O Tribunal do Júri de Curitiba deve seguir em 2014 com a análise das audiências das testemunhas de defesa e acusação de um caso inusitado que envolveu a médica Virgínia Helena Soares de Sousa e outros sete profissionais de saúde. A ex-chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Evangélico de Curitiba foi presa no dia 19 de fevereiro de 2013, acusada de antecipação de morte de pacientes. A decisão sobre a realização de um júri popular pode ser tomada no próximo ano.
A investigação do caso foi feita pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), da Polícia Civil. Até o final deste ano, a 2ª Vara do Tribunal do Júri ainda julgava a médica e outros sete acusados de antecipação de morte de sete pacientes que passaram pela UTI geral do Hospital Evangélico. Porém, outros 20 casos semelhantes a estes e que foram analisados pelo Ministério Público, pela Polícia Civil e os quais o Ministério da Saúde também teve acesso ainda são investigados e os envolvidos podem também responder por estes óbitos.
A médica e os outros acusados estão em liberdade. Virgínia, apesar de solta, teve que se apresentar durante o ano de 2013 uma vez por mês no Tribunal do Júri para comprovar que permanece em Curitiba e para receber instruções. Segundo o advogado de defesa da acusada, Elias Mattar Assad, o Tribunal decidiu mudar a forma como ela se apresenta à Justiça – de mensal para bimestral. Com isso, em 2014, ela deve ir ao Tribunal pela primeira vez no ano na última quinta-feira de janeiro.
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Suspeita - Escutas telefônicas e prontuários médicos analisados pela Polícia Civil mostraram que a médica e outros membros da equipe da UTI aplicavam medicamentos em pacientes internados no setor. As vítimas, minutos depois, chegavam ao óbito. A acusação é de que o medicamento era injetado em todos os pacientes com a mesma dosagem e de forma semelhante, sem se respeitar questões como altura, peso ou se a pessoa internada teria alguma doença ou restrição. Além disso, os medicamentos seriam apenas de aplicação contínua.
Outro ponto da investigação é que a médica coagiria membros da equipe a praticarem o método. Ex-funcionários do Evangélico que trabalharam com a médica a acusam dos crimes e, em depoimento, confirmaram à Polícia Civil a informação que levaram a suspeita sobre a médica e outros sete ex-funcionários do hospital.
Métodos - Na denúncia do Ministério Público enviada à Justiça, a promotora de Justiça Fernanda Garcez usou os sete casos de mortes investigadas pela Polícia Civil para embasar a acusação. As vítimas eram mortas por asfixia e com aplicação de medicamento Pavulon. Uma das vítimas, segundo a denúncia, teria recebido dose de medicamento, o que faria o paciente necessitar de ventilação mecânica. Porém, segundo o MP, a médica teria diminuído "os parâmetros do suporte de ventilação mecânica" de oxigênio.
"Antes de lhe negar suporte ventilatório indispensável, valendo-se de seus conhecimentos médicos insuspeitáveis, ocultando assim a intenção hostil, aplicou o "Pavulon" para paralisar os músculos respiratórios da paciente e deixou a vítima sem condições de recusar o procedimento indevido que lhe foi importo, subtraindo qualquer chance de resposta fisiológica de reação do organismo", diz o texto da promotora.
Virgínia é processada por sete homicídios duplamente qualificados e formação de quadrilha. Cinco outros suspeitos, também acusados de formação de quadrilha, são Anderson de Freitas – dois homicídios duplamente qualificados – Edison Anselmo da Silva, Lais da Rosa Groff Junior, Maria Israela Cortez Boccato e Ptrícia Cristina de Goveia Ribeiro – homicídio duplamente qualificado – também são acusados de formação de quadrilha. Carmencita Emília Minozzo e Claudinei Machado Nunes são suspeitos somente de formação de quadrilha.
Para 2014 - Os próximos passos do juizado de Curitiba incluem a apreciação das audiências de todas as testemunhas de defesa e acusação contra a médica ex-chefe da UTI e demais suspeitos. O advogado Elias Mattar Assad sustenta a "inexistência de fato criminoso" e que a médica teria apenas utilizado "medicina intensiva e anestésica" necessária para os casos relatados.
Mattar Assad acredita que o juiz Daniel Surdi de Avelar, que analisa o caso no Tribunal, poderá pedir uma perícia sobre o caso. "Eu acredito na deliberação de uma perícia. Mas não há como saber como será essa perícia (farmacológica, documental) nem quando ela será pedida". Depois dessa perícia, o juiz fará o interrogatório dos acusados e poderá decidir ou não pela realização de um júri popular.