Testes da vacina contra zika em desenvolvimento pelo Instituto Evandro Chagas e pela Universidade Medical Branch, dos Estados Unidos, devem começar a ser feitos em animais a partir de novembro. "Conseguimos acelerar o cronograma em alguns meses, em parte por causa dos ganhos na tecnologia, em parte por sorte", afirmou o diretor do instituto, Pedro Vasconcelos.
A previsão inicial era de que essa etapa fosse concluída somente em fevereiro de 2017. Se não houver problemas ao longo do caminho, avaliou, em fevereiro já será possível iniciar os testes da vacina em voluntários humanos. Os estudos em voluntários seriam feitos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Amapá, Estados que não registram até o momento a circulação do zika.
A vacina em desenvolvimento em parceria com a Universidade Medical Branch é feita a partir de partículas do vírus atenuado. A meta é fazer mutações no genoma do vírus para que ele perca a sua capacidade de produzir a doença, mas, ao mesmo tempo, seja reconhecido pelo organismo para que anticorpos sejam produzidos.
Leia mais:
75% dos fumantes de cigarro eletrônico sofrem de ansiedade, diz estudo
Crise climática afeta de forma desproporcional saúde de pessoas negras e indígenas no Brasil, aponta análise
Brasil tem estabilidade de casos de dengue, mas especialistas alertam para aumento em breve
Acesso à internet pode melhorar a saúde mental de pessoas acima de 50 anos, diz estudo
Vasconcelos integra o Comitê de Emergência para Zika e Microcefalia da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na próxima reunião do grupo, programada para os dias 6 e 7, o diretor do Instituto Evandro Chagas vai apresentar uma proposta para que prazos de realização de testes das vacinas de zika sejam encurtados.
"Vivemos numa situação especial. Já houve o precedente do ebola. Podemos ser mais rápidos sem abrir mão da segurança", afirmou Vasconcelos.
Depois de testes em animais (primatas e camundongos), análises são feitas sobre efeitos da vacina em humanos. Na primeira fase, é avaliada a segurança do produto. Geralmente, é feita em cerca de 300 voluntários, todos saudáveis, que residam em regiões sem a circulação do vírus. Essa etapa costuma levar cerca de um ano. Vasconcelos vai sugerir que o prazo seja reduzido para um período que varie entre 3 e 6 meses.
Na fase dois, o objetivo é avaliar a capacidade de a vacina produzir a imunidade no organismo. Nesta etapa, o teste é feito geralmente em cerca de 2 mil pessoas. Os efeitos são avaliados por um período de até dois anos. Vasconcelos vai sugerir que a análise seja feita em um prazo que varie entre seis meses e um ano.
"Se o imunizante mostrar-se capaz de neutralizar a ação do vírus selvagem por esse período, há grandes chances de que isso valha para um prazo mais longo", completou o diretor do Evandro Chagas.
Na terceira fase, em que se analisa a eficácia da vacina, são testadas cerca de 30 mil pessoas. O tempo desta etapa, afirmou, também pode ser reduzido de forma significativa. "Se conseguirmos sensibilizar a OMS, acredito que a vacina poderá estar disponível num prazo de cinco anos", disse. "Se há alguns anos fizéssemos uma proposta como essa, seríamos criticados. Mas, com tecnologia atual, é possível cumprir esse prazo, com segurança."
A vacina desenvolvida pelo Instituto Evandro Chagas do Pará e pela Universidade Medical Branch tem como público alvo mulheres em idade fértil, que não estejam grávidas. O projeto prevê a aplicação de uma dose. Um outro imunizante está em fase sendo desenvolvido também, que poderia ser usado por gestantes. Este, no entanto, não é feito com vírus atenuado, mas com DNA recombinante.