A coordenadora do Banco de Leite Humano (BLH) do HU, Márcia Benevenuto, foi uma da consultoras designadas pela Fiocruz para capacitar profissionais do BLH da República Dominicana. Ela viajou com outros dois consultores da Fundação no dia 10 de agosto e retornou no dia 25.
Márcia é consultora da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, que promove esse tipo de cooperação internacional com o objetivo de formar multiplicadores para transferir a tecnologia e as estratégias de atuação em Bancos de Leite Humano para outros países.
A viagem foi financiada pela Agência Brasileira de Cooperação, que faz parte do Ministério das Relações Exteriores e coordena projetos brasileiros de cooperação técnica, executados por meio de acordos firmados pelo Brasil com outros países e organismos internacionais.
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Márcia lembra que essas parcerias só foram possíveis graças às articulações políticas e bom relacionamento do coordenador da Rede Internacional de BLH, João Aprígio Guerra de Almeida, com profissionais e organismos de muitos outros países iberoamericanos.
Segundo ela, a viagem foi bastante positiva. Além de promover o aleitamento, o trabalho do banco de leite inclui ajudar as mães com as dificuldades na amamentação. "O banco de leite deve agir num esforço de promoção, proteção e apoio ao aleitamento e foi isso que nós compartilhamos com os profissionais daquele país", explica Márcia.
Na primeira semana, foi feito um treinamento com a equipe do banco de leite local, implantado em parceria com o Brasil. Na segunda semana, participaram profissionais de vários hospitais. Os dois cursos contaram com 49 profissionais, dos quais 70% eram médicos (pediatras e obstetras). Essa grande adesão, principalmente da classe médica, surpreendeu Márcia e mostra, segundo a consultora, que eles estão bem abertos para trabalhar o resgate da prática do aleitamento materno.
Márcia explica que o Brasil tem um trabalho de três décadas de políticas voltadas à redução da mortalidade infantil. "Em 2008, conseguimos uma taxa de 41% de crianças menores de seis meses em aleitamento materno exclusivo. O índice da República Dominicana, em 2006, era de apenas 8%. A mortalidade infantil é um indicador muito forte de desenvolvimento do país e é por isso que o Brasil tem recebido convites para compartilhar conhecimento, estratégias e tecnologias dos bancos de leite".
O curso incluiu a realização de dinâmicas com temas de manejo do aleitamento materno e aconselhamento para as mães. De acordo com Márcia, esses fatores são igualmente essenciais. "Se as mães não se sentem acolhidas, podem deixar de amamentar e de doar o leite. É muito importante ouvi-las".
O país tem agora o compromisso de multiplicar esse conhecimento entre médicos e enfermeiros que não participaram do curso e divulgar essas instruções entre as mães. Esse trabalho está sendo realizado em vários outros países da Iberoamérica, dos quais a consultora teve oportunidade de também colaborar.
Uma das etapas da cooperação internacional é a avaliação anual da situação de todos os países que integram a Rede Iberoamericana de Bancos de Leite Humano no que se refere ao seu funcionamento. Isso se faz por meio de visita técnica, preenchimento de relatório específico e também da avaliação do registro de dados de produção mensal que todos os BLH integrantes desta rede devem fazer.
Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU), analisando os maiores problemas mundiais, estabeleceu 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que devem ser atingidos até 2015. "Trabalhar com o aleitamento materno possibilita atingir o 4º Objetivo do Milênio, que é reduzir em dois terços a mortalidade na infantil em crianças menores de cinco anos", diz a consultora.