O envelhecimento cerebral é inevitável, mas cada um possui um ritmo específico de acordo com fatores externos. É isso o que informa a Dra. Sonia Brucki, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
"Quanto mais o cérebro sofre estímulos intelectuais, mais tardiamente perderá suas conexões. Por isso, colocamos dentro do grupo de risco, pessoas com baixa escolaridade".
Em qualquer fase da vida podem surgir doenças decorrentes de perdas cognitivas. Uma das causas é a relação com outros complicadores, como traumatismo craniano e o AVC.
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Problemas como diabetes, hipertireoidismo e deficiência de vitamina B12, por exemplo, além de doenças sistêmicas, como insuficiência renal, também são fatores que contribuem para o desenvolvimento de demência. Por isso, esses quadros requerem diagnósticos e tratamentos adequados para evitar complicações.
A demência é a doença cognitiva mais comum. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 35,5 milhões de pessoas no mundo apresentam alguma manifestação. De acordo com pesquisa publicada em 2012, pela Associação Internacional de Doença do Alzheimer, esse número dobra a cada 20 anos; assim chegaremos a 65,7 milhões em 2030. A cada quatro segundos, um novo caso é detectado. Em idosos, as causas degenerativas mais comuns são a Doença de Alzheimer e Demência com Corpos de Lewy.
Corpos de Lewy
Nessa doença, os chamados corpos de Lewy se depositam dentro da célula nervosa e contribuem para a morte das células cerebrais. É menos frequente que a Doença de Alzheimer; os fatores de risco que podem ocasioná-la são menos conhecidos.
Dificuldade de atenção e concentração, alterações em visoconstrutivas (como desenhar um relógio, por exemplo) e flutuação da consciência estão entre os seus principais sintomas. Entretanto, três sintomas são necessários para confirmar o diagnóstico: alucinações visuais, tremor e rigidez, semelhantes ao do Parkinson, e flutuação do estado mental, alternando entre lucidez e confusão. A identificação do Corpos de Lewy é feita por exclusão, pois as estruturas que causam o distúrbio só podem ser vistas em análise do tecido cerebral, após a morte.
Sua progressão é mais rápida que a do Alzheimer e, também, leva a total dependência – a expectativa de vida após os primeiros sintomas é de sete anos. Estudo realizado pelo Centro de Investigação de Doença de Alzheimer da Faculdade de Medicina de Washington University mostra que a sobrevida média de pessoas com Doença de Lewy é de 78 anos, enquanto pessoas com Alzheimer têm expectativa de 84,6 anos.
Alzheimer
De acordo com dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), são mais de 15 milhões de brasileiros acima de 60 anos e 6% deles sofrem da Doença de Alzheimer. Nos Estados Unidos, é a quarta causa de morte de idosos entre 75 e 80 anos – atrás apenas do infarto, derrame e câncer. Estima-se que 4,5 milhões de americanos sofram da doença.
Neurodegenerativa e de causa desconhecida, provoca declínio das funções intelectuais, diminuindo a capacidade de trabalhar e de fazer adequadamente atividades da vida diária. A princípio, a memória recente é afetada. Mas com a progressão da doença, os impactos são maiores, afetando a capacidade de orientação, compreensão, comunicação e atenção. "Em casos mais graves, o paciente é totalmente dependente, precisando de ajuda em atividades simples diárias, como alimentar-se, vestir-se e higienizar-se", explicadra. Sônia.
Segundo a especialista, esse é o tipo de demência mais comum, responsável por até 60% dos casos. Para identificar o Alzheimer, os familiares devem prestar atenção nos sintomas primários da doença – esquecimento e alterações no comportamento – para então distinguir de alterações normais do envelhecimento. Na maioria dos casos as primeiras manifestações acontecem a partir dos 65 anos de idade.
O Ministério da Saúde, em 2012, publicou uma portaria que institui ao Sistema Único de Saúde (SUS) o Programa de Assistência aos Portadores da Doença Alzheimer. Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso são responsáveis pelo diagnóstico, tratamento e acompanhamento do paciente, assim como orientação aos familiares e atendentes. Atualmente, há aproximadamente 30 Centros cadastrados no país.
O tratamento medicamentoso ameniza e retarda os seus efeitos, visando à correção do desequilíbrio químico do cérebro. Métodos alternativos são empregados para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar do paciente, como terapias ocupacionais, fisioterapia e fonoaudiologia.
Dra. Sonia defende que, para prevenir o Alzheimer, Corpos de Lewy e outros tipos de demência, é necessário manter a mente ativa. "Ler, conversar, praticar exercícios físicos, dieta balanceada, tratamento de doenças sistêmicas e preservação da vida social são fatores que retardam o envelhecimento cognitivo", conclui.