As viagens de avião são frequentes e necessárias nos dias de hoje pelas oportunidades ao desenvolvimento profissional, cultural e de lazer oferecidas por esse meio de transporte. Além de encurtar distâncias, o avião é um dos veículos mais seguros, como é demonstrado em diversas pesquisas. Mas por que, apesar desses dados, grande número de pessoas continua com tanto medo de voar?
O primeiro passo é diferenciar o medo de voar e de uma verdadeira fobia. O medo de viajar de avião geralmente não impede o indivíduo de fazer suas viagens, a despeito do desconforto. Contudo, o medo pode às vezes evoluir para uma fobia, considerada como um Transtorno de Ansiedade, cuja causa é multifatorial. Fatores genéticos, neuroquímicos, socioculturais, tipo de personalidade e eventos de vida como traumas psicológicos estão envolvidos no surgimento das fobias.
"Muitas vezes as fobias são decorrentes de eventos em que o indivíduo experimentou expressivo medo no passado. Lugares, circunstâncias ou sensações associados ao trauma podem disparar a memória do evento e mecanismos de alerta como se a situação traumática estivesse acontecendo ou por acontecer, como um sistema que visa a sobrevivência. As emoções se superpõem à razão e as áreas límbicas são mais atuantes que as áreas envolvidas em processos de racionalização", esclarece Julio Peres, psicólogo e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP.
Leia mais:
Famílias que ganham até R$ 1.200 por mês usam 82% dos recursos aplicados no SUS
Novo plano para combater câncer de colo do útero tem foco em rastreio e vacina
Brasil registra mais de 11 mil partos resultantes de violência sexual, diz pesquisa
Sesa reforça gratuidade dos serviços ofertados pelo SUS
E para superar o medo ou a fobia, muitas pessoas têm buscado a psicoterapia que confere significativos resultados de superação. "A psicoterapia busca dissecar e trabalhar as associações estabelecidas entre eventos traumáticos e os respectivos sistemas de crenças que geram os comportamentos fóbicos. Os efeitos terapêuticos são em boa parte, decorrentes do ‘aprendizado de extinção’, que estabelece novas e saudáveis respostas mediante o estimulo que causava medo", explica Julio Peres. Trata-se de um processo ativo de aprendizado pelo qual o indivíduo organiza sua cognição com experiências gradativas de enfrentamento consciente, gerando uma nova associação saudável em detrimento da anterior.
Dicas
O psicólogo passa algumas dicas para quem tem medo, mas precisa voar:
- Auto-indução de relaxamento
Uma técnica que ajuda a enfrentar o medo antes e durante a viagem é a auto-indução de relaxamento com foco na respiração tranqüila apoiada por pensamentos de superação como "Eu me sinto tranqüilo e seguro", "Tudo está bem agora e assim continuará", "Sou capaz e supero a mim mesmo". A explicação é simples: quando hiperventilamos (respiração ofegante, ansiosa) provocamos alterações do oxigênio na corrente sanguínea, favorecendo progressiva confusão mental e, como decorrência, exacerbação do medo. Por outro lado, quando mantemos a respiração tranqüila nos sentimos mais seguros, confiantes e com o controle preservado.
- Resgatar a coragem
Outra boa dica é resgatar o repertório de vitórias em outros períodos da vida (conquistas de objetivos no campo familiar, profissional, escolar, esportivo, etc.). Tais lembranças podem mobilizar novas associações para o fortalecimento da auto-imagem corajosa e vencedora.
- Exposição suave e contínua
Enfrentar o medo aos poucos, por exemplo, primeiro enfrentar o aeroporto, depois vôos curtos sem tranqüilizantes e ir gradativamente se expondo a vôos mais longos. Chamamos esse processo de Dessensibilização (retirar a sensibilidade). Esse método favorece a diminuição gradativa da hipersensibilidade existente a uma condição fóbica por meio da exposição suave e contínua, que permite ao paciente fortalecer a percepção do controle e vitória sobre si mesmo (Floter&Schauff).