Mulheres de diferentes idades diferem em suas razões para querer congelar seus óvulos. É o que revelam dois estudos apresentados durante a 26 ª reunião anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia.
O primeiro estudo, feito com 200 estudantes universitárias na Grã-Bretanha, realizado por Srilatha Gorthi, pesquisadora do Centro de Medicina Reprodutiva de Leeds, no Reino Unido, revelou que oito em cada dez estudantes de Medicina considerariam fazer o procedimento para poderem se concentrar na carreira, antes de decidirem ser mãe. Entre estudantes de Esportes e Educação, a metade disse que consideraria o procedimento. Segundo a pesquisadora, as estudantes de Medicina citaram a carreira como justificativa mais comum para considerarem o congelamento, as demais estudantes estavam mais preocupadas com a estabilidade financeira.
Para Gorthi, a sociedade precisa oferecer mais apoio às mulheres jovens para que possam começar sua família quando estiverem prontas, sem ter de comprometer suas carreiras. "Mulheres que pensam em passar por esse procedimento precisam receber informações precisas e aconselhamento quanto aos benefícios e limitações do congelamento", defendeu a pesquisadora.
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Um segundo estudo, conduzido por Julie Nekkebroeck, psicóloga sênior do Centro de Medicina Reprodutiva UZ Brussel, em Bruxelas, investigou um grupo de 15 mulheres, com idade média de pouco mais de 38 anos, com alto grau de instrução e poder aquisitivo. Ela descobriu uma tendência entre as mulheres perto de completar 40 anos de optarem pelo congelamento de seus óvulos, enquanto procuram o parceiro certo. Um terço das quinze entrevistadas disse que estava recorrendo ao congelamento também como uma medida de segurança contra a infertilidade.
Segundo a psicóloga, estas mulheres haviam tido parceiros no passado, e quando perguntadas por que não tinham realizado o desejo de ter um filho, a maioria respondeu que achava que ainda não tinham encontrado o parceiro certo. As participantes da pesquisa de Julie Nekkebroeck descobriram a possibilidade de congelamento de óvulos através da internet, antes disso, 46,7% tinha pensado em se tornar uma mãe solteira com o uso de esperma de um doador, e 26,7% delas consideraram a adoção ou ficar sem filhos.
Sobre o congelamento de óvulos
Segundo o Prof° Dr. Joji Ueno, ginecologista, diretor da Clínica GERA, que participou do evento, as duas pesquisadoras, ao apresentarem os resultados de seus estudos, reforçaram a necessidade de ofertar mais informação a estas mulheres sobre a idade em que elas poderão iniciar suas famílias, a probabilidade de sucesso do tratamento e o número de óvulos que precisam ser congelados a fim de oferecer uma perspectiva realista para o sucesso futuro do tratamento. "As mulheres que pensam em congelar seus óvulos precisam receber informações precisas e contar com aconselhamento apropriado para os benefícios e limitações do congelamento de oócitos em comparação com outras opções para a preservação de sua fertilidade. Isto lhes permitirá tomar a melhor decisão para suas vidas", defende o médico.
Numa sociedade em que as mulheres estão cada vez mais adiando a maternidade, as clínicas de reprodução humana que oferecem o serviço devem oferecer mais informações às suas pacientes para que suas expectativas possam ser atendidas no futuro. Para Ueno, existe a idéia "de uma grande facilidade" na questão do congelamento de óvulos. Mas a prática clínica tem desmentido "esta suposta facilidade". Em novembro do ano passado, a Sociedade Britânica de Fertilidade e a Associação dos Embriologistas Clínicos emitiram novas diretrizes sobre a eficácia e a segurança deste procedimento, que foram publicadas no jornal da entidade, o Human Fertility.
"As entidades britânicas defenderam o posicionamento de que o congelamento de óvulos é uma tecnologia de apoio à preservação da fertilidade de mulheres com câncer, que irão se submeter à quimioterapia ou à radioterapia, mas não é a solução para neutralizar o declínio da fertilidade feminina em decorrência da idade", explica Joji Ueno. As orientações das entidades são fruto de uma ampla revisão das pesquisas e trabalhos publicados sobre o tema, empregando diferentes tecnologias. Novas diretrizes só serão revistas e editadas pelas entidades inglesas, em junho de 2013 (com MW-Consultoria de Comunicação).