, 70% dele vai para alta complexidade, assistência hospitalar. Nos países desenvolvidos, com sistemas universais de saúde, esse gasto é inferior a 60%. O resto vai para a atenção primária.

Municípios que fizeram a diferença na pandemia têm muito a ensinar sobre as estratégias exitosas, muitas delas graças investimentos e treinamentos adequados na APS. E os gestores de saúde que não conseguiram o mesmo desempenho, muito a aprender.


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