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Incluindo Paraá

Casos de meningite transmitida por caramujo se espalham pelo Paraná

Ascom IOC
18 jul 2014 às 15:06

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- Reprodução
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Uma nova forma de meningite está se espalhando pelo Brasil nos últimos anos. Transmitida principalmente por moluscos, incluindo o caramujo gigante africano, a infecção é causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis. Chamada de meningite eosinofílica ou angiostrongilíase cerebral, ela já foi diagnosticada no Paraná e em outros cinco estados.

O levantamento faz parte de um estudo de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e da Universidade de Khon Kaen, da Tailândia, publicado na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Considerando que o verme foi detectado no Brasil há menos de dez anos, os autores ressaltam que os profissionais de saúde precisam estar atentos para identificar novos casos e a população deve adotar medidas de prevenção simples, principalmente no contato com caramujos.

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Originário da Ásia, o A. cantonensis foi associado a um caso de meningite pela primeira vez no território brasileiro em 2006. Desde então, foram confirmados 34 casos da infecção em pacientes de Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, com um óbito. Um dos autores da pesquisa, o médico Carlos Graeff-Teixeira, da PUC-RS, afirma que a chegada da doença era esperada por causa das características do verme. "Esse parasito é próprio de roedores, especialmente da ratazana, um animal que tem capacidade de sobreviver em praticamente qualquer ambiente e também costuma viajar nos navios. O aumento do transporte marítimo entre os países propicia a introdução do verme em novas áreas", destaca.

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No Brasil, a disseminação do parasito é favorecida pelo grande número de moluscos, em especial da espécie Achatina fulica – o chamado caramujo gigante africano, que se tornou uma praga no país. Assim como os ratos, os moluscos fazem parte do ciclo de vida do verme. As formas adultas do A. cantonensis são encontradas nos roedores: é neles que os vermes se reproduzem, garantindo sua continuidade. Eliminadas nas fezes destes animais, as larvas do parasito são ingeridas pelos caramujos. Dentro dos moluscos as larvas vão crescer, atingindo a fase em que se tornam capazes de infectar animais vertebrados. "O ciclo se fecha quando os ratos comem os moluscos infectados. Porém, as pessoas também podem ser infectadas se ingerirem os caramujos ou a baba (muco) liberada por eles, contendo as larvas do parasito", explica a pesquisadora Silvana Thiengo, uma das autoras do artigo recém publicado. A bióloga é chefe do Laboratório de Malacologia do IOC, que atua como referência nacional em malacologia médica junto ao Ministério da Saúde.

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A pesquisadora destaca que o verme infecta diversos tipos de moluscos, incluindo algumas espécies nativas do Brasil. Todas elas podem propagar a doença, mas o caramujo gigante africano tem sido o vetor mais frequente. "O Achatina é um excelente transmissor da infecção. Capaz de se alimentar de diversos tipos de plantas ornamentais, verduras e frutas, ele é encontrado em áreas urbanas e rurais e fica muito próximo das pessoas. O contato frequente da população com o molusco facilita a transmissão", avalia a pesquisadora.


Introduzido no Brasil na década de 1980, o caramujo gigante africano é encontrado hoje em 25 estados e no Distrito Federal. A única área do país onde o molusco ainda não foi identificado é o estado do Rio Grande do Sul. Dados compilados pelos pesquisadores do IOC e da PUC-RS mostram que em 11 estados já foram coletados caramujos desta espécie infectados pelo verme A. cantonensis. Ou seja: ainda que nem todos os estados tenham registrado casos até o momento, há potencial para a transmissão da doença. Os locais onde os caramujos infectados foram detectados variam desde as maiores cidades do país – São Paulo e Rio de Janeiro – até municípios isolados – como Barcelos, que fica a dois dias de barco de Manaus. Em oito estados, também foram encontradas outras espécies de moluscos infectadas pelo parasito.

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Sintomas, diagnóstico e tratamento


A meningite causada por A. cantonensis começa com a ingestão do caramujo ou de muco do molusco infectado. Uma vez ingeridas, as larvas do verme migram para o sistema nervoso central e se alojam nas meninges – membranas que envolvem o cérebro. O organismo inicia uma reação inflamatória, que resulta no quadro de meningite. Geralmente, a doença é autolimitada, pois os parasitos não conseguem se reproduzir no ser humano e morrem naturalmente. No entanto, alguns pacientes desenvolvem formas graves e o índice de mortes é de 3%. O atraso no diagnóstico é um dos fatores que contribuem para o agravamento do quadro: cada dia de dor de cabeça prolongada aumenta em 26% as chances de coma.


Segundo Carlos Graeff-Teixeira, a dor de cabeça causada pela meningite eosinofílica é tão intensa que costuma levar os doentes a procurar os serviços de atendimento de emergência. Em muitos casos, os pacientes apresentam também rigidez da nuca e febre. Os sintomas são os mesmos de outras formas de meningite, causadas por vírus e bactérias. Por isso, o diagnóstico correto da doença depende de resultados laboratoriais – um passo a passo é apresentado no artigo publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Entre as etapas mais importantes está a análise do líquor, líquido que fica entre as meninges e é extraído através da punção lombar. "Considerando a presença do A. cantonensis em diversos estados do Brasil, é importante realizar esta análise em todos os casos suspeitos de meningite", acrescenta.

Embora não exista uma medicação com eficácia comprovada para matar os parasitos, o tratamento é importante para amenizar os sintomas e reduzir as chances de agravamento da doença. "O verme morre mesmo sem o uso de remédios. Porém, a reação inflamatória muito forte desencadeada pelo organismo em resposta à infecção pode ser danosa", esclarece Carlos. Diferentes opções de terapia são apresentadas no estudo. Uma comparação realizada pelo pesquisador tailandês Kittisak Sawayawisuth, também autor do artigo e um dos maiores especialistas no tratamento da doença, mostra que enquanto pacientes medicados apenas com analgésicos podem apresentar dor de cabeça por meses, o sintoma permanece por menos de uma semana, em média, nas pessoas tratadas com anti-inflamatórios do tipo corticoides, por exemplo.


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